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quarta-feira, 2 de outubro de 2013

"A Margem de River": Detour/1993 [Parte 3]

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 PARTE 3  (FINAL)

Na verdade, para um ator jovem, rico, e muito requisitado, os problemas do mundo parecem ter um peso incomum. "Não é só o nosso país", continua ele. "O mundo é governado por uma enorme ligação empresarial multinacional trilateral, que é o verdadeiro governo acima de todos nós. Isso desafia as fronteiras e os efeitos sobre nós enormemente."

Então há a América, o comprador como um tubarão de tudo o que é estranho. "Somos ensinados a consumir. E isso é o que fazemos. Mas, se percebemos que não há realmente nenhuma razão para consumir, que isto é apenas um jogo da mente, que é apenas um vício, então não estaríamos lá fora pisando nas mãos das pessoas para subir a escada do sucesso. Por que mais que alguém iria querer ser podre de rico?"

Não importa que este ator em particular por acaso seja mesmo muito rico. "Eu tenho minhas razões pelas quais eu quero ser podre de rico", revela ele. para que eu possa comprar a próxima última floresta crescimento e transformá-la em um parque nacional permanente." Aparentemente, ele está bem no seu caminho para alcançar esse objetivo decididamente anti-Hollywood. "Acabei de comprar 800 hectares da floresta, na fronteira do Panamá e Costa Rica."

Opções pouco ortodoxas são uma marca registrada de Phoenix, seja se ele está salvando um deserto ou interpretando o prostituto gay em My Own Private Idaho. Quando a polêmica produção do filme começou, a conversa em torno de Hollywood foi que Phoenix convenceu um hesitante Keanu Reeves a correr o risco de também interpretar um gay no filme.  

Phoenix discorda. "Convencer ele? Não. Ele estava empolgado desde o início", lembra ele. "Keanu me apoiou e me apoiou. Mas nós tivemos um tipo de coisa que se um não fizesse, o outro não poderia fazer, já que nós tínhamos decidido impulsivamente fazer isso ao mesmo tempo. Assim, a única maneira que nós poderíamos dar seguimento a uma idéia tão impulsiva era se nós dois fizéssemos isso."



Ser heterossexual, mas interpretar um personagem gay, presumivelmente acrescentou algumas dicas sobre tais assuntos da atualidade como as sessões do Congresso sobre gays nas forças armadas. "Isso é mais simbólico do que qualquer outra coisa", diz ele. "Sempre houve gays nas forças armadas. Acho que não há desculpa para a violência contra qualquer pessoa por suas crenças. Ponto. O que [homens e mulheres homossexuais] querem é entrar pela porta e dizer: 'Olá. Nós estamos aqui.' Eu não dou a mínima para isso. prioridades mais sérias mim. Isso não deveria ser uma questão de longa data. É um desperdício de tempo. Linha de fundo. Caso encerrado."

Mas a verdadeira questão sem importância para o jovem ator é seu próprio sex appeal. Na verdade, ele não é um adolescente galã à la Jason Priestly, mas ele tem uma enorme base de fãs entre as mulheres e homens de todas as idades. Mas não espere que as cartas de amor fechadas com batom sejam respondidas em breve. Quando informado que milhares tem um tesão inabalável por ele, ele se torna visivelmente aborrecido, dando um olhar que geralmente se reserva para os prazos dos impostos. "Eu nunca penso nisso até pessoas como você trazerem isso", ele responde. "Isso simplesmente nunca passa pela minha cabeça. Eu mantenho isso longe."

Phoenix nem faz qualquer tentativa de esconder seu desprezo pelos atores cabeça-de-vento que gostam de tais adorações superficiais. "Eles são alimentados pela forma como o seu ego sente. Como eles irão se sentir bem naquele dia depende de como eles se sentem sobre si mesmos. É no personagem que você tem de investir, não em si mesmo. Eu invisto totalmente nos personagens que eu interpreto. Essa é a única coisa que me dá segurança, não eu mesmo. Eu mesmo sou um vagabundo! Eu mesmo não sou nada! Eu sou um peão. Eu sou um idiota. Estou totalmente afastado. Eu estou no armário. Eu estou fora de vista. Você não pode me tocar. Meu personagem que eu estou vivendo me leva por um tempo. Eu quero ser capaz de acreditar nesses personagens que eu crio."


 
A entrevista está chegando ao fim, mas não antes de o jovem ator conduzir suas observações pela última vez. 

"Eu acordei de um cochilo na outra noite", ele confessa. "Todo mundo é mal humorado quando acorda. Eu pensei comigo mesmo: 'Eu não tenho nenhum direito de ser mal humorado. Eu tenho tanta sorte. [Mais tarde] a caminho de um restaurante, eu saio do carro e vejo uma pessoa com muletas. Sua placa diz que ele tem AIDS e que sua imunidade está baixa. Sabe, ele faliu, e sua família não fala com ele, porque eles não podem comer por causa das contas hospitalares. Ele não fez isso. O sistema fez isso - de modo que quando alguém tem uma doença crônica, isso é uma porcaria que vai sugá-lo.  Ele poderia estar no mesmo restaurante há dois anos, comendo e se divertindo." 

River fica momentaneamente em silêncio refletindo pensativamente sobre o estranho. "Eu me senti abençoado de que eu pudesse deixar cinquenta para ele." 


Fonte: Detour, em julho/agosto de 1993 
  

12 comentários:

  1. Nossa, River faz eu me sentir uma idiota apesar de todos os meus esforços para ser uma pessoa melhor, nada se compara a essa doçura e generosidade dele. Poderia ler mais umas quinhentas dessas entrevistas.

    Que falta que esse menino faz.

    Beijos.

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    1. Oi, Nanda,

      O melhor é que ele nos faz pensar sobre questões que continuam atuais, mesmo 20 anos após sua morte. Questões que tem consequências sobre todos, que deveriam importar a todos, e que um menino de 23 anos é capaz de ver claramente. River era mesmo um sábio, como muitos em volta dele reconheciam. Ele estava muito além da sua idade, daqueles da sua geração, e talvez por isso ele se cercava de tantos amigos mais velhos, outros interlocutores com quem discutir mais profundamente. River é moderno ainda hoje. Ele realmente faz uma imensa falta neste planeta. <3

      Beijos.

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  2. Não foi só você que se sentiu uma idiota!
    O River era iluminado, que ser humano genuíno!

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    1. Pois é, Layane, River tentava viver de acordo com o que acreditava e isso é muito bonito, né?

      Beijos.

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  3. Esqueci de colocar meu nome no comentário acima! rs

    Layane.

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  4. Generosidade , humanidade e consciência transbordavam de River!

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    1. Oi, Lady Mike

      Sempre que River tem uma chance de expressar seus pensamentos consegue nos instigar. E isso é algo que amo nele. <3

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  5. Compartilho do mesmo sentimento de River no Último parágrafo da entrevista. As vezes me pego chateado por coisas tão fúteis, que me sinto pior ainda por saber que talvez esteja sendo ingrato com a vida que tenho.
    Uma "celebridade" como River faz tanta falta nos dias de hoje...se há 20 anos atrás ele já se incomodava tanto com a superficialidade na mídia, imagina hoje em dia? A juventude carece de boas influências.
    Boa semana a todos!

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    1. Oi, Lucas

      Sabe, eu fico pensando que River estaria horrorizado com a forma como hoje a sociedade faz um culto ostensivo à celebridade, como se a própria fama fosse o bem supremo a ser alcançado. E a mídia conseguiu a proeza de ficar ainda mais rasteira, agora tem os blogs de celebridades despejando barbaridades a cada minuto, sem descanso. O próprio Joaquin disse, numa entrevista, que se a morte de River fosse hoje, com todos esses blogs exploradores, o horror teria sido mais chocante, pois as mentiras se espalhariam ainda mais rápido. Infelizmente, a humanidade não evoluiu da forma que River desejou, mas aparentemente no caminho inverso! O mundo era melhor quando (e por) River estava nele.

      Beijos.

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  6. Oi, tudo bem? Eu escrevi um texto sobre o River, como eu faço para entrar em contato com você? beijos

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  7. Oi, Sophia!

    Você pode mandar para o meu email: femmesol@gmail.com

    Vou aguardar. ;)

    Beijos.

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  8. E ele não se considerava muita coisa, hein..imaginem..rs Modéstia!

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