"A Ascensão de River Phoenix": Chicago Tribune/1988 [Parte 2]

Phoenix está muito mais feliz com seu trabalho em O Peso de Um Passado (Running on Empty), no qual ele interpreta o filho de radicais dos anos 60 que bombardearam uma fábrica de napalm, acidentalmente paralisando e cegando o zelador.

"O filme começa quando eu tenho 17 anos, e ainda vivo de forma subterrânea com os meus pais, que são fugitivos da justiça", explica ele. "Mas eu estou cansado de viver essa mentira, e tudo isso chega a um ponto crítico quando eu encontro alguém e abro o meu passado, pela primeira vez."

"Trabalhar com o diretor Sidney Lumet foi uma educação real, porque ele sabe exatamente o que ele quer, e ele me ajudou muito tecnicamente, especialmente quanto a estar consciente da câmera e de todos os seus movimentos sem ser autoconsciente. Esse é a parte complicada, e eu sinto que eu provavelmente estava exatamente demasiado autoconsciente em Jimmy Reardon.  Não era orgânico o suficiente, eu não sinto que eu realmente estava no personagem. Claro, talvez você possa ir longe demais na outra direção. Eu acho que isso aconteceu com Conta Comigo (Stand By Me)."

"Nós ficamos nas locações por cinco meses, e eu realmente vivi a história do começo ao fim - a tal ponto que eu estava um bagaço no final das filmagens. Foi muito confuso, especialmente nessa idade, e crescer e se encontrar é difícil de qualquer maneira."

Phoenix faz uma pausa e acrescenta espontaneamente, "A verdade é que me identifiquei tanto com o papel de Chris Chambers que, se eu não tivesse minha família para voltar depois das filmagens, eu iria provavelmente ter que ver um psiquiatra."
 

Phoenix parece tão seguro de si quando se discute sua carreira e performances que é fácil esquecer que ele é ainda um adolescente e que sua família ainda funciona como uma rocha de estabilidade nas águas infestadas de tubarões de Hollywood. (Seus pais são seus empresários, e sua mãe e duas irmãs estavam ao seu lado durante a entrevista.)

Ironicamente, no entanto, o clã Phoenix na vida real parece ter uma semelhança impressionante com os desajustados ficcionais de A Costa do Mosquito (The Mosquito Coast).

Apesar de River ter nascido em Oregon por parto natural (e recebido o nome do Rio da Vida de Siddartha de Herman Hesse), ele passou a maior parte de sua infância, junto com as irmãs Rainbown, Liberty e Summer e seu irmão Leaf, vagando pelas cidades e povoados da América Central e do Sul, onde seus pais itinerantes, John e Arlyn Phoenix (o sobrenome foi adotado), eram missionários para uma organização chamada os Meninos de Deus.

"Foi uma infância muito interessante, com um tipo de existência dia-a-dia, que não mudou muito ", diz Phoenix." Meus pais não estão mais praticando como missionários, mas eles ainda são muito leais ao seu código de ética, e todos nós tentamos viver da mesma maneira."

Isso inclui ser vegetarianos radicais - "nós nem sequer tocamos em peixe, leite ou ovos" e manter um estilo de vida que ignora os impulsos habituais em direção a uma casa permanente com alguns pertences.

"Nós temos uma espécie de base na Flórida, no momento, mas vivemos muito na estrada, entre acampamentos e casas alugadas", explica Phoenix, cujo caminhão "é usado por todos, juntamente com a nossa motor home, que tem realmente nos ajudado muito."

De fato, o estilo de vida de Phoenix parece ser tão anti-materialista que River timidamente menciona a aquisição de um novo "item de luxo" (uma câmera de vídeo), e como ele salvou como prêmio para si mesmo, uma guitarra de 650 dólares na qual ele escreve "folk-rock progressista, etéreo", como os primeiros e únicos frutos do seu sucesso.

Por causa de tal educação incomum e do rigoroso código de valores, Phoenix - e sua família - são muito conscientes das contradições e tentações que têm pela frente agora que ele é uma inquestionável estrela de Hollywood.

"Meu pai está muito preocupado que todos nós (Leaf e Summer estrelaram Russkies e Rainbow apareceu em Maid to Order) possamos ser arruinados por esse negócio", admite Phoenix, mergulhando os dedos dos pés profundamente no tapete de pelúcia. "Ele não quer que nos tornemos materialistas e percamos tudo o que nós crescemos acreditando. De certa forma, ele está quase a um ponto em sua vida onde ele poderia simplesmente largar tudo outra vez e viver numa fazenda e se aproximar da terra." 

A idéia, obviamente, atrai o menino em River, que sustenta que não tem planos de fazer outro filme agora e que admite ter "um sentimento de alívio" quando ele deixa o ambiente de estufa de Hollywood com sua rodada interminável de reuniões, almoços de poder e festas de publicidade. "É como perder uma pele", ele sorri.

Mas como, obviamente, o ator River está igualmente viciado pelo negócio real de Hollywood, o negócio de fazer filmes, ele simplesmente não consegue andar longe disso. Ainda não, de qualquer maneira.

"Isso é o que eu tenho estado explicando ao meu pai", ele suspira. "Há uma parte de mim que quer se afastar de tudo isso e parar de pensar sobre mim e minha carreira e que filme eu deveria fazer em seguida. Mas eu também tenho que me realizar e me esforçar e descobrir exatamente o que eu sou realmente capaz de fazer."

"Basicamente, sou muito aberto sobre a minha carreira agora, e eu não tenho medo de rejeição", afirma confiante. "Eu ficaria feliz em sair enquanto eu estou vencendo, talvez até mesmo ir para a selva como Ally Fox por um tempo, e apenas viver da terra".

River Phoenix, o garoto aventureiro, nômade, parece falar sério. Mas só por um momento. Em seguida, River Phoenix, o ator, responsável e comprometido com um contrato para dois filmes da Columbia, não pode deixar de se preocupar com seu próximo passo na carreira. "Tenho certeza que muitos críticos e pessoas estão desapontadas com algumas das escolhas que fiz desde Conta Comigo (Stand By Me), mas é uma coisa difícil de lidar, e a única coisa que você pode fazer é se concentrar em seu trabalho e aprender e arriscar", acrescenta. "Eu só não quero optar pelo seguro."

 
Ele não precisa se preocupar. Quer ele caia fora ou continue a fazer filmes, este sensível e talentoso ator,  provavelmente, jamais optará pelo seguro.

Fonte: Chicago Tribune, em março de 1988