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Por Aljean Harmetz
Os personagens centrais do filme Stand By Me, de Rob Reiner, são meninos de 12 anos de idade, melhores amigos, que estão tropeçando em direção à adolescência em uma cidade pequena no Oregon em 1959. Quatro meninos em busca do corpo de um menino morto.
Stand By Me é um filme que foi difícil de descrever e difícil de vender. Reiner esperava poder encontrar uma pequena platéia para apreciá-lo. Ele advertiu seus roteiristas, Ray Gideon e Bruce Evans, "Não há como essa filmagem fazer sucesso, porque ninguém que foi assistir Rambo vai ver o nosso filme."
Ele estava errado. Stand By Me, que liderou todos os filmes nas bilheterias nas três primeiras semanas de setembro, é um 'dorminhoco' - um pequeno filme, de baixo custo, descartável, que se tornou um sucesso inesperado. Em particular, o público está respondendo ao que vários críticos têm chamado de elenco extraordinário atuando no papel dos quatro garotos de 11 anos - os atores de 14 anos de idade, River Phoenix, Wil Wheaton, Corey Feldman e Jerry O'Connell.
Como é que quatro garotos, que conheceram um ao outro apenas quando eles estavam competindo por papéis no cinema e televisão em um negócio narcisista e cruel, se mesclaram em um grupo que seria invejado por atores com o dobro da sua idade?
Se não fosse por Rob, a atuação não teria sido tão boa, diz Jerry O'Connell, que fez Vern, o gordinho assustado, o tipo de garoto que sempre se esquece de uma senha secreta. "Rob realmente queria que nós compreendéssemos nossos personagens. Ele entrevistou nossos personagens. Vern não pensa no futuro. Vern era sempre pego adiante. Tentei ficar como Vern e dizer as coisas estúpidas que Vern diria. Eu acho que fui Vern naquele verão."
Foi em junho de 1985 que Reiner e os quatro meninos que ele tinha escolhido - dos 300 que fizeram teste - se reuniram em uma suíte de hotel no Oregon para jogar jogos baseados no livro "Improvisações para o Teatro" de Viola Spolin.
"Os jogos de teatro desenvolvem a confiança entre as pessoas, e seu livro é a bíblia", diz Reiner, que formou um grupo de teatro de improviso com o seu amigo de colégio Richard Dreyfuss quando eles estavam com 19 anos. Reiner interpretou o genro de Archie Bunker em All in the Family por oito anos antes de se tornar um diretor de filmes como This is Spinal Tap e A Coisa Certa.
Durante uma semana ele não fez nada além de jogar com os meninos, às vezes incluindo os escritores e alguns membros da equipe. Eles tiveram que fingir que outro menino era um espelho e fazer mímica dos seus gestos, continuar uma outra história que tinha começado, ser levado ao redor do saguão do hotel com os olhos vendados, e lembrar o que todo mundo no círculo tinha escolhido para amarrar em um tronco. "Tinha 12 pessoas no jogo de memorização, e eu fiquei em segundo", diz Jerry. Aos 11 anos, ele era o mais novo dos meninos.
Foi apenas na segunda semana que Reiner fez os meninos começarem a ler o roteiro. Ele tinha "misturado e combinado" uma dúzia de meninos nos testes finais. Exceto por Corey Feldman, que interpreta o furioso, o auto-destrutivo Teddy, cuja orelha foi queimada por seu louco pai, herói de guerra, as escolhas finais não foram fáceis. "Corey era o único garoto que conseguiria interpretar esse tipo de raiva", diz Reiner.
No fim, ele escolheu os meninos cujas personalidades permitia que eles fossem os personagens ao invés de atuar como eles. "Jerry não é assustado e nerd como Vern, mas parecia Vern", diz Reiner. "Ele não tinha experiência. Ele poderia fazer no filme o que ele fez em uma leitura? Eu não ia escolhê-lo, mas ele era tão Vern em sua atitude que, no último minuto, eu disse: 'Vamos lhe dar uma chance.' Wil Wheaton é um garoto extremamente inteligente, e sua inteligência surge."
River originalmente fez a leitura para o papel que foi para Wheaton - Gordie Lachance, o menino mal compreendido que se tornaria o escritor adulto que narra o filme. Baseado em um romance de Stephen King, "The Body", a história é autobiográfica o bastante para que King se recusasse a discutir suas implicações quando Reiner telefonou para ele, conta Reiner.
Mais velho do que os outros meninos - ele fez 15 anos naquele verão - River acabou interpretando Chris, o líder, o pacificador. "River tem toda a força que o personagem tem", diz Reiner. "É evidente que ele foi amado por seus pais, que são pessoas que foram capazes de manter o que era bom e puro sobre a moral dos anos 60, sem o lixo."
Para criar companheirismo entre os rapazes, haviam carnavais e rafting. "Rob nos manteve juntos", diz River. "As três primeiras semanas foram as mais divertidas. Pegamos todas as cadeiras da piscina do hotel e as jogamos na piscina. Mergulhamos as roupas de Corey em cerveja, e elas secaram e ele cheirava igual a um bêbado. Wil Wheaton é um gênio dos games. Preparou as máquinas no hotel de modo que tivemos jogos grátis. Eu levei a culpa. Eu disse, 'Você faz isso para mim, e eu vou assumir a culpa.' Exatamente como no filme, tivemos grandes lutas, coisas estúpidas, meninos e seus egos, tipo, quem tem que andar pelos trilhos do trem em primeiro lugar. Sempre, no final de um filme, você fica enjoado uns dos outros."
Fonte: Chicago Tribune, em setembro de 1986