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domingo, 8 de abril de 2012

Entrevista com River Phoenix e Gus Van Sant: The Face/1992 [Parte 2]

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Quando River retorna da divagação um pouco mais tarde, eu pergunto sobre todas as fofocas circulando em Hollywood sobre drogas e festas no set de My Own Private Idaho. Surpreendentemente, é River que protetoramente opta por silenciar os rumores, enquanto Gus aproveita a oportunidade para avançar um pouco na teoria que ele vem desenvolvendo.

River: Claro, eles farão fofocas. No filme, você tem drogas. É como no set de Robin Hood. 'Oh, eu ouvi que eles tinham muitos arcos e flechas. Kevin Costner, isso é verdade? Não é minha culpa, eu não queria isso no set, foi o pessoal do apoio que exigiu.'

Gus: O pessoal do apoio geralmente tem as drogas. Você sabia desse pequeno detalhe? E, então as drogas avançam para drogas drogas em vez de apenas aspirina. Por alguma razão, o pessoal do apoio tem que ter tudo que você precisa ter.

River: Os chefes do apoio são mais ansiosos pelo realismo dos acessórios - "isso corresponde a cocaína verdadeira?"

Gus: Eu não acho que isso seja assim.

River: Eu estou fazendo piada. Eu estou brincando.

Gus: Eles também têm um monte de gavetas e coisas. Muitos lugares para esconder coisas. Mas eles realmente tem um monte de coisas. Desde anéis de crânio ...

River: Até vaginas de plástico.

Gus: Tudo o que eles poderiam imaginar. Porque eles estão sempre precisando de alguma coisa no último minuto. O ator vai dizer que precisa de um ...

River: (risos) Orgasmo.

Gus: Um cachimbo, e eles terão um cachimbo. Então eles dizem que eu preciso de algum haxixe, não. Eu não sei por que o pessoal do apoio tem drogas, mas eles têm. Nem todas as pessoas do apoio.

River: Eu acho que ele está brincando.

Gus: Quero dizer, se você estivesse no set e precisasse de alguma coisa como ...

River: Tylenol, que é uma droga, o chefe do apoio tem. Se você precisar de um pouco de creme anti-coceira para a sua podridão na virilha, o chefe do apoio tem.

Gus: Se você estivesse no set e você tivesse uma hora para encontrar um separador de ácido, eu correria para o pessoal do apoio. Eu não iria para o produtor ou o diretor ou os atores. Você acha que iria na sala de cabeleireiro, porque é onde a festa ocorre. Mas, na verdade. ..

JK: (Por cima do meu ombro) Como isso está associado com, ah, os outros filmes, filmes do passado em que você trabalhou?


River: Desculpe-me, desculpe-me. Agora estou limitando nossa discussão ao entrevistador. Obrigado, assistente. Balcão de ajuda, JK. Continue. Desculpe.

Gus: As pessoas do apoio lá fora que lêem isso provavelmente vão enlouquecer.

River: Devo dizer, e esta é apenas uma teoria que pode evoluir, tipo, em 2020, mas até agora as pessoas do apoio que eu conheci são defensores de revistas para pais e Como Ficar Rico Rapidamente e Antiguidades São Essenciais.

Gus: Veja, isso é interessante. Provavelmente
a minha teoria é totalmente falsa.

River: Claro, eles vão acreditar no diretor sobre o maldito, estúpido, idiota
do ator.




É um pouco irônico que Van Sant e Phoenix se sentissem obrigados a fazer um filme sobre viciados em drogas e garotos de rua já que os laços de ambos com suas famílias são fortes e confortáveis. Van Sant cresceu em uma família de classe média em Connecticut, estabelecendo-se, depois de passagens por Nova York e Los Angeles, na calmaria relativa de Portland. Aqui ele fez curtas-metragens e ganhou elogios da crítica com seu primeiro longa em 1987, Mala Noche, o filme corajoso sobre o romance gay entre um trabalhador imigrante e um balconista de uma loja de bebidas. Drugstore Cowboy, estrelado por Matt Dillon e Kelly Lynch como ladrões viciados em drogas, seguiu dois anos depois.

A história da própria família Phoenix é material para lenda. Nascido em Madras, Oregon, e nomeado em homenagem ao Rio da Vida de Siddhartha, de Hermann Hesse, ele passou seus primeiros anos viajando com sua família que trabalhava na colheita de frutas. Eles trabalharam como missionários na América do Sul para uma seita chamada "Meninos de Deus" (estranhamente semelhante ao filme A Costa do Mosquito de 1986, no qual ele interpretou o filho de Harrison Ford) e acabaram por se instalar em Los Angeles. River e sua irmã Rain foram logo fazer aquecimento para a platéia de um show infantil de TV, e aos 12 anos ele conseguiu seu primeiro papel regular atuando na kitsch série de TV Sete Noivas Para Sete Irmãos. Ele seguiu com Viagem ao Mundo dos Sonhos de Joe Dante e Stand By Me de Rob Reiner, e então, em 1988, ele foi nomeado para um Oscar de melhor ator coadjuvante por interpretar o filho de fugitivos radicais em O Peso de Um Passado, de Sidney Lumet.

River, um vegetariano e defensor da floresta, agora reside
oficialmente na fazenda da família no centro da Flórida com sua namorada Sue, que ele conheceu há três anos, depois de romper com a atriz Martha Plimpton. Ele e Rain fazem shows locais com uma banda chamada Aleka's Attic.




Apesar da universalidade do tema, Gus enfrentou uma batalha difícil para conseguir financiamento para seu filme por várias razões, além do seu flerte com a homossexualidade. Depois que Hollywood torceu o nariz coletivamente, ele conseguiu fazer a distribuição através da empresa independente Fine Line.

Embora o diretor seja aberto sobre sua própria homossexualidade, ele está desconfortável em tomar uma posição política, e quer ser conhecido como um cineasta que é gay em vez de um gay cineasta. O movimento gay nos EUA gostaria de adotá-lo como um porta-voz, mas ele mantém a distância. Por qualquer motivo, artístico, comercial ou pessoal - Van Sant, em entrevistas, é ambíguo sobre a orientação sexual dos personagens de
Reeves e Phoenix. Os espectadores, por razões discutidas a seguir, provavelmente, chegarão a uma conclusão diferente, mas ele firmemente defende que, na sua opinião, eles são "confusos" quanto à sua sexualidade.

Isso não impediu as luzes de advertência de piscarem quando Van Sant pediu à Hollywood para considerar seu script. "Levei-o para alguns estúdios", lembra ele. "Eles simplesmente se esquivaram por causa do tema em geral. Não é nem mesmo como se [Scott e Mike] fossem personagens gays, embora eles tendam a considerá-los assim. Eles são mais como os personagens de rua, cujo trabalho é ter sexo com homens." Desde que Hollywood gosta de rotular atores, os agentes e gestores geralmente são cautelosos em aconselhar os seus clientes a evitar papéis gays, temendo que eles fiquem marcados demais como "soft" quando os papéis de macho (ou seja, mais lucrativos) chegarem.


Continua...


Fonte: The Face, em março de 1992


12 comentários:

  1. River estava muito engraçado nessa entrevista, as coisas que ele falou terminando as frases do Gus foram hilárias. Aliás essa foi a maior resposta que já vi rsrs, já que o repórter só fez uma pergunta e eles fizeram um discurso inteiro. River nem parece aquele garoto tímido e "certinho" de antes, de quando tinha uns 17 anos, muito pelo contrário ele tá bem saidinho nessa entrevista.

    Obrigada por postar a matéria Femme.

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    1. Hahaha... o River estava elétrico e sem freio! :)

      E ainda falta a terceira parte!

      Beijos.

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  2. Femme

    Eu consegui umas fotos do River aqui que eu nunca tinha visto antes, são duas: uma é a foto da carteira de habilitação dele; e a outra, é uma foto da placa que colocaram no Viper Room lamentando a morte de River, mandando pêsames à família e avisando o fechamento por uma semana.

    Não sei se te interessa...
    Qualquer coisa me passa o teu msn (hahaha)
    Bj

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    1. A da carteira de motorista eu tenho, servirá pra outro post em construção. Mas não tenho esta do Viper Room.

      E meu msn não é secreto, não! ..rs.. Eu já dei a quem pediu antes.

      É femme_sol@hotmail.com

      Beijo.

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    2. Pensando bem, é mais fácil eu te passar o link. Eu vi numa página do Facebook, só resta saber se é a própria.

      https://www.facebook.com/pages/River-phoenix/170461496405767#!/pages/River-phoenix/170461496405767?sk=photos

      Bjoca

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  3. Toda vez que eu leio essa matéria eu morro de rir. Ele realmente estava sem freio nessa entrevista rsrsrs ...

    Olha a felicidade do Keanu nessa foto com o River rsrsrs

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  4. Acho que foram dias maravilhosos pra todos eles. E Keanu deve guardar as melhores lembranças desse tempo. E ele simplesmente ADORAVA River!..rs.. Que bom que foram grandes amigos. Que pena que durou tão pouco...

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  5. Com certeza! Mas acho que essas lembranças devem trazer um sentimento paradoxo para ele, felicidade pelos bons momentos vividos e tristeza por eles terem acabado,sem chance de serem vividos novamente. Mas todos nós sentimos isso ao ter lembranças boas do passado, não é?

    É realmente uma pena, acho que se River estivesse vivo eles seriam amigos até hoje.

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    1. Se River estivesse vivo o sol nasceria com mais intensidade. O mundo estaria mais feliz e melhor, principalmente o mundinho de Hollywood. Imagina quantas coisas boas ele não teria feito ao mundo?

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    2. Sim, o mundo seria um lugar melhor se ele ainda estivesse aqui. Pelo menos, o meu mundo!

      Que saudadessssssss, River...

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  6. Como diz o poeta que não sei quem é ... "Só sente saudades quem já foi feliz" ... e o Riv proporcionou uma estupenda felicidade ao mundo.

    De fato ele tava um pestinha nessa entrevista, deviam ter filmado.
    Nessa resposta ... "( risos) Orgasmo" ... será que foi uma gargalhada, queria tanto ver uma gargalhada espontânea do Riv ...deve ser mágico.

    Eles brincaram tanto nessa resposta que acho que o jornalista se arrependeu de perguntar ... hahaha

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