"Os cachorros de River comem carne? E outras questões instigantes": Sassy Magazine, 1989

Você assistiu Indiana Jones e a Última Cruzada ou O Peso de Um Passado ou Stand By Me. Você leu que River Phoenix não usa couro nem come qualquer tipo de produtos de origem animal. Você conhece o ator de 19 anos, que vive em uma fazenda orgânica na Flórida, com seus quatro irmãos curiosamente batizados. Você está se perguntando: será que River Phoenix cuspia fora sua papinha de carne do alto de sua cadeira de bebê? Não agonizem mais, leitores. Depois que River terminou de filmar seu filme mais recente, uma comédia de humor negro chamada Te Amarei Até Te Matar, ele entrou em contato com a nossa [editora] Christina e se ofereceu para responder a todas suas perguntas ardentes sobre seu assunto favorito. Porque ele acha que é realmente importante você saber sobre tudo isso. E sim, foi ideia dele.

 
P. O que te envolveu nos direitos dos animais?

RIVER PHOENIX: Eu era muito jovem, tinha uns sete anos, quando me tornei consciente de crueldade contra os animais. Eu estava viajando de barco da Venezuela com a minha família. Nós tínhamos feito amizade com a tripulação, de quem nós gostamos muito. Então um dia, eu os vi pescando do lado de fora do barco. Toda vez que pegavam um peixe, eles o atiravam contra uma prancha que tinha pregos nela. Eu não podia acreditar. Eles não eram pessoas más, mas eles se tornavam totalmente insensíveis à dor que eles estavam causando. Meu irmão e eu começamos a perguntar aos meus pais por que tínhamos que tirar as vidas de animais para comer, e exatamente o que estava em nossos hambúrgueres e cachorros-quentes. Em breve, toda a minha família decidiu que não nos competia bloquear o direito de passagem de outra criatura, de modo que nos tornamos vegetarianos. Mas foi necessário as crianças começarem a fazer as perguntas. 

P. Você acha que as crianças são naturalmente mais próximas dos animais?

RP: Claro que são. Toda criança começa a amar os animais, se identificando com eles. Mas, no início, os adultos começam a transmitir mensagens contraditórias para elas. Eles vão dar um bicho de pelúcia para um garoto abraçar e amar e dormir com ele. Mas, ao mesmo tempo, eles estão servindo animais no jantar todas as noites. É uma loucura, se você pensar sobre isso. Mas quando você é jovem, você apenas aceita o que os adultos lhe dizem como a verdade.

P. Você tem algum animal de estimação?

RP: Eu tenho dois cachorros em casa, Justice e Jupiter. E já que eles são parte da família, ambos são vegetarianos. Eles são muito ativos e saudáveis​​.

 
P. Mas deve ser um incômodo ser um vegetariano estrito. Será que vale a pena?
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RP: Se você não acreditar nisso, se não é uma verdadeira convicção, então tudo bem, isso parece insuportável. Não é exatamente popular. Mas vale a pena? Claro que vale. Se você ama alguém, vale a pena andar um milhão de milhas para vê-lo. Se você gosta de animais, então é natural que você tenha cuidado com eles.

P. Como seus interesses sociais são transpostos para seu trabalho no cinema?

RP: Se isso atinge a essência de quem eu sou, eu não tenho que usá-las em minha manga para isso aparecer completamente. É simplesmente parte de mim. Mas, naturalmente, quando eu aprendo algo, eu gostaria de compartilhá-lo. E eu espero que os outros façam o mesmo comigo. Assim, sempre que eu posso, eu tento trazer minhas convicções éticas para o meu trabalho. Antes de eu começar a gravar um filme, eu trabalho com o departamento de figurino para me certificar de que minhas roupas não sejam feitas de peles ou couro. Eu também peço ao pessoal da maquiagem para usar maquiagem que não tenha sido testada em animais. Na maioria das vezes as pessoas respeitam as minhas crenças e trabalham para acomodá-las.

P. Há tantos problemas no mundo - por que os direitos dos animais?
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RP: Os direitos dos animais não estão separados de outras questões sociais, ambientais e políticas. O que a arte e a ciência significam se a Terra está caindo aos pedaços, se não sentimos a responsabilidade de dar-lhe espaço para respirar? Nós somos muito egoístas com o planeta, e a maneira como usamos os animais é um dos sintomas do nosso egoísmo. Mas quando você ama os animais, você se sente parte do pouco de natureza que resta na Terra.
 

P. Amar os animais pode realmente salvar o planeta?

RP: Às vezes a gente tem que começar nas pequenas coisas antes que possamos vencer os problemas maiores. Se você observar um sem-teto nas ruas e ver sua situação e compreendê-la, a partir daí você vê todas as pessoas desabrigadas de uma maneira diferente. É o mesmo com os animais. Depois de se tornar consciente, você não pode ficar parado e assisti-los serem explorados. E é gratificante proteger um ser indefeso.

P. Como os adolescentes podem ajudar os animais?

RP: Você começa por educar a si mesmo e fazer perguntas. É quando as coisas começam a acontecer, quando você faz as perguntas difíceis. Quando Colombo pensou em perguntar: "E se o mundo não for plano?" O mundo inteiro mudou. Hoje em dia nós ainda precisamos de mudança. Pessoalmente, acho que aula de biologia é um bom lugar para começar a fazer perguntas. E para mim, a dissecação é algo que vale a pena se manifestar contra.

Eu acho que é importante para os alunos assumir a responsabilidade por sua educação. Aceitamos demais de como somos ensinados, sem dúvida. A ideia por trás dos "Linha Direta Estudantes Contra a Dissecação" é dar aos alunos uma escolha sobre a forma como eles estudam biologia. Se alguém tiver objeções éticas a dissecação, podem ligar para o Linha Direta sobre alternativas humanitárias.

  
P. O que há de errado com dissecar algumas rãs em aulas de biologia?

RP: A questão é que há muitas maneiras melhores para estudar biologia. Você pode usar modelos ou filmes ou simulações em computador. Ao cortar animais nós acabamos nos tornando insensíveis à dor animal. Nos sentimos muito poderosos, porque nós estamos tomando essa vida em nossas mãos. E porque acontece em um laboratório de biologia, a dissecação parece oficial e "científica". Mas se você pensar sobre isso, a dissecação é realmente a forma mais bárbara de mutilação. Acabei de ler sobre um estudante do ensino médio na Califórnia que ganhou um prêmio para cortar o cérebro de um sapo e cronometrar quanto tempo ele poderia nadar antes de morrer. O que isso tem a ver com a ciência?

P. Você acha que os animais sentem dor da mesma forma que os seres humanos?
 
RP: É tudo relativo. Alguns pequenos animais têm terminações nervosas menos sensíveis, enquanto as lagostas são algumas das criaturas mais sensíveis à dor na Terra. A dor não é tanto o ponto, mas o valor de toda a vida. Não devemos a matar outras criaturas quando não é necessário. Estamos em guerra com a natureza, se continuarmos explorando os animais quando não é necessário para a sobrevivência.

P. O que você diria a um estudante que não quer dissecar animais, mas está com medo de ser reprovado aula de biologia?

RP: É por isso que o Linha Direta Dissecação está lá, para aconselhá-lo sobre os seus direitos e ajudá-lo a encontrar alternativas para a dissecação. A Linha Direta também pode colocar você em contato com um advogado se você precisar de um. Se houver alunos suficientes para começar a desafiar a dissecação, então os professores vão procurar outras maneiras de ensinar Biologia. É assim que começa a mudança. 

P. É por isso que você queria fazer esta entrevista, para ajudar a fazer uma mudança?

RP: Quando eu descobri sobre a Linha Direta Dissecação, eu queria passar a palavra aos alunos. Esta questão é mais importante do que falar sobre a minha carreira ou minha vida pessoal. Eu acho que os alunos merecem ter acesso a informações que podem ajudá-los a se tornar cidadãos do mundo conscientes e ativos. Como minha irmã Rain sempre diz: "Viva, ame a todos e deixe viver".

Fonte: Sassy Magazine , em outubro de 1989