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sexta-feira, 31 de maio de 2013

"River Relembrado" por Peter Bogdanovich: Première/2001 [Parte 3]

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PARTE 3:
 
Por Peter Bogdanovich,


Nossa filmagem se estendeu pelas festas do Natal e do Ano Novo. Todo mundo ficou doente. Tivemos de tirar quatro dias de licença por que River pegou uma gripe desagradável. Ele me ligou, preocupado, dizendo que ele viria se eu quisesse. Eu disse, "Você está brincando, eu posso ter uma pausa, também. Assim, todos podem ter." O estúdio mandaria um médico para examiná-lo, certificando-se de que ele estava realmente doente, e a seguradora cobriria os custos. River disse que, se eu tinha certeza disso, tudo bem, porque, mesmo com febre, ele viria por mim. Eu disse, "Por mim, fique em casa." Nós estávamos filmando durante as noites, o que também é especialmente desgastante, virando o relógio biológico de todos de cabeça para baixo. Pior, uma das nossas principais instalações era o do Disney Ranch nas selvas da LA, onde era especialmente frio à noite.

River mencionou que ele não gostava muito de LA, que ela era uma má influência para ele. Algumas vezes, alguns de seus amigos músicos de rock vinham para o set para visitá-lo e ficar em seu trailer um pouco. Em uma dessas ocasiões, notei que River parecia indeciso e estranhamente quieto em sua intensidade.

Era uma cena difícil: à noite, em frente a um hospital, Samantha fala a River da morte de seu amado pai. Como ator, a preferência de River era de nunca fazer um momento, em qualquer cena, exatamente da mesma maneira duas vezes. Se eu dizia: "Isso foi ótimo, faça de novo assim." River respondia: "Você já tem isso dessa forma, deixe-me tentar algo diferente." A maioria dos atores tende a se ater a uma abordagem em uma cena ou uma fala, por isso era incomum ver as muitas vezes completamente diferentes maneiras que River poderia interpretar um momento. Isso também alimentou as suspeitas de abuso de drogas: ele está instável, ele está estranho, ele está inconsistente. 

Uma vez que estávamos escrevendo este filme à medida que avançávamos, filmando fora de seqüência, certas reações tinham de ser filmadas de várias maneiras para que pudéssemos decidir mais tarde, quando o trabalho fosse editado, qual era mais adequado ao personagem. Nós acabamos usando a tomada "mais direta", como se viu, do que eu pensava que poderia acontecer, mas River e eu queríamos opções para ajudar a refinar seu personagem. 

No entanto, naquela noite em frente ao hospital, eu achei que River provavelmente tinha tomado alguma coisa. Ele disse, na época, que ainda estava usando suas remédios para a gripe, mas depois, quando as filmagens terminaram, ele admitiu ter estado um pouco alto (ele não disse com quê) e ter tido, como resultado, um dos seus momentos mais transcendentais na atuação. Certamente ele está cheio de dor, intenso, empático e fascinante nesta seqüência, mas levou mais tempo para terminar do que deveria, e parte da cena envolvia dois ou três trechos de uma música de River que ele ainda estava compondo. Os produtores no set (e, posteriormente, alguns dos executivos no estúdio) ficaram muito incomodados por aquela noite. Isto se tornou o golpe de misericórdia para eles com River: na verdade, não houve problemas reais, e o seu cantar, em grande parte filmado ao vivo, saiu maravilhosamente. Ainda assim, muitos se voltaram de forma definitiva contra ele. 




Tendo se tornado um pouco 'cidadãos de segunda classe' para o estúdio, não havia festa de encerramento programada pelos produtores, então River e Samantha decidiram dividir e bancar um pequeno clube de karaokê japonês badalado perto de Culver City. Era uma noite chuvosa, e parte do telhado do clube começou a vazar, mas isso não conseguiu baixar o astral de ninguém. O elenco e a equipe se divertiram comemorando o encerramento de um trabalho bastante exigente. 

Durante alguma música do karaokê, houve uma súbita explosão de entusiasmo sobre eu me levantar e cantar uma. River estava ao meu lado e não aceitaria um não como resposta. Eu olhei para a lista de seleções e escolhi "My Way" de Frank Sinatra. Tentei personalizar a canção com tristeza conforme ia avançando, pensando algumas vezes: "O que estou fazendo aqui?" Mas então eu olhava para baixo e via River olhando para mim com a expressão mais encorajadora e compreensiva, que eu já vi num homem. Em certo momento, havia lágrimas em seus olhos. Eu nunca vou esquecer o olhar totalmente focado de afeto incondicional no rosto de River.

Este foi o início da minha apresentação ao verdadeiro River Phoenix. Claro, ele tinha acabado de concluir a interpretação de James. Após ter deixado totalmente o personagem que ele estava interpretando, havia um entusiasmo juvenil e o sincero encanto de River. O contraste ficou especialmente perceptível alguns meses mais tarde. Depois de ir para a Flórida e, depois, para a Costa Rica para estar com sua família, River voltou a LA para fazer a dublagem dos diálogos exigida na pós-produção. Aqui estava o personagem cortante e meditativo na tela e o descalço Huck Finn [N.T. Protagonista do livro "As Aventuras de Huckleberry Finn" de Mark Twain] observando abaixo.

 A mãe de River, Heart Phoenix, o acompanhou nesta viagem e às sessões de dublagem, onde nós nos encontramos pela primeira vez. Ela tinha uma presença incrivelmente poderosa - uma natureza tranqüila e acolhedora, sensível e amorosa - de voz suave, mas intensa. O genuíno respeito de River por Heart e seu afeto um pelo outro era ao mesmo tempo evidente e completamente não-autoconsciente. Penso que talvez ele a tenha convidado para se juntar a ele em Los Angeles para ajudar a manter longe as tentações que ele sabia que não eram boas para ele. Seu tempo com a família tinha claramente o revigorado e purificado.

Refazer alguns dos diálogos de James, portanto, não era tão fácil. Ele abandonara a maior parte desse cara, e foi uma luta para recuperá-lo. Por causa de um grande erro técnico da equipe editorial da filmagem, as gravações sonoras originais de River, acidentalmente não foram utilizadas nas primeiras exibições do filme, em vez disso as duplicações mal transferidas foram ouvidas, o que gravemente distorcia seus diálogos e os tornava difícil de entender. Eu sabia que ele não tinha soado assim, quando filmamos o material, mas agora isso estava saindo mal. O decreto se tornou: refazer fala por fala de River. 

Nós passamos por isso, de forma torturante, e River não parava de dizer que no original deveria haver coisa melhor. Sempre que pedíamos que o original fosse reproduzido, soava bem agora, depois de ter sido preparado de novo pela equipe de efeitos de som. Então, por que nós estávamos refazemos? Eu disse a River que era melhor só concluir a ação feia, mas não se preocupasse, porque eu usaria as falas originais sempre que possível. River me pediu para usar todas elas, porque ele não acreditava que sua dublagem fosse muito boa - talvez mais clara, mas não tão dentro do seu personagem. Como se verificou depois, embora tenhamos regravado todos os diálogos de River, diminuindo assim os temores do estúdio, nós realmente não usamos praticamente nada disso na edição final. Tendo finalmente descoberto qual tinha sido o problema real, nós acabamos usando todas as faixas originais, embora nós nunca tenhamos contado isso a  ninguém, e ninguém nunca reclamou novamente. 

A primeira vez que River viu o filme foi em uma exibição do material bruto (não editado) no cinema do estúdio. Ele estava empolgado com ele - um pouco crítico da edição das músicas e querendo abordar isso comigo com mais cuidado (ele estava certo), mas extremamente elogioso do trabalho em geral. Durante a seqüência no Disney Ranch - uma lua cheia - o baile - por insistência de River, eu tinha montado um cavalo em uma cena extremamente longa que fizemos. Quando isso apareceu na exibição, River gritou em voz alta: "Esse é o Peter no cavalo!" Ele era um garoto tão exuberante, amoroso.




Um ou dois dias depois, River e Sam, Dermot e sua esposa talentosa, Catherine Keener e Anthony Clark vieram todos  à minha casa em Beverly Hills para ver uma fita do filme de John Ford de 1940, As Vinhas da Ira. River tinha me ouvido falar sobre o filme e o desempenho de Henry Fonda, e estava ansioso para vê-lo. Ele não tinha visto muitos filmes mais antigos, ele disse, e sentia vergonha de sua ignorância da história do cinema. As reações de River para o filme foram muito puras, e não complicadas pelo conhecimento de qualquer romance de John Steinbeck ou muita coisa sobre John Ford. Ele ficou profundamente impressionado com as trevas da Okies real na história da Depressão, pela impressionante fotografia em preto-e-branco, e pelo brilho transfixante da interpretação de  Henry Fonda de Tom Joad.

Enquanto isso, o estúdio estava em conflito sobre como vender o nosso filme e qual deveria ser o formato final. Houve uma série de exibições, todas com reações loucamente divergentes, e nenhuma indicando um sucesso sólido. Cortes foram solicitados e discutiram sobre o que fazer (ou não fazer).  O comprometimento reinava. O departamento de música foi fragmentado em cerca de três facções, cada uma puxando para diferentes músicas estar na trilha, sobre os títulos principais ou finais, e no álbum da trilha sonora.

As pessoas da publicidade e do marketing tiveram várias ideias fantásticas para o cartaz, mas, de alguma forma, acabamos com a pior, não usando nem River, nem Dermot, mas Samantha, numa tentativa hesitante de vendê-lo como um filme sobre uma jovem mulher. Quando River viu este cartaz, ele só parabenizou Samantha. Mas eu sabia que ele estava ferido.


O filme que foi lançado não foi a filmagem que fizemos, cerca de 90 por cento sobreviveu, e às vezes 10 por cento pode fazer a diferença entre o sucesso ou o fracasso, a mediocridade ou a qualidade duradoura. Algum dia eu espero que a versão de The Thing Called Love que River e eu realmente fizemos possa ser vista, ela era simplesmente muito melhor e mais incomum. 

A decisão final sobre a distribuição acabou sendo desastrosa, liberando o filme pela primeira vez no Sul e no Oeste como um filme de música country, quando, na verdade, era mais próximo de um filme de arte. Na verdade, este era o problema: o filme caiu entre duas cadeiras e acabou no chão. River, Sam, Dermot, Sandy, e eu, todos aparecemos em Dallas para a coletiva de publicidade que antecedeu o lançamento do filme. River brilhou em suas numerosas entrevistas na TV e imprensa, numa espécie de intensidade, tipo o estado de James. Este não era o seu trabalho favorito, a venda e promoção de um filme, mas ele tinha um espírito esportivo.

Continua...

Fonte: Première, em janeiro de 2001 

sábado, 25 de maio de 2013

"River Relembrado" por Peter Bogdanovich: Première/2001 [Parte 2]




PARTE 2:
 
Por Peter Bogdanovich,

Eu disse a River o conselho de Stella Adler sobre não interpretar o papel o tempo todo. River disse que ele fazia isso inconscientemente, e não chegava a perceber o que estava fazendo. Eu disse que nem o estúdio nem eu queríamos que James fosse um drogado. River assentiu com a cabeça e disse, no entanto, que o personagem tinha definitivamente "usado drogas"- elas "o deixaram irritável", o fizeram "um pouquinho de um canalha." Eu concordei em princípio, mas como não tinha qualquer cena de consumo de drogas, isso teria que ser um elemento menor.  River disse que não precisava de nenhuma cena, ele só tinha que saber o tipo de pessoa com que ele estava lidando. Ele próprio não tinha "um problema com drogas", disse-me River, levemente - ele estava apenas entrando no personagem. Eu disse a ele para não focar nesse aspecto do cara.  River concordou e disse que estava arrependido. 'Isso só não deve acontecer de novo', eu disse. Ele prometeu que não o faria. Nós nos abraçamos. Pelo meu conhecimento, com exceção de certa noite de retorno a Los Angeles alguns meses depois,  River manteve a sua promessa. Ele não me causou nenhum outro problema durante toda a filmagem.

No entanto, a conversa sobre o que tinha acontecido imediatamente foi parar em Hollywood, e uma atitude de "culpado-até-que-se-prove-inocente" em relação a River começou a se firmar. A ironia é que, quanto mais brilhantemente convincente River era ao interpretar um talentoso cantor e compositor, egocêntrico, às vezes auto-destrutivo, arrogante, experiente em drogas, mais as pessoas acreditavam que esse era River.  Ele estava atuando de forma estranha, eles diziam, ele estava usando alguma coisa, estava sendo antipático e estranho. Claro, ele nunca tinha interpretado nada nem remotamente parecido com isto - perigoso, excêntrico, inteligente e machão, e algumas pessoas pensaram que era isso que River tinha se tornado. Pelo contrário, ele estava de forma consciente e tão organicamente quanto possível atuando como um homem cinco ou seis anos mais velho do que ele mesmo, um personagem que tinha sofrido mais que muitos experiências o amargurando ou envelhecendo. 

Na primeira noite, por alguns momentos, ele tinha atuado como mais jovem do que sua idade, mas na maior parte do tempo River parecia consideravelmente mais velho do que seus anos reais. De volta a Hollywood, a preocupação com River aumentou a tal ponto que Iris Burton foi mandada para ver o seu cliente. Ela chegou, ficou um dia ou dois, tempo suficiente para ver que ele estava bem e que as coisas estavam indo bem e, foi embora, um pouco perplexa quanto às razões pelas quais haviam quaisquer preocupações.

Embora as mudanças administrativas no estúdio tenha deixado órfão nosso projeto, estávamos bem além do ponto de retorno, ficar em cima do roteiro à medida que avançávamos só se tornou mais determinado. Os atores principais (River Samantha, Dermot e Sandra Bullock) estavam profundamente envolvidos e apreciando o processo. Nós nos reuníamos após filmar ou durante os intervalos de trabalho e trabalhávamos nas próximas cenas, alterando falas e situações, chegando com boas ideias - River mais que qualquer um, e muitas vezes suas ideias eram para os outros. Descobrimos que Sandy Bullock era uma comediante brilhante, de modo que nós construimos seu papel. O desempenho resultante a ajudou a conseguir o seu papel em Velocidade Máxima (1994). 




Nossa roteirista (Carol Heikkinen) era uma estreante, e com a bênção do estúdio, trouxemos Allan Moyle, com quem Samantha tinha trabalhado em Pump Up The Volume (1990). Eu não tinha visto esse filme, mas Samantha achava que ele era excelente, por isso eu disse para trazê-lo. E Allan, que não poderia ter sido mais discreto e pronto apenas "para ajudar, não para interferir", acabou por ser de grande ajuda em juntar todas as nossas ideias em cenas que poderiam então ser reescritas mais uma vez. River instigava Allan, por vezes, como uma espécie de brincadeira do personagem, eu supus, que me parecia uma brincadeira bem-humorada e Allan sempre parecia estar se divertindo. "Não, Allan, não essa fala! Jesus!" Allan e eu discutimos isso: os instintos de River eram infalíveis quanto ao que iria funcionar e o que não o faria.
 
Conforme cada cena se aproximava, ela seria revista ou refinada até que todos os atores e eu estivéssemos felizes com isso - o que, por vezes, não era senão pouco antes da câmera ser ligada. Certamente, os atores tiveram que estar alertas para continuar reaprendendo falas, muitas vezes recebendo elas no último momento. Uma dificuldade adicional para eles foi que eu senti que um bom número de cenas de diálogos longos deveriam ser filmadas direto, sem cortes, seja com a câmera parada ou em movimento.
 

Quando River e eu estávamos sozinhos em uma tarde, falando sobre uma cena futura, eu disse a ele que minha preferência era por filmar a seqüência inteira de uma só vez, sem outros ângulos. "Sem cobertura?" River ficou muito animado quando eu disse que se nós fizemos toda a cena em um longo pedaço que funcionasse, não haveria nenhuma razão para "cobrir" com outras filmagens. Ele disse que achava que isso era ótimo. Alguns dos melhores atores com quem já trabalhei preferem esta técnica, não apenas pelo desafio de sustentar toda uma cena em um movimento (como no palco, depois que a cortina sobe), mas também pelo frescor. A típica rotina de um ator de cinema é repetir várias vezes cada fala, nunca sabendo qual ângulo será utilizado para qual momento, tentando manter o frescor em cada tomada - uma tarefa impossível.

River disse que Sidney Lumet não tinha filmado cobertura e fazia numerosas tomadas longas nas filmagens de O Peso de Um Passado (1988), apesar de terem ensaiado por um tempo, um luxo que, infelizmente, nós nunca tivemos. River tornou-se tão apaixonado pela "one-ers", como equipes de cinema chamam este tipo de filmagem mestre abrangente, que ele iria me perguntar em cada seqüência se podíamos "fazer tudo em um." Se eu dizia que não, que não era apropriado para a cena ou tecnicamente possível, ele iria pressionar por isso de qualquer jeito, até eu rir e dizer que eu ficava muito triste, mas não iria funcionar aqui. Se eu dizia que sim, ele ficava em êxtase.

Esse tipo de atuação em filme exige disciplina e experiência. River não teria conseguido fazer seqüência após seqüência desta forma se ele tivesse tomando drogas. Sim, ele estava atuando de forma diferente do que ninguém jamais o tinha visto atuar, mas era a primeira vez que ele estava interpretando um papel romântico adulto e um personagem que tinha estado por aí há um pedaço, certamente, não um caipira sulista. Na verdade, nós acrescentamos uma série de comentários intelectuais para River, que eu sugeria ou River pedia, o que ajudou a definir o seu personagem como um leitor e pensador, e não simplesmente um artista instintivo. Finalmente, alguns desses momentos acabaram sendo eliminados e o papel de River foi assim diminuído - não se poderia compreender o personagem também. River adorava qualquer tipo de informação misteriosa e quando eu falava alguma coisa desse tipo, ele sempre queria de alguma forma encaixar isso no filme. Muitas vezes, eu  fiz isso.



Nossa história era essencialmente um triângulo em que os dois rapazes,  River e Dermot, estavam ambos apaixonados por Samantha, e que ela está inclinada romanticamente para River, e sente mais amizade pelo Dermot. Este triângulo particular (dois homens, uma mulher) é a mais antiga história conhecida. Discutindo isso com River, decidimos acrescentar uma cena para mostrar a autoconsciência atingida pelo seu personagem e a capacidade de observar sua própria situação com objetividade históricaIsso tornou-se uma cena de reconciliação entre Dermot e River  - eles tinham lutado verbal e mais fisicamente por Samantha, em que River põe seu relacionamento em perspectiva, descrevendo como "o Rei Verde e o Rei Vermelho" matavam um ao outro anualmente pelas " afeições da Dama de Branco", e que este ano, por Samantha, ambos tinham "chutado o balde." Foi uma cena que River especialmente gostou  e que ele e Dermot interpretaram com bela simplicidade e graça.
 
A profunda compreensão de River dessa situação reflete seus próprios relacionamentos, muitas vezes dolorosos, com as mulheres que ele amou e que o tinham amado. Eu não conhecia ela, a jovem com quem ele estava pouco antes de nós começamos a preparar a nossa filmagem. Mas a primeira noite que passamos juntos, ele me contou sobre o desespero que sentiu por ter acabado de saber por ela que ela tinha sido infiel. Claro, ele disse, ele tinha sido infiel a ela, e ela sabia disso - mas o contrário realmente o incomodava. Ele prosseguiu, no entanto, justificando o comportamento dela, vendo isso do ponto de vista dela, de como ela estava protegendo a si mesma da dor de seus atos. Eu não disse muito, e River expôs seus sentimentos ambivalentes de uma forma muito madura.



Eu não sabia o quanto River estava realmente atraído por Sam até que estávamos prestes a filmar o primeiro beijo de River e Samantha no filme. Era uma cena noturna. River estava dirigindo sua caminhonete com Samantha ao lado dele, para em seu hotel, dá um beijo de boa noite nela, e, depois ela pula para fora, fugindo.

Acho que fizemos cerca de sete tomadas. Não me lembro com certeza de qual beijo foi parar no filme, mas tenho a sensação de que foi a primeira ou a segunda tomada. Houve um calor intenso em todas as sete. Samantha conseguiu manter uma bonita aparência impassível, profissional, entre as tomadas, enquanto River pedia em voz alta "uma outra - é preciso outra, você não acha, Peter?" Samantha ria.

Enquanto a primeira tomada estava sendo iluminada, River e eu ficamos conversando sobre que tipo de beijo deveria ser aquele. River começou por dizer que esperava que eu tivesse muito filme na câmera, porque ia ser um longo beijo. Ele estava sorrindo maliciosamente. "Oh, sim!", ele disse, ele estava esperando por essa cena. E então ele continuou - no sotaque sofisticado de garoto-country de James a listar o que mais ele gostaria de fazer com Samantha. Na maior parte, ele prosseguiu dizendo todos os lugares em que ele gostaria de beijá-la.

Ele era metade James, metade River quando ele disse que Samantha estava deixando-o louco. Ela tinha um namorado em Nova York (o ator John Leguizamo), e apesar de River sentir que Samantha gostava dele, ela estava sempre falando de John, e ele não se sentia bem se impondo para ela. Mas certamente ele iria beijá-la hoje à noite!

River e Samantha se tornaram mais próximos depois disso. Não muito mais tarde, John Leguizamo veio visitá-la, mas ficou apenas um dia. Samantha terminou seu relacionamento, e ela e River se tornaram oficialmente um casal. Eles eram adoráveis juntos, e ele a tratava com o maior respeito, ternura e humor, e sem um pingo de competitividade. Sua proximidade na vida ajudou imensamente a aprofundar suas interações em suas longas cenas juntos.    

Continua...
 
Fonte: Première, em janeiro de 2001