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quinta-feira, 12 de abril de 2012

Entrevista com River Phoenix e Gus Van Sant: The Face/1992 [Parte 3]

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Pergunto a River se ele foi pressionado pelos seus conselheiros a não participar.

"Eu só tenho duas pessoas me dando qualquer tipo de conselho importante, nos quais eu estou interessado, que é minha mãe e meu pai", ele responde. "Minha agente cuida do negócio. Claro que ela tem investido emoção, mas a decisão cabe completamente a mim. Achei que o roteiro era muito inovador na forma como cortava através do tempo e do espaço. Eu pensei que tinha um tempo surreal, que é muito difícil de encontrar no cinema atual e isso faz com que seja muito moderno, e eu quero fazer coisas assim. Tudo o que eu pensei foi no roteiro depois que eu o li. Eu não conseguia tirá-lo da minha cabeça."

"Isso foi muito interessante", exclama Gus, "você poderia dizer como a sua reação foi muito, muito ..."

"Honesta", diz River.

"Intensa", diz Gus. "Foi uma reação intensa que era o que eu estava muito interessado em ter. Foi algo que eu realmente gostei. Eu estava oferecendo o roteiro, e ter apoio foi realmente ótimo."

"Você nunca me disse isso antes", diz River.

"Porque todo mundo estava dizendo coisas como ...", começa Gus.

"Louco filho da puta," River irrompe em um rap. "Louco filho da puta chamado Ice Cube."

"... nós gostamos dele, mas nunca poderíamos fazer isso", conclui Gus.

"Explode, Hollywood queima. Posso sentir o cheiro de uma rebelião nas ruas. Explosão após explosao. Obrigado, Roger", diz River, quando um dos caras silenciosos acaba de colocar dois Marlboro Lights na mesa do café em frente a ele. "Uma vez que você ultrapassou essa camada onde as pessoas tentam te cortar na passagem, abrindo carreira, uma vez que você passa por isso, você está conectado. Você está falando por telefone e, basicamente, todas as ligações desaparecem. Eu tinha este telefone número do código de área 503 [Portland], e ele tinha o meu código de área 904 [Florida]. Então, nós éramos apenas pessoas."

River repentinamente se lembra de que seus amigos do Red Hot Chili Peppers (Flea interpreta um menino de rua no filme), estão prestes a ser entrevistados ao vivo em uma estação de rock local, e pega o controle do rádio no canto. Ele mexe nos botões e Midnight Oil explode. "Esta é a melhor música", exclama River. "Quando eu estava fazendo A Costa do Mosquito, em Belize, eu gravei isto do rádio."

Conforme River começa a cantar junto, pergunto a Gus se isso é alguma coisa como o "caos criativo" que eu soube que ele gosta de ter em seus sets para promover a espontaneidade.

"Não, isto não é como o caos do negócio. Este é um caos destrutivo", diz ele, soando um pouco chateado.

"Isto é?" pergunta River. "OK, eu vou desligar o rádio. Desculpe."

Eu começo a perguntar a Gus uma série de questões sobre sua vida pessoal. "Eu não respondo perguntas gays porque depois sai tudo deformado," diz ele. "Eu fico muito irritado."

Quando eu menciono uma anedota de infância divertida de uma recente entrevista na revista para gays americanos "The Advocate", relatando a descoberta de sua orientação sexual, Gus insiste que não é verdade, que ele disse ao entrevistador para fazer alguma coisa porque ele não conseguia pensar em nada engraçado para dizer.

River sente o desconforto de Gus ou meu constrangimento, e vem para o resgate. "A mesma coisa eu faço", diz ele, voltando para o sofá. "Eu planto iscas o tempo todo na imprensa para desviá-los completamente da minha vida privada porque, é claro, eles querem entrar na minha vida privada e dizer: 'Posso ter uma entrevista em sua casa?' Então você tem que fazer o jogo e a atmosfera e fazer o que você faz melhor, que é (aponta para Gus) dirigir, ou no meu caso, atuar, e você apenas dar a eles algo que é divertido ... É uma boa maneira de refletir a idiotice de tudo."




Começa a ficar claro por que Gus permitiu a River reescrever uma cena crucial
da fogueira no meio caminho no seu filme - ele estava apenas confiando em sua alma gêmea para completar mais uma das suas frases. Na cena reescrita, River esclarece a sexualidade de seu personagem fazendo com que Mike professe seu amor por Scott e depois peça para beijá-lo. Seu amor permanece, no entanto, não correspondido, enquanto Scott logo se apaixona por uma jovem camponesa que ele conhece na Itália. Ainda assim, River fez o que cinema comercial americano não tentava há uma década: ter um homem professando seu amor por outro. No processo, ele deu ao filme uma agenda política que Gus não tinha previsto. Por que você deixaria um ator ir adiante com isso? Eu pergunto a ele.

"Eu nunca tive um ator querendo com tanta vontade reescrever uma cena", responde Gus. "Então eu disse, tudo bem. Eles eram muito mais confuso antes. Isso é o que ele queria fazer."

Acrescenta River: "Meus motivos eram apenas que me senti muito próximo do personagem, que eu entendi o script. Gus compartilhou tanto conhecimento profundo sobre as necessidades do roteiro que eu só quis expressar isso. Eu senti que a cena era uma esquina agradável no tempo para melhor representar Mike e Scott. Era um momento em que o personagem poderia falar abertamente e eles poderiam se aproximar de si mesmos."

"Isso não foi político em nada?" pergunta Gus.

"Bem, não. Foi muito pessoal", diz River. "A política vem do processo de visualização. Nada é sempre político, se é genuíno. Na reação, sim, pode ser político. Mas os motivos foram completamente baseados em uma profunda necessidade de comunicar e compartilhar informações." Mas o público vai torná-lo político, eu ofereço.

"Bem, eles deveriam", responde River. "Fico feliz em saber que você acha que eles vão. A linguagem cinematográfica evoluiu o suficiente para que você deva levar as pessoas a interagir com o filme. É emocionante para nós exibi-lo, e é emocionante para as pessoas assisti-lo ... Eu acho que é muito importante para a comunidade gay ter personagens aleatórios que representam nada mais do que pessoas ... acho que é parte de uma onda que vai criar um precedente de algum tipo, de modo que você não precisará mais de um rótulo."

Em seguida, puxando para cima a perna da calça para chegar a um comichão, ele desaparece atrás de outro esfumaçado non sequitur [N.T. argumento em que não há ligação entre a premissa inicial e a conclusão]: "Você notou as barbas em meus joelhos?"


Fonte: The Face, em março de 1992

13 comentários:

  1. Será que River era inteligente?

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    1. Ele é incrível, né?... Acho que muita gente da imprensa nem entendia o que ele estava falando!..kkk..

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  2. Imagina a cara do repórter quando o River ligou o rádio e começou a cantar no meio da entrevista. Demonstrando total falta de interesse em saber o que ele estava falando. Me fez lembrar a cena em stand by me em que o Vern tenta falar e os meninos começam a cantar sacaneando ele haha ...

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  3. River estava endiabrado...rs... mas apesar do espanto da repórter, também fica clara a admiração que ela terminou tendo por ele.

    Inclusive, pela beleza física dele, né? ..rs..

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  4. A repórter era mulher rsrs, eu jurava que era um homem entrevistando eles, mas como isso só fica claro na 1° parte eu já tinha esquecido. Não acredito que o River disse essas besteiras para uma mulher, ela deve ter ficado constrangida. Se fosse eu ia morrer de rir ...

    É, realmente da para ver a admiração dela por ele. Só se ela fosse louca para não ficar admirada pela beleza física dele ou cega rsrsrs

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  5. River conseguia ser ainda mais bonito por dentro... Mas já percebi que se ele fosse feio fisicamente este blog não existiria...

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    1. E eu já percebi que você JAMAIS conseguiu alcançar e entender o que River realmente significa para seus fãs... é uma pena, para você mesmo.

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    2. Meu Deus, com quais bases você está afirmando isso?
      Sou homem, o que realmente procuro aqui?
      River pode mesmo significar muito pra você, mas a maioria é fútil.

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    3. Se você realmente soubesse o quanto River é amado para além de sua beleza, pelo seu espírito livre, seus valores éticos, sua generosidade, seu talento indiscutível, você nunca faria uma afirmação dessas.

      River era inteligente, talentoso, profundo e generoso. Ser (muito) bonito era apenas um detalhe.

      Eu não tenho palavras para expressar o tanto que ele representou na minha vida, e o quanto ele me deu, generosamente, só por ter existido um dia neste mundinho fútil.

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    4. a beleza era um plus a mais adicional, e por isso dizemos que ele era *perfeito*. Gosto de muita gente que não é bonita,mas são enormes de coração e outras qualidades... mas a beleza ajuda tb né hehe :P

      desde que conheci River acho que mudei muito,e cada vez mais quero aprender com a historia dele!Eu leria raras biografias (acho muito chato e não me convém) mas a dele eu quero!!!

      e outra coisa,o fato de ter ideais parecidos com os dele (antes de eu conhece-lo),e de saber que há gente assim,e saber que ele era importante me faz sentir alguem com fundamento :P

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  6. Eu não sou fã do River, mas admiro muito ele pela pessoa que ele era e pelo seu talento como ator. Eu nunca iria admirar ele, muito menos ser sua fã (ou de qualquer outra pessoa) se ele fosse um mau caráter independente de sua aparência.

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  7. Hermione Granger disse: "Desculpe, mas eu não gosto de pessoas só por que elas são bonitas."
    Dizer que as pessoas que acompanham o Riv depois de tantos anos que ele partiu é por causa da beleza física dele, chega a ser ofensivo e totalmente incoerente...mas enfim, deixa pra lá.

    De fato, o Riv estava muito danado e divertido. E aposto que se ele estivesse conosco, com certeza já estava produzindo e dirigindo. Fico imaginando ele e o Joaquin trabalhando juntos ... dois gigantes.

    Obrigada Femme =)

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