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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

"As Margens de River": Sky Magazine/1988

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A vida é um negócio sério para River Phoenix. Filho de radicais dos anos 60, crescendo através dos papéis sensíveis de herói menino em Conta Comigo e A Costa do Mosquito, ele está agora na esperança de salvar o mundo.

Por Dan Yakir


"Tornar-se um personagem é um processo lento", diz River Phoenix. "Eu começo apenas me afastando de quem eu sou, me neutralizando, e então eu fantasio sobre o que o personagem iria fazer e faço um monte de jogos mentais".

Apesar de, para a estrela de 18 anos de filmes como Conta Comigo e A Costa do Mosquito, não ser estranho adaptar-se a novos papéis, não havia nada para prepará-lo para o papel que ele desempenha em Espiões Sem Rosto - um típico menino americano que acorda uma manhã e descobre que seus pais são espiões russos. Dirigido por Richard Benjamin, o filme é estrelado por Sidney Poitier como um agente do FBI que alerta Phoenix (como Jeff, isto é, Nikita) para o seu dilema doloroso.

"A maior dificuldade era vender a mim mesmo todo o enredo", diz Phoenix. "Ser filho de espiões russos é absurdo para mim, mas isso é porque eu sou eu. Foi difícil me adaptar a isso. Outro desafio foi a transição que o personagem tem que fazer, entre ser um menino com uma vida decente, um menino que se sente muito seguro e sonha em se tornar um piloto da Força Aérea, para alguém que tem o tapete puxado de debaixo de seus pés. Tive que evoluir de um cara muito feliz para alguém que está dividido entre sua lealdade a sua família, a sua consciência e o dever de seu país."

Interpretar um jovem que tem que manter um olho em seus pais, até mesmo informando as autoridades sobre algumas de suas atividades - foi um desafio para Phoenix, cuja família é especialmente bem unida. Ironicamente, no próximo filme de Sidney Lumet, O Peso de Um Passado, ele interpreta o filho do ex-radicais dos anos 60 que vivem se escondendo da polícia.

Os próprios pais de Phoenix, Arlyn e John, são dos anos 60, ao estilo de espíritos livres, que passaram um tempo fazendo trabalho missionário para uma organização chamada "Meninos de Deus" na América do Sul antes de retornar aos EUA. Parece estranhamente parecida com a trama de A Costa do Mosquito, exceto que a união da família Phoenix nunca foi quebrada, ao contrário do clã do filme. "Quando você nasceu dentro desse tipo de estilo de vida, você simplesmente não questiona mesmo isso", diz ele.

Ele também está imbuído desses ideais que ele defende com orgulho. "Eu sou contra a corrida armamentista nuclear e o apartheid na África do Sul e a crueldade com animais, o que significa que eu sou vegetariano. Dieta é um bom lugar para começar a fazer uma mudança, porque é algo que eu posso fazer. Eu não posso fazer minha própria mudança de regime na África do Sul ou ensinar aos palestinos como viver com os israelenses, mas posso começar por mim. Eu tenho opiniões fortes e as pessoas discordam de mim, mas há aqueles que concordam também."

Seus sonhos mais ambiciosos incluem a compra de partes da floresta amazônica no Brasil para preservar a vida selvagem da destruição provocada pela industrialização impensada, e a construção de abrigos para os desabrigados. E quando ele faz filmes, ele tenta manter a pureza da mensagem intacta. Por exemplo, ele tinha dúvidas sobre o filme a ser lançado, Jimmy Reardon, porque ele acha que o público pode interpretar seu personagem Don Juan como promovendo a promiscuidade. "Moralmente, tenho problemas com ele. Muitas pessoas entregam-se a você e se espelham em você, e eu estou falando para um monte de meninas adolescentes, que podem ver o filme. Eu sou monogâmico e eu acredito que romance é importante no sexo, e Jimmy Reardon nem sempre apresenta isso dessa maneira.

"Olha, eu posso imaginar uma fase da minha vida onde eu estarei mais livre com o sexo - não há nada errado com isso, mas eu acredito que a circunstância é importante no sexo e em como ele é retratado. Fazê-lo apenas pela sensação e a gratificação imediata é egoísta. Nós todos temos esse tipo de impulsos e sentimentos dentro de nós e nem sempre podemos suprimi-los. Mas eu não sou contra os filmes eróticos. Nove e 1/2 Semanas de Amor e A Insustentável Leveza do Ser são ótimos - é um jogo totalmente diferente."

Originalmente, o personagem de Jimmy Reardon foi concebido como um poeta, cujo amor pelas mulheres combinava com seu desespero e pobreza. "Eu não quero olhar para esse filme - não é que eu seja bom demais para isso", salienta Phoenix. "Eu fiz isso porque eu queria fazer algo mais leve que Conta Comigo, que foi muito intenso. - Um veículo que pudesse me tirar do tipo menino. Eu imaginei que poderia me ajudar a crescer. Não era para ser um filme adolescente."

Enquanto seu pai votou contra o projeto "devido a problemas de moral - não que ele seja tenso desse jeito em tudo" - sua mãe era mais "aberta a isso", mas foi o encantamento evidente do diretor com Phoenix que, finalmente, o seduziu a assumir o filme. "Quando entrei na sala, ele [William Richert] disse: 'É isso aí! Você é Jimmy!' Fiquei realmente lisonjeado", diz Phoenix.

Um dos desafios de fazer Jimmy Reardon foram as cenas de amor, inclusive uma bastante explícita com uma mulher mais velha (interpretada por Ann Magnuson). Mas River, como um verdadeiro profissional, quase não se perturbou. "Eu nem sequer penso nisso", diz ele. "Se eu posso me dar crédito por interpretar, é que eu posso me perder facilmente, esquecendo-me da câmera. Inconscientemente, você sempre sabe que está lá, e às vezes o seu ego quer atuar de determinada maneira, mas você não pode pensar: 'O que Tom vai pensar se ele assistir este filme? Será que ele pensa que eu estou legal nessa cena, se eu fizer isso?' Em Jimmy Reardon, tenho certeza de que fiz alguma colocação aqui e ali, mas que fazia parte do personagem também, isso falava dele."

Mas não havia realmente nenhum medo em seu coração quando ele teve que pular na cama diante da câmera? Não, diz ele. "Eu estava pensando na perspectiva de Jimmy, e foi muito emocionante e muito divertido [risos]. Quero dizer, assistir é outra coisa - ou ver o filme, esqueça! Sinto-me auto-consciente, tipo, esse não sou eu."

Fora das telas, o nome do River tem sido associado com Martha Plimpton, que ele conheceu em A Costa do Mosquito, e que interpreta sua namorada em O Peso de Um Passado. Eles são um casal? "Sim, eu acho que você poderia dizer isso", ele responde. "Mas eu sempre tive problemas com definições do que namorado e namorada estão destinadas a ser, não é assim - As coisas são muito espontâneas e abertas entre nós. Nós mantivemos contato e somos bons amigos. Ela é uma pessoa muito boa e uma atriz maravilhosa, na minha opinião."

O ator não está sendo modesto, apenas interpretando as coisas do jeito dele. "Eu sempre tive um bom começo em muitos desses temas, como o sexo", diz ele. "Todo mundo passa por seus próprios dilemas em sua mente ao crescer." O ponto decisivo para Phoenix aconteceu durante as filmagens de Conta Comigo. "Foi uma época muito estranha. Ter todos esses hormônios gritando e não querer ficar apenas uma noite e também a ansiedade e o medo sobre a primeira vez", diz ele. "E a pressão dos colegas! Nós estávamos falando sobre isso o tempo todo. Eu passei por isso, graças a Deus!"

Quando ele estava gravando Jimmy Reardon, seus pais não estavam por perto - só o avô. "Que não foi o suficiente para me manter vendo as coisas em perspectiva", acrescenta Phoenix. Na verdade, ele mergulhou tanto em seu personagem mulherengo que ele percebeu que ele estava levando para casa com ele alguns dos traços do seu personagem. "Foi estranho", diz ele. Por outro lado, em Espiões Sem Rosto, ele não foi submetido a tais transformações. "Eu realmente não gosto do jeito que os russos foram retratados - aquilo era um pouco estereotipado. No final, quando Richard Bradford (como um agente da KGB), diz: 'Você sabe, os russos não atiram em suas crianças', eu senti que era um pouco fácil demais, uma tentativa de compensar a sua crueldade anterior. Mas é difícil ser objetivo sobre ele. Eu acho que é um filme sólido."

O ator cita a sua colaboração com Sidney Poitier entre os pontos altos da experiência. Será que o veterano ator tentou se tornar um pai para ele? "Ele nem sequer tentou", diz Phoenix. "Foi apenas a maneira que foi. Eu estava tão aberto a seus conselhos e sugestões. Ele é uma pessoa maravilhosa e um homem realmente brilhante, que me deu dicas sobre a vida também, não apenas atuação. Ele tem a mente muito aberta e é ainda um homem curioso, que não tem medo de aprender. Quantas pessoas fazem tudo concretamente...", diz ele. "Especialmente quando eles ficam mais velhos."

Phoenix enfrenta a si mesmo sem nenhum perigo. Embora atualmente viva na Flórida, ele levou uma vida nômade e, portanto, nunca esteve em uma posição que permita que a rotina tenha lugar. Ele diz que sua lealdade é para com "as pessoas e os sentimentos e as memórias, em vez de lugares."

"Algumas pessoas acham que a segurança está na rotina, mas eu nunca poderia viver daquele jeito. É por isso que eu nunca poderia estar em uma série de televisão; o que se poderia chamar de rotina, me levantando pela manhã, em uma certa hora, indo para o trabalho, passando pela mesma coisa, interpretando o mesmo personagem."

Mas o ator sente que, em ambos, Espiões Sem Rosto e O Peso de Um Passado, ele interpreta uma vítima. "Eu tenho que parar de fazer isso", diz ele. "Eu tenho sorte, eu não tenho ficado estereotipado. Fui de Surviving (um filme para a TV sobre o suicídio adolescente) para a interpretação de um nerd, um menino viciado em computador em Viagem ao Mundo dos Sonhos para Conta Comigo, onde interpretei uma espécie de herói trágico, que era legal de sua própria maneira - e depois para A Costa do Mosquito."

Sua sorte vai muito além da maneira como ele foi tratado por diretores de elenco. "Eu me sinto abençoado", diz Phoenix. "Eu tenho uma boa e sólida formação. Eu cresci sem conflitos na família, em um ambiente honesto, que não tinha nenhuma manipulação e com a capacidade de me expressar. Em nossa família, pais e filhos são iguais. É um esforço pioneiro e nós nos concentramos em um objetivo comum. Queremos contribuir com algo para o mundo, e não usar ou abusar da posição que temos a sorte de estar vivendo.

"Realmente me incomoda que sejamos treinados desde cedo para aspirar a ser o homem ideal ou a mulher ideal. É preconceito, realmente. Muitas pessoas aprendem a aceitar-se a si mesmas, mas outras se sentem miseráveis se elas não se parecem com Robert Redford. E elas não deveriam se sentir assim. Isso é opressivo. Muito disso tem a ver com o show business. Por exemplo, eu gostaria de ver mais negros em papéis principais, para projetar uma imagem mais realista do que somos como pessoas."

Phoenix sente muito fortemente sobre o crescimento de sentimentos anti-gay. "É um assunto delicado, para muita gente", diz ele. "Mas como você pode dizer a alguém para parar, se é aí que a felicidade dela está ou se é assim que elas se sentem? Se é isso que eles são? Há muitos relacionamentos homossexuais que eu prefiro muito mais apoiar como saudável do que algumas dessas pessoas que estão apenas abusando das mulheres. Eu diria que qualquer coisa em nome do amor está bem. Não estou falando de mim mesmo - eu me sinto muito bem com uma mulher - mas é algo que eu quero defender."

"Eu sou completamente apaixonado pela raça humana e por este planeta em que vivemos, e eu vejo a vida como muito legal e bonita. As pessoas me dizem, 'Oh, você tem o mundo nas suas mãos' ou 'Você é jovem e você tem todas essas oportunidades.' Mas isso não é porque eu sinto do jeito que eu faço. É apenas a minha realidade. Eu me senti assim antes também. Ainda assim, eu fico muito frustrado com o ritmo da vida - eu quero tanto que as pessoas apenas se entendam e se comuniquem melhor! Com toda esta tecnologia, o que é o melhor que podemos fazer? O orgulho muitas vezes fica no caminho, na política e em outros lugares. É deprimente."

"Mas", ele conclui, "há o lado otimista de mim também, que acredita que vivemos em uma época incrível e que se nós todos nos unirmos sobre as questões importantes e lutarmos por nossos direitos, como Bob Marley disse, poderíamos realmente conseguir muito. Eu acho que sou um perfeccionista. Em minha mente, eu tenho todas essas utopias e fantasias, mas acredito que elas possam acontecer. Eu realmente acredito. "


Fonte: Sky Magazine, em setembro de 1988

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Lembranças de River Phoenix

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Anthony Clark, ator de "Um Sonho, Dois Amores":

"Ele tinha trabalhado vinte e poucos dias sem parar, e em seu único dia de folga, ele sentiu a necessidade de me levar até a floresta tropical no noroeste do estado de Washington com sua mãe e uma ambientalista. A mãe dele estava dizendo, "Abrace uma árvore, Tony," e eu estava tipo, "Eu não me sinto bem a respeito, abraçando uma árvore", mas você sabe de uma coisa? Nunca vi árvores como esta na minha vida - elas tem 30 andares de altura e estão balançando no vento e elas estão fazendo música, e você ouve "rrrrrrr..." E de repente eu percebi o quão importantes são estas questões para esta família."


Dan Aykroyd, ator de "Quebra de Sigilo":

"Ele dormiu no meu escritório aqui na fazenda. Essa foi sua primeira e única visita. Na verdade, ele foi até a minha adega e ele pegou uma garrafa, um Petrus 1970 - tipo, uma garrafa de vinho de 800 dólares - e eu fiquei, "Oh, você abriu isso!" Fiquei um pouco chocado, e ele se sentiu muito mal e eu me senti tão mal por que eu falei isso. Algumas semanas antes de morrer, ele me mandou uma garrafa de vinho que ele teve muito dificuldade de encontrar. E a garrafa está repousando na minha adega. Alguém no outro dia tirou ela de onde eu a havia colocado, e eu fiquei louco. Eu acho que eu nunca vou beber isso. Ela só ficará ali para sempre, até que eu me vá."


Ed Lachman, diretor de fotografia de "Dark Blood":

"Nós fizemos dez takes do monólogo, o último dia que filmei com ele em 'Dark Blood.' Foi numa caverna, poderia ter sido em uma igreja. Tudo era iluminado por velas. Depois do último take, eu não desliguei a câmera. Quando percebi que estava gravando, eu a desliguei. Quando vimos os diários [de gravação], por dez segundos, River permaneceu em frente da câmera, apenas uma silhueta iluminada pela luz do ambiente. Foi ... misterioso. Para mim, como um cameraman, eu acho isso estranho, o último take. Porque eu não desliguei a câmera, porque só havia luz suficiente na sala para mostrar a silhueta dele, porque ele ficou na frente da câmera durante dez segundos. As pessoas estavam chorando. Sabíamos que era a última vez que nós veríamos River."


Bobby Bukowski, diretor de fotografia de "Apostando no Amor":

"River nunca sabia quando ele ia dormir, porque ele sempre tentava estender o dia muito mais do que um dia deverá ser prorrogado. Ele sempre sentiu que tinha que caber muito dentro do dia. No momento em que as pessoas normalmente gostam de dormir, River gostava de levantar e dizer: "Aqui estão 25 canções que eu escrevi desde a última vez que te vi." Ele iria tocá-las e cairia adormecido, e na manhã seguinte, ele acordaria ainda vestido em suas roupas, o seu violão ao alcance da mão."


William Richert, diretor de "Uma Noite na Vida de Jimmy Reardon":

"Uma vez estávamos no alto das montanhas com uma menina polinésia, e as nuvens vieram até o topo da montanha. River pegou um braço de cada um de nós e disse: "Nós vamos correr e saltar sobre as nuvens, e todas as nossas vidas passadas se dissolverão, e tudo será novo desde então. Esperem um pouco". E nós fizemos isso. E eu estava pensando, "Aqui estou eu, na minha idade, pulando o paredão de nuvens com esse garoto." Mas foi incrível, e pousamos sobre esta suave cobertura de solo, tipo iceberg. Mas saltamos por entre as nuvens, literalmente."


Fonte: Revista Première, em 1994

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

"À Frente do Pacote" [Parte 1]: Première/1988

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 Por Blanche McCrary Boyd


Até os dezoito anos, River Phoenix estará aparecendo em três novos filmes. Ele percorreu um longo caminho de legumes e oração.

River Phoenix e eu estamos indo à loja de instrumentos musicais para que ele possa comprar uma guitarra de doze cordas. No painel do meu Taurus alugado, ele está demonstrando as suas idéias sobre a vida no presente. "Se sua mente está aqui", diz ele, seus longos dedos deslizando até o painel azul acolchoado, "e você está realmente aqui ..." - ele bate na base do morro do vinil, "então o cara aqui embaixo não está recebendo nenhuma atenção."

River Phoenix tem 17 anos de idade, e é um fenômeno. Em 'Conta Comigo' ele interpretou um brilhante garoto da classe trabalhadora tão bem que as pessoas costumam lembrar o nome do personagem, Chris Chambers. Em 'A Costa do Mosquito', ele ofuscou um Harrison Ford atuando de forma excessiva e um ambicioso Peter Weir para se tornar o centro emocional do filme. "São seus olhos", diz um amigo meu. "Todas as luzes estão acesas, e tem alguém em casa."

Para esse jovem extraordinariamente multifacetado, que nasceu no Oregon por parto natural sob uma rodada de aplausos e foi batizado como o Rio da Vida de Siddhartha de Herman Hesse, as crises de identidade natural do ser adolescente são agravadas pelas pressões do sucesso no mundo.

Phoenix está prestes a aparecer em três filmes este ano: 'Uma Noite na Vida de Jimmy Reardon,' seu primeiro papel principal; 'Espiões Sem Rosto', que ele estrela com Sidney Poitier e 'O Peso de Um Passado', dirigido por Sidney Lumet. Ele já percorreu um longo caminho desde que cantava nas ruas da Venezuela porque sua família precisava de dinheiro.

Na maior parte da infância de Phoenix, a sua família viveu na América do Sul, onde seus pais eram missionários de uma organização chamada os Meninos de Deus. Seu pai, John, era arcebispo da Igreja para a Venezuela e as ilhas do Caribe. Vista neste contexto, River é um Phoenix bastante comum. Perguntado se a oração ainda é importante em sua vida, ele diz, sem o menor constrangimento: "Eu estava lendo algumas passagens [da Bíblia], esta manhã, e era sobre a oração ...."

"Nós rezamos antes de tudo", sua mãe, Arlyn, diz. "As crianças cresceram saindo nas ruas dizendo para as pessoas que Deus as amava. Eles deram suas vidas para Deus."

Arlyn Phoenix é realista, dinâmica e direta, uma mulher firme, com incomuns cabelos curtos grisalhos, que não exibe nenhuma das falhas que a história da família pode sugerir. Entre os Phoenix, ela é o centro, se não a líder. John é um sonhador, menos pé no chão, e seu passado inclui passagens em casas de correção para jovens e problemas com a bebida. Seus olhos parecem ferir e têm um ligeiro brilho messiânico.

Arlyn e John se conheceram em 1968 na Califórnia. Arlyn estava pedindo carona, e John a pegou. Ela era uma judia do Bronx, que tinha pulado fora de um casamento com um operador de computador, John tinha sido um estudante que abandonou os estudos a maior parte de sua vida. "Meu pai é um lutador", diz o River. "Ele arrebentou como um missionário."

A família vive em uma parte rural do norte da Flórida, em uma grande casa branca rodeada de carvalhos escarpados cobertos com musgo espanhol. "Os traficantes de drogas costumavam viver aqui", diz River, como se tentando explicar a qualidade despojada e temporária do mobiliário da casa. Aparentemente o sentido de casa para a família é algo interno, algo que seus membros levam com eles, porque eles se mudaram cerca de 40 vezes em 20 anos.

A Flórida foi escolhida por eles porque é quente, e tão longe ao Sul quanto alguém pode chegar e ainda estar no país. Eles decidiram contra Austin, Texas, a sua segunda escolha, por causa do barulho do aeroporto no meio da cidade.

Quando eu cheguei na casa, uma animada discussão sobre as drogas ocorria. John e Arlyn descreviam o "despertar religioso" que viveram há vinte anos atrás, através da adoção de LSD. "Eu imediatamente vi que eu estava vivendo em um buraco", diz John. "Havia um monte de gente perdida, e o presidente não era necessariamente o cara mais legal do mundo."

"Talvez vocês não precisassem de drogas para saber isso", River diz.

"Nós tínhamos ouvido que o ácido era o soro da verdade", Arlyn respondeu. "Era a coisa que iria levá-lo acima do mundo, a um nível de consciência no qual você poderia sentir o poder de Deus. Essa foi a única razão porque o tomamos."

"É necessário que seja através de drogas?" River pergunta. Tenho a sensação que ele teve essa discussão antes, em um contexto mais anos 80.

"Certamente que não, para a sua geração", diz Arlyn, e River parece tranqüilizado.

Arlyn e John abandonaram as drogas e tudo o mais, quando eles se juntaram aos Meninos de Deus. "Eu nunca imaginei que nós teríamos que voltar a trabalhar para viver", diz John. Ele tinha sido um carpinteiro e pintor de móveis, e Arlyn, uma secretária. "Eu pensei: Bem, é isso, só temos de continuar indo em direção a Deus..."

Seu líder era um homem chamado David Berg, que contactava seus seguidores através de cartas. Estas eram escritos maravilhosos de orientação espiritual, Arlyn diz. A desilusão veio alguns anos depois e foi confirmada quando viram um artigo sobre Berg em uma revista. Ele estava vestindo uma túnica preta e anéis nos dedos e estava cercado por mulheres adolescentes.

"Nós tivemos a sorte de sair escondidos", diz Arlyn, amenizando uma decisão de ruptura, que deixou o casal preso na América do Sul sem dinheiro e quatro filhos pequenos. A família orou pedindo orientação e mudou seu nome para Phoenix, depois disso, o pássaro mítico que ressurge das suas próprias cinzas. (Eles não vão revelar qual era o seu nome anterior). Então os Phoenixes partiram em busca de uma nova vida. Nesta nova vida, isso gradualmente tornou-se claro, as crianças seriam estrelas de cinema, e os pais, os seus gestores.

Quatro das crianças Phoenix tiveram participação em filmes. Leaf, treze anos, estrelou 'Russkies 'no ano passado, enquanto Summer Joy, dez, teve um papel menor. Rainbown, quinze anos, teve uma pequena participação no 'Maid to Order'. Dois anos atrás, a família fundou a Flight Phoenix Produções e, apesar de continuar a viver uma vida um pouco vagabunda, há sinais de riqueza florescente: um trailer e uma cama elástica no quintal, uma câmera de vídeo na sala de estar.

Há também sinais de desconforto. No verso de uma fotografia tirada de um artigo na Life - uma fotografia feliz de Arlyn e as duas filhas mais jovens - John listou:

"acidente de avião
vazamento de gás radônio
brancos agredidos até a morte
vazamento de lixo"

Estes são os itens no jornal da manhã que chamaram sua atenção.

Apesar de sua ruptura com os Meninos de Deus, Arlyn e John sentem que o efeito espiritual que a organização acabou por ter em suas vidas foi positivo.

"Rezar para agradecer o jantar e, eventualmente, tirar cocos das árvores", John diz: "Quero dizer, essas são as coisas reais."

"Qualquer que seja a ligação que nos manteve juntos por esse tempo, ainda é a que nos mantém neste tempo atual", diz Arlyn. "Por isso, o sucesso e o dinheiro e a fama e tudo isso não são realmente importantes para nós. Não são tão importantes como cumprir a missão de fazer isso porque nós sentimos que isto era o que Deus estava nos levando a fazer. E as crianças têm o talento e tudo para seguir com isso. Quer dizer, o River tem a sua própria direção para fazer o que ele faz, e se Deus quiser, ele sairá intacto." Alguma coisa muda em sua voz, um deslocamento da explicação para a evangelização, da esperança para o conto de fadas: "E talvez, por algum outro milagre, nós possamos usar tudo o que nós ganhamos para iluminar e ajudar o mundo inteiro, não apenas a nossa família...."

River interrompe. "Mãe, eu posso ter 650 dólares em dinheiro? Eu quero sair e comprar uma nova guitarra."


Continua...


Fonte: Revista Première, em abril de 1988

"À Frente do Pacote" [Parte 2]: Première/1988

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Como é difícil ser um adolescente normalmente esperto em uma atmosfera tão permissiva, difícil de se rebelar contra os pais que são rebeldes eles próprios, e River Phoenix apenas gerencia isso improvisadamente. No caminho para a loja de instrumentos musicais, nós dirigimos por uma faixa de fast-food, e quando passamos pela Arcos Dourados, Phoenix diz: "Eu odeio o McDonald's", em seguida, acrescenta, "mas eles têm as melhores batatas." Como muitos atores superdotados, ele pode fazer uma fala trivial soar cheia de significado, e na sua voz o pesado som de ser um Phoenix espiritualizado pressiona com força contra as tentações do mundo.

Os Phoenixes são vegetarianos radicais, os vegans que evitam não só carne, mas todos os produtos que envolvem a exploração de animais: ovos, queijo, couro, mel, e até mesmo alguns sabonetes. É uma posição ética, um código espiritual, e uma maneira de organizar suas vidas. "Quando saímos da Meninos de Deus", Arlyn diz, "nós pensamos, o que vem depois? E o vegetarianismo era óbvio, oh, sim."

Phoenix diz que é fácil para ele permanecer vegan porque ele está muito acostumado com isso. Ele quer ir para a Universidade da Flórida em Gainesville para conferir os Hare Krishnas: ele ouviu dizer que eles servem um almoço vegan gratuito diariamente no meio do campus, e ele está com fome.

Enquanto ele anda olhando para os universitários espalhados por todo o verde, Phoenix parece estar fantasiando que ele é um deles. "Eu gosto de fingir", ele disse antes, explicando porque o papel de Jimmy Reardon foi tão perturbador para sua vida.

Em Jimmy Reardon ele interpreta um selvagem, um estudante beberrão, que perde a virgindade com uma mulher mais velha. "Eu pensei que isso iria me fazer tipo crescer para todas as pessoas lá fora, sabe, que ele ia ser um verdadeiro contraste com A Costa do Mosquito. E eu tinha a desculpa do ator: ele era apenas um personagem, não se tratava realmente de mim." Mas ele teme que ao interpretar o seu papel muito bem, ele tenha de alguma forma desculpado o comportamento do personagem. "Quer dizer, ele era um cafetão no começo do filme..." E ele tem dúvidas artísticas. "Vi um corte muito brusco, e a história era muito mais simples e muito mais leve... então você realmente não precisa de ninguém para atuar dessa forma. Você não precisa de alguém se afirmando. Você só precisa de alguém para interpretar o cara sendo um espertalhão."

O verdadeiro problema foi como Phoenix ficou completamente imerso em seu personagem. No local das gravações, em Chicago, apenas com seu avô para vigiá-lo, ele diz, "eu poderia sair com um monte, porque ele não me conhece, então ele não sabia como agir. Então, eu poderia não ser River, e não tinha minha mãe por perto para dizer 'Ei, vamos lá, o que está acontecendo, você está se perdendo." Phoenix diz que ele ficou muito confuso sobre quem ele era e quem era Jimmy Reardon. "Eu estava provavelmente melhor fora do set do que eu estava no filme."

Depois de terminar a filmagem, em Chicago, Phoenix tinha que ir para Los Angeles para algumas refilmagens. Ele dirigiu um trailer no Novo México e foi parado por excesso de velocidade. Ele tinha dezesseis anos, e o trailer era seu, não da sua família, e seu amigo Larry, que atuava como seu tutor legal, tinha batido na traseira.

"Eles me pararam, eu saí do carro, e eu disse 'ocifial' em vez de oficial. E ele ficou tipo: "Sim, muito engraçado, garoto." Ele era uma espécie de policial durão do Novo México, e ele foi para o telefone de outro cara para fazer uma verificação. Eles não podiam acreditar que um garoto de dezesseis anos de idade tinha um trailer. - Mas que diabos? Acabei de roubá-lo ou algo assim? Então eu fiquei no chão e comecei a fazer flexões. Era como umas duas da manhã, e eu estou lá fazendo flexões. O cara saiu, e eu não parei para ele, e foi tipo: 'O que você acha que você é, é um palhaço?' De qualquer forma, eles vasculharam o trailer inteiro atrás de drogas e entorpecentes. Eles vasculharam tudo." E isso é típico de Jimmy Reardon também: "A multa dizia que tinha de pagá-la ou acabar na prisão, e eu não quis pagá-la por três meses."

Quando Phoenix finalmente voltou para casa de sua família, que na época ficava em Key West, "eu não sabia o que deveria ser, ou o que as pessoas queriam que eu fosse, ou se eu deveria ser todos. As pessoas pediam entrevistas, e eu pensava que era apenas um garoto de Chicago. Foi estranho. Eu não sei. Foi estranho." Sem a ajuda de sua família e amigos, Phoenix diz, ele teria precisado de ajuda psiquiátrica.

No meio do campus da Universidade da Flórida, Phoenix fica de olho em um garoto de cabelos brancos com dreadlocks. Ele pode ser um músico, e talvez amanhã Phoenix vá falar com ele. Ele está à procura de um baixista para tocar com ele em sua garagem.

Por um dos caminhos, dois Hare Krishnas estão servindo almoço em grandes cubas sobre uma mesa dobrável. Ou Phoenix e eu chegamos cedo, ou poucos estudantes desejam comida vegana servida por um homem e uma mulher em trajes laranja, que têm manchas de argila branca em seus rostos. A cabeça do homem está raspada.

Phoenix é amável enquanto fazemos a refeição. Ele faz perguntas inteligentes sobre as crenças dos Hare Krishna, mas parece mais interessado em quantas vezes eles servem as refeições. Ao ser perguntado seu nome, ele simplesmente diz, "River".

"River Phoenix?" o homem com a cabeça raspada pergunta.

Eles falam vegan por um tempo, e então o homem pressiona pelo endereço de Phoenix. Phoenix é muito prudente ao divulgá-lo. "Deus te abençoe", eles dizem um aos outro quando nos afastamos.

"Eu morei ao lado de tantos tipos de pessoas", diz Phoenix. Ele diz que respeita o que os Hare Krishnas estão fazendo, mas sente que suas crenças são apenas uma pequena parte da verdade. Ele gosta de usar uma analogia com carros de corrida e trabalhos personalizados para explicar o seu ecletismo espiritual: "Algumas pessoas podem ver um Ford e dizer: Este é para mim. Mas eu quero os pára-choques do Ford, os pneus do Chevy ...."

Depois de Jimmy Reardon "Não vamos nem pensar mais nisso, ok?" veio Espiões Sem Rosto, no qual Phoenix interpreta o filho de espiões russos e Poitier interpreta um agente do governo. Inicialmente, Phoenix pensou que a história era absurda, que o filho deveria, é claro, saber sobre seus pais, mas ele achou que seria uma grande coisa a tentar, depois dos riscos de Reardon, interpretar um menino americano como todos, saudável, que ele descreve como "um menino muito comum".

Richard Benjamin dirigiu Espiões Sem Rosto. "Richard Benjamin é um cara legal," Phoenix disse cuidadosamente. "Ele é muito calmo no set e no controle, e ele tinha um ótimo senso de humor. Ele é realmente um bom diretor. Mas ele não me deixava ver os diários de filmagem." Não vendo os diários, "Eu me senti tão fora de lugar com minha atuação. Eu me senti deslocado. E talvez tenha sido bom, porque o cara deveria ser inseguro e confuso." Phoenix usa o termo "método de direção" para descrever como sentia que Benjamin o manipulava para ter o estado de espírito do personagem. "Eu sinto que fiz uma performance de televisão, uma combinação de Leave It to Beaver e Kirk Cameron e Michael J. Fox".

Se Richard Benjamin o tratou como uma criança, Sidney Lumet foi um contraste feliz. Phoenix está cheio de elogios para Lumet, que filmou O Peso de Um Passado como se fosse um jogo, normalmente exigindo apenas um take, e terminou o filme uma semana antes do previsto. Phoenix sente que Lumet o ajudou tecnicamente, ensinando-o a pensar na câmera como um personagem na história. "A câmera tem um estilo próprio no modo como ela se move, na forma como ela observa. Então você não tem que ser auto-consciente, mas você tem que entender a forma como algo é filmado. Você tem que ver o visual do filme."

"Sidney é simplesmente muito seguro em tudo. Ele sabe exatamente o que ele quer. Ele disse, 'Não se preocupe, eu vou ser capaz de dizer no primeiro dia após os diários da filmagem se você pode manejá-los ou não." E ele deixou todos os atores assistirem os diários da filmagem, e foi ótimo nesse filme."

Em O Peso de Um Passado, Phoenix interpreta o filho de fugitivos que atacaram uma fábrica de napalm nos anos 60 e tiveram que viver escondidos durante anos. De seus filmes futuros, este é o único sobre o qual ele se sente melhor, aquele em que, segundo ele, as experiências que passou com Jimmy Reardon chegaram a ser concretizadas. "Isso me deu uma certa vantagem que eu definitivamente precisava. É ... é apenas uma sombra. Quero dizer, é como olhar através de uma lente e ir soltando filtros diferentes sobre ela. Toda vez que você tem uma experiência maior, é como se você deixasse cair um outro filtro para obter outro efeito. "

O impacto da famíla Phoenix sobre a sua habilidade de interpretar é difícil de superestimar. Os Phoenixes são um time, uma tribo, e um conjunto de crenças. River pode perder-se em um papel porque sua família lhe proporciona um centro físico, emocional e espiritual. Tem alguém em casa em seus olhos, porque tem alguém em casa em casa, também.

Todos os três filmes novos de Phoenix são sobre amadurecer, sobre o crescimento dos pais no passado, e sobre lealdade e traição. É tentador estabelecer um paralelo com a sua situação pessoal. "Eu tenho me exposto muito mais do que os meus pais pensam", diz ele, e a dor em sua voz é inconfundível. Ele menciona a oferta abundante de cocaína e álcool no set de A Costa do Mosquito.

Nós ainda estamos sentados no carro à espera de ir para a loja de instrumentos musicais. Está quentinho no carro, essa fase deliciosa antes do suor. Phoenix pensa que talvez ele não mereça essa guitarra nova até que ele domine a que ele já tem. De qualquer forma, deixa-o nervoso gastar tanto dinheiro em algo não-essencial. Arlyn lhe deu um cheque em branco.

Depois, após Phoenix comprar a guitarra, nós voltamos para a casa e entocado na garagem, ele toca algumas músicas que ele escreveu. A sua melhor música baseia-se em sua relação com Martha Plimpton, seu interesse amoroso em ambos os filmes, A Costa do Mosquito e O Peso de Um Passado. Sua pior música, mas talvez a mais comovente, é aquela em que abertamente se funde a "Mãe Terra" com sua verdadeira mãe: "Não morda a mão que cura as feridas e mantém você alimentado / Mãe querida estava sempre lá para nos colocar na cama / ... Ainda traindo a Mãe Terra ... "

É difícil não ser tocado por este belo rapaz lutando com graves questões morais que pode falar com sofisticação sobre a atuação ainda que inconscientemente apimente sua conversa com frases como "O Diabo é tão lindo e tentador" e sinceramente usa palavras como "Anticristo."

"Estou confuso", diz Phoenix. "Eu vou para frente e para trás sobre o sucesso e a riqueza." Quando ele pensa sobre o futuro, ele sonha em fundar uma casa para "crianças maltratadas, desabrigados, psicóticos." Ele quer "tentar subornar o Diabo e usá-lo para Deus." Mas, principalmente, diz ele, ele vai tentar viver no presente. Talvez ele vá formar uma banda de garagem. Talvez ele nunca mais vá fazer outro filme.

Está quente no carro, e o suor faz gotas sobre a pele acima dos seus lábios.

"Às vezes, eu desejo não ser tão consciente quanto eu sou. Seria muito mais fácil."


Fonte: Revista Première, em abril de 1988

domingo, 10 de outubro de 2010

"River Phoenix - Crescendo Velozmente": Playgirl/1988

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Uma brilhante nova estrela surge nesta geração

Por Iain Blair


O Hollywood Bel Age é exatamente o tipo de lugar em que você pode esperar encontrar uma estrela de cinema, mesmo que a estrela em questão seja um precoce talento de 18 anos, ao invés de uma lenda de 78 anos de idade. Sua suites opulentas, adornadas com obras de arte originais, caras e invisivelmente servidas por uma atenciosa equipe que se adianta aos convidados, cheira a luxo mimado.

Então, é um grande alívio quando River Phoenix, aparência de menino e claramente sem nenhum glamour em uma camiseta preta e jeans, salta na sala e no sofá. Mais leve e mais bonito do que ele aparenta na tela, Phoenix, que recentemente apareceu ao lado de Sidney Poitier no drama de espionagem Espiões Sem Rosto, parece fora de lugar, mas não desconfortável, em seu alojamento temporário de alta classe.

"Este é o lado do showbiz com o qual eu ainda estou tentando chegar a um acordo", confessa, com o olhar de um garoto que foi solto em uma loja de doces, mas que também percebe instintivamente que muito de uma coisa boa pode ser ruim para ele.

"Tudo deste tipo de coisa, todo o serviço de quarto é bom, mas eu não sou muito bom em jogar este jogo", ele aponta simplesmente. "Eu realmente não sei como comer em um desses restaurantes de luxo, e eu tenho os piores modos à mesa."

Honesta e refrescantemente intocado por todas as armadilhas do estrelato, apesar de sua carreira meteórica, o adolescente mais quente de Hollywood pode estar um pouco constrangido por sua entrada repentina no estilo de vida dos ricos e famosos - perfeitamente compreensível, quando se aprende com uma infância passada percorrendo as ruas mais pobres América do Sul com seus pais missionários.

Mas se o glamour do showbiz é menos atraente para Phoenix do que uma noite com os amigos na lanchonete local, o trabalho sério de fazer filmes é outra questão.

Mencione os filmes que o catapultaram para o estrelato internacional, Stand By Me e A Costa do Mosquito, ou Espiões Sem Rosto, Uma Noite na Vida de Jimmy Reardon e O Peso de Um Passado (as três produções em que ele vai ser visto neste ano), e este garoto de 18 anos de idade é intenso, focado, e surpreendentemente franco sobre suas próprias habilidades.


PLAYGIRL: Tem havido muita pressão para fazer jus aos elogios que você recebeu por Stand By Me?

PHOENIX: Sim, é difícil, especialmente porque Stand By Me pegou todos de surpresa. Fiquei chocado com a forma como quão bem ele se saiu. Eu senti que era uma obra de qualidade, mas nunca imaginei que iria encontrar um público tão grande. E quando isso acontece, você começa a se preocupar sobre como escolher os papéis que virão.

PLAYGIRL: Você ficou desapontado com a recepção dada ao filme A Costa do Mosquito?

PHOENIX: Muito. Adorei o livro e pensei que o filme foi muito fiel a ele. Harrison Ford fez um ótimo trabalho, mas a maioria das pessoas esperava outro herói tipo Indiana Jones. Eles não querem ver um anti-herói. Foi decepcionante porque todo mundo trabalhou tão duro para filmar, e eu me senti melhor sobre o meu trabalho do me senti sobre o meu desempenho em Stand By Me.

PLAYGIRL: Há histórias de drogas pesadas e álcool no set.

PHOENIX: Como você sabe disso? Acho que é do conhecimento comum, foi mencionado na revista Première. Foi como viver na capital de drogas do hemisfério Norte. Eu sei que as drogas foram desenfreadas em toda a cidade, mas na medida em que o set estava preocupado, eu não sei quem estava metido nisso. Eu não acho que isso afetou os elementos criativos, mas a equipe ... se houve qualquer coisa, isso provavelmente ajudou a mover todas as luzes (risos). Não é nada de novo neste negócio. Há um monte de tentação, e você aprende com a experiência, "Ei, eu não quero meter nesta merda."

PLAYGIRL: Sua infância na vida real parece ter uma semelhança notável com a retratada em A Costa do Mosquito.

PHOENIX: Sim. Nasci no Oregon, mas meus pais, que eram missionários, mudaram-se para a América do Sul, e eu cresci lá até que eu tinha sete anos. Na verdade, vivemos em vários lugares, em parte na Venezuela, e em parte da América Central e no México. Nós continuávamos em movimento!

PLAYGIRL: Foi uma infância feliz?

PHOENIX: Feliz? Bem, foi muito interessante, com um tipo de existência do dia-a-dia e na realidade isso não mudou muito. Toco guitarra desde que eu tinha cinco anos, e eu estava muito envolvido com isso junto com a minha irmã. Quando éramos mais jovens, costumávamos cantar canções religiosas nas ruas, onde quer que estivéssemos na época.

PLAYGIRL: Aquele foi o seu início no mundo do espetáculo?

PHOENIX: Sim! Foi realmente uma novidade cantar nas ruas, mas também tivemos um ato em grupo, com o meu irmão Leaf e minhas irmãs Rainbown e Summer Joy. Entramos em concursos de talentos e eles eram muito populares na América Latina.

PLAYGIRL: Todos os nomes de sua família são simbólicos?

PHOENIX: Acho que sim. Meus pais me deram o nome do Rio da Vida em Siddhartha de Herman Hesse, e nosso sobrenome foi adotado quando saímos da América Latina e voltamos para os Estados Unidos quando eu tinha uns nove anos.

PLAYGIRL: O que aconteceu?

PHOENIX: Eles faziam parte de uma organização chamada "Meninos de Deus", e eles também eram como filhos dos anos 60. Meu pai era um carpinteiro, e então ele decidiu seguir e se tornar um missionário, e nos levou todos para o Sul. Mas então ele se desiludiu com o líder da organização, e todos voltamos para Los Angeles, na verdade.

PLAYGIRL: Deve ter sido um choque de cultura.

PHOENIX: Nem brinca! Quando chegamos, éramos muito ingênuos e protegidos em muitos aspectos, e de repente estávamos expostos a toda essa informação. Era como uma tempestade de idéias. Quero dizer, tínhamos uma TV pela primeira vez. E, naturalmente, os meus pais estavam preocupados de que fossemos todos corrompidos.

PLAYGIRL: Eles ainda são missionários?

PHOENIX: Não, mas eles ainda têm um forte código de ética ao qual eles são muito fiéis, e é aquele de que todos nós compartilhamos. Eles são muito espirituais, mas não é a religião organizada como era antes. Meu pai ainda lê muito a Bíblia e a aplica à vida cotidiana. Ele é um homem muito prático, lógico, e então há esse outro lado dele que é completamente diferente. Ele é um personagem interessante.

PLAYGIRL: Você foi criado num ambiente muito religioso?

PHOENIX: Ah, sim. Eu conhecia a Bíblia muito bem. Decorei capítulos inteiros em espanhol, quando eu tinha cinco ou seis anos.

PLAYGIRL: Você ainda é muito religioso?

PHOENIX: Não da mesma maneira. Eu acho que a Bíblia é um livro de história incrível, mas sinto que a religião organizada é uma balela. Tem causado mais guerras e derramamento de sangue do que qualquer outra coisa. Mas eu me sinto seguro de ser capaz de extrair algo disso. Eu acho que haverá uma fase da minha vida onde eu vou me aprofundar mais, e tentar me mudar para dentro da floresta, como o cara em A Costa do Mosquito, para me encontrar e todas aquelas coisas (risos). Mas agora, eu tenho dezoito anos, e eu não quero gastar muito tempo pensando sobre isso. Eu já vivo com um código de ética, assim eu sou uma pessoa de bem. Eu não estou confuso.

PLAYGIRL: Seus pais se preocupam com os efeitos do estrelato em você e seu irmão e suas irmãs que também estão no negócio?

PHOENIX: Eles nos gerenciam, graças a Deus, por isso ainda estamos todos muito próximos. Mas meu pai está preocupado de que possamos ser arruinados por esse negócio. Tem um monte de armadilhas e tentações, e ele não quer que nos tornemos materialistas e acabemos perdendo todos os valores que fomos educados para acreditar. Então, sim, ele está satisfeito que estamos fazendo bem, mas de certa forma, ele chegou quase a um ponto em sua vida onde ele poderia simplesmente partir de novo como ele fez nos anos 60, e se mudar para uma fazenda e ficar perto da Terra.

PLAYGIRL: Será que isso é atrativo para você?

PHOENIX: Sim, para uma parte de mim. Mas o que eu fui explicando para ele é que há também esta outra parte de mim que está a fim de me realizar e me exigir, e descobrir exatamente o que eu sou realmente capaz de fazer.

PLAYGIRL: Isso tem causado tensão?

PHOENIX: Não tensão. Seria tensão se ambos escondêssemos isso. Mas nós temos um relacionamento muito aberto, honesto, discutimos tudo até chegarmos a um entendimento. Basicamente, independente do que acontecer com a minha carreira, eu sei que sempre terei uma cama em casa e um lugar para onde possa voltar.

PLAYGIRL: Você é próximo de seus irmão e irmãs?

PHOENIX: Somos uma família muito unida e todos se apoiam. Não há rivalidade, porque somos todos tão diferentes, seja em idade ou temperamento.

PLAYGIRL: Você sai com outros jovens atores?

PHOENIX: Não muito. Estou no meu círculo familiar a maior parte do tempo.

PLAYGIRL: O que você gosta de fazer quando você não está trabalhando?

PHOENIX: Eu sou um verdadeiro amante da música. Eu comprei essa guitarra, e eu toco muito e gosto de escrever canções, elas são o tipo de "rock progressivo etéreo-folk", eu acho... (gargalhadas). Então eu tenho esse outro lado que é muito hiperativo e atlético, embora eu realmente não pratique esportes organizados. É mais como saltar no trampolim e ficar brincando com meus irmãos e irmãs. Isso tem sido muito divertido, para conhecer as minhas crianças - eu os chamo de minhas crianças.

PLAYGIRL: Você se sente como o irmão mais velho na família?

PHOENIX: Sim, mas às vezes eu sinto como se fosse o menino mais novo também, porque todos eles são muito maduros. Eu posso falar com Summer, que tem dez anos, do jeito que eu estou falando agora.

PLAYGIRL: Você tem namorada?

PHOENIX: (Risos) Eu sempre odiei esse termo, mas sim, eu tenho alguém de quem eu sou muito próximo, mas nós não temos planos para casar ou algo assim. Mas nós somos almas gêmeas.

PLAYGIRL: Você já sentiu que devido à sua infância incomum você não sente a necessidade adolescente normal se rebelar contra seus pais?

PHOENIX: Com certeza. Eles são muito mais rebeldes do que eu sou! É mais como se eu estivesse me rebelando contra a corrente dominante de "sim, vamos!" Para mim, isso é uma realidade superficial, e não consigo encontrar a felicidade nisso.

PLAYGIRL: Você fez três filmes este ano. O que mais está em andamento?

PHOENIX: Nada. Eu não planejo meus anos de carreira pela frente. Tudo é muito espontâneo, gosto do jeito que eu cresci. É assim que eu me sinto confortável, e como eu gosto de viver.


Fonte: Playgirl Magazine, em agosto de 1988

domingo, 3 de outubro de 2010

Atores Relembram River Phoenix

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Johnny Galecki, ator de "The Big Bang Theory":

"Eu tinha 11 anos. Era meu primeiro filme. [Uma Noite na Vida de Jimmy Reardon] Ele [River] foi formidável, e ele foi realmente muito, muito gentil comigo. E, olhando para trás, eu sei o quão próximo ele era de sua família e eu acho que ele sentia falta de seu irmão na ocasião. Passamos muito tempo juntos. Ele me ensinou o primeiro par de acordes na guitarra que eu aprendi, e ele foi ótimo. Na verdade, esse papel foi totalmente cortado, infelizmente. Mas foi uma boa lição para aprender desde cedo sobre o cinema. Mas ele era incrível." (Fancast, 2008)


Joan Plowright, atriz de "Te Amarei Até Te Matar":

"Ele me mandou uma carta muito doce e um presente depois que Larry Olivier, meu marido, morreu. Era um diapasão [instrumento para afinar instrumentos musicais], e sua mensagem dizia: "Sintonize a vida." (Première, 1994)


Leonardo DiCaprio, ator de "Titanic":

"Quando eu tinha dezoito anos, River Phoenix era, de longe, o meu herói. Pense em todos os seus grandes desempenhos tão precoces - My Own Private Idaho, Stand by Me. Eu sempre quis conhecê-lo. Uma noite, eu estava numa festa de Halloween e ele passou por mim. Ele estava mais do que pálido - ele parecia branco. Antes que eu tivesse a chance de dizer 'Olá', ele se foi, dirigindo-se para o Viper Room, onde ele caiu e morreu. Isso foi uma lição." (Esquire, 2010)


Alan Bates, ator de "O Espírito do Silêncio":

"Ele foi imensamente amoroso com o meu filho. Meu outro filho e minha esposa morreram, e River foi maravilhoso para o meu filho que sobreviveu. River conversou com ele por horas ao telefone quando a mãe morreu. Eu acho que River era como meu filho falecido. Ele estava anos à frente do seu tempo, na verdade. Estava à frente de sua idade. Eu penso que pessoas como ele são muito vulneráveis ... bem, a outras pessoas. Eles são uma presa fácil para os não tão bons. (Première, 1994)


Meredith Salenger, atriz de "Uma Noite na Vida de Jimmy Reardon":

"Quando se tem menos de dezoito anos, você tem que ter três horas de estudos todos os dias, por isso, dizíamos a assistente social que nós estávamos indo estudar, e depois íamos para o trailer de River para conversar e tocar, e quando ela entrava nós pegávamos livros e líamos. Eu bati na sua porta uma vez e ele estava lendo Siddhartha de cabeça para baixo. Mas eu não acho que foi um acidente. Eu acho que ele estava lendo de cabeça para baixo para ver se ele poderia lê-lo de trás para a frente." (Première, 1994)