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domingo, 23 de novembro de 2014

"Minha Relação de Amor X Ódio com River Phoenix": Pop Matters/2009 [Parte 3]



PARTE 3
 
Por Kellie M. Walsh, em 21 de setembro de 2009


Eu não conhecia River Phoenix. Eu não sabia nada sobre sua vida ou as circunstâncias dela, exceto o pouco que eu tinha lido em revistas. No entanto, eu me senti confortável, justa mesmo, para julgá-lo não por quem ele era, mas por quem eu achava que ele era, por quem eu esperava que ele fosse baseada apenas em informações pobremente recolhidas quando ele era um adolescente. Phoenix tinha crescido, mas a minha percepção dele não tinha crescido com ele. Nem tinha um monte de manchetes.

Se eu soubesse o que sei agora, talvez eu não tivesse sido tão dura. Eu não tinha visto como ele tinha passado a mentir em entrevistas em formas fantásticas ou como sua sensibilidade e cortesia típicas tinham sido largamente substituídas pelo desprezo e desdém. Eu não sabia que seu uso de drogas era um segredo conhecido em Hollywood. Eu ainda não tinha convivido com o vício de um amigo próximo. Se eu soubesse melhor, talvez eu tivesse sido mais gentil. Talvez eu não tivesse ficado tão chocada.

River Phoenix pisou na bola. Ele realmente, realmente vacilou. Ele tinha 23 anos de idade, e ele tomou uma decisão ruim, e essa má decisão lhe custou a vida. Eu não acho que ele levou isso em consideração, antes; acho que ele só agiu. Como a maioria dos jovens de 23 anos e a maioria dos viciados, ele não pensou, ele simplesmente fez. 

Eu retiro a sua responsabilidade? Não. Querendo ou não, ele considerou os resultados possíveis, ele carregou a arma, colocou em sua cabeça, e puxou o gatilho. Mas também acho que se deu ênfase demais em resposta. Belushi preparou o seu caminho para uma morte prematura; Cobain, literalmente, colocou uma arma na sua cabeça; mas Phoenix desrespeitou a expectativa popular, e ao fazê-lo, foi em grande parte esquecido. Apesar de todo o elogio da crítica aos seus talentos, apesar de todas as dedicatórias e homenagens que se seguiram por meses depois, hoje Phoenix é reduzido a um aleijado, uma piada de mau gosto em um episódio de Family Guy. Sua morte ofuscou sua vida. 

Eu li muito sobre Phoenix nas últimas semanas. Eu sei mais sobre ele agora do que eu jamais soube enquanto ele estava vivo, mas eu ainda não sei realmente quem era River Phoenix. Depois de ler e ouvir pessoas próximas a ele falarem, eu não tenho certeza se muitos deles realmente sabem. Mas, como a co-estrela e ex-namorada Martha Plimpton apontou, Phoenix não era uma metáfora ou um Messias: "Ele era apenas um menino, um menino de muito bom coração, que estava muito fodido e não tinha idéia de como implementar suas boas intenções."


Logo no início, Phoenix se tornou o garoto propaganda do idealismo e da vida saudável, e ele simplesmente não conseguia afastar essa reputação. O mundo queria que ele fosse um ícone; em vez disso, teve um anti-herói, uma série de contradições que Ian Parker adequadamente descreveu em The Independent como "o usuário de drogas de vida saudável ... a estrela infantil com sex appeal, o filho milionário de pais não-materialistas, o ator que na verdade queria ser um músico, o vegan que comia barras de chocolate, o estudante que largou os estudos e podia sapatear, e o sábio que não sabia quase nada."

Em outras palavras, Phoenix era humano. Quando eu tinha 18 anos, e por um longo tempo depois, eu não levei isso em consideração. Como um amigo meu sugeriu, quando Phoenix morreu, eu reagi como se ele fosse um adulto. Agora, olhando para trás, percebo que ele era apenas mais um garoto estúpido.

Eu sinto falta daquele garoto estúpido.
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Quando eu olho para trás, para aquele filme sentimental, meloso, que veio a definir a minha adolescência ou para a ode lírica a um confuso andarilho narcoléptico, eu sinto falta dele. Eu sinto falta do que ele era.  Eu sinto falta do que ele fez. Eu sinto falta do que eu imagino que ele poderia ter se tornado. My Own Private Idaho foi uma conquista monumental, mas Phoenix ainda estava em gestação. Ele ainda não tinha dado um grande desempenho. Ele ainda não tinha estrelado um grande filme.

Eu não era uma ativa de River Phoenix. Às vezes, eu nem sequer gostava dele. Eu o odiava por ser perfeito, depois eu o odiei quando ele mostrou não sê-lo. Ele simplesmente não conseguia me agradar.

Mas, sem que ele soubesse, Phoenix e eu crescemos juntos. Nós tivemos brigas; tivemos tréguas. Participamos de dezenas de festas do pijama. Mais tarde, ficamos bêbados; nos drogamos. Tivemos alguns bons momentos. Nós nunca nos conhecemos, mas eu reagi a sua morte tão pessoalmente e tão visceralmente como se o tivéssemos. River Phoenix teve um papel mais significativo em algumas das minhas mais preciosas memórias de infância do que algumas das pessoas que eu realmente conhecia, e quando ele morreu, aquele garoto bonito com o cabelo perfeito e o nariz arrebitado que costumava me irritar, levou um pedaço de minha infância com ele. 

 
 Fonte: Pop Matters, em setembro de 2009

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

"Minha Relação de Amor X Ódio com River Phoenix": Pop Matters/2009 [Parte 2]

 

PARTE 2
 
Por Kellie M. Walsh, em 21 de setembro de 2009


Pelo início dos anos 90, eu tinha seguido em frente. Eu vira ocasionalmente pedaços de A Costa do Mosquito e Running on Empty na TV a cabo. Phoenix tinha amadurecido, estava mais firme, menos estridente. Ele ainda tinha o cabelo perfeito. Eu não tinha visto ou comprado uma revista adolescente por muitos anos.

Quando Phoenix apareceu no tapete vermelho do Oscar, em 1990, eu gritei. Eu não me lembrei o quanto ele tinha me irritado; ao invés disso, senti um orgulho colegial estranho, como se um antigo colega de escola tivesse apenas passado pela câmera. Ele tocou em seu rosto e bateu os dedos assistindo seu clip de Running on Empty, e então urrou e deu um soco no ar, quando ele perdeu o prêmio de Melhor Ator para o seu colega de Te Amarei até Te Matar, Kevin Kline. A mãe de Phoenix disse mais tarde que ela teve que impedi-lo de pular de sua cadeira e correr atrás de Kline para abraçá-lo.
 

Então, em setembro de 1991, My Own Private Idaho foi lançado. Quinze anos antes de Heath Ledger fazer barulho no mercado com o lançamento de Brokeback Mountain, Phoenix estava encantando casas de arte em todo o mundo com sua interpretação de um prostituto gay em busca de sua mãe. A narcolepsia de seu personagem tinha todo o risco de ser lida como comédia, mas Phoenix desempenhou-a com tanta franqueza que cada risadinha inicial na plateia foi substituída por um estremecer envergonhado. Seu personagem flutuou através do filme como uma bolha, unida apenas por tensão, momento e necessidade não satisfeita; você não poderia deixar de prender a respiração esperando o inevitável. 

Sentada no cinema, eu finalmente consegui enxergá-lo. Eu finalmente entendi o que tornava River Phoenix especial. Ele tinha a capacidade singular de retratar as verdadeiras emoções, sinceras, em toda a sua vasta feiura. Seu nariz escorreu; seu corpo se contorceu; sua voz falhou e gaguejou. Às vezes, ele era quase inaudível. Mas com uma entrega em uma voz baixa, entrecortada, ele deu ao público uma liberação desagradável, insatisfatória, catártica, revelando toda a dor e o medo e a frustração que eles lutaram tão duramente para esconder.

Tal como em Stand By Me, o momento brilhante de Phoenix em My Own Private Idaho ocorreu na forma de uma confissão na fogueira. Essa confissão é, além disso, notável porque foi o próprio
Phoenix que a escreveu.
 

Sua atuação não era perfeita, ele ainda não podia interpretar felicidade convincentemente, e algumas de suas escolhas eram inexplicáveis, mas ele tinha algo, um instinto, a capacidade de tornar-se transparente. Ele não era apenas vulnerável; ele se desnudava. Como Peter Weir disse, "Laurence Olivier nunca teve o que River tinha." Ele não era apenas um galã adolescente; ele foi um dos poucos artistas a sair dos anos 80 que não só tiveram a chance de sobreviver à década, mas de transcendê-la. River Phoenix seria o James Dean que viveu.

Um pouco depois de uma da manhã do dia 31 de outubro de 1993, River Phoenix morreu de intoxicação aguda por múltiplas
drogas. Ele caiu em convulsões na calçada do Viper Room, uma casa noturna, na Sunset Boulevard, em Hollywood. Ele nunca acordou. Relatórios toxicológicos concluíram que ele havia ingerido "muitas vezes os níveis letais" de cocaína e heroína. Na idade de 23 anos, o menino de ouro de Hollywood morreu de uma overdose.

Eu não me lembro onde eu estava quando ouvi a notícia. Eu não me lembro o que eu estava fazendo. Eu não testemunhei o frenesi da mídia que cercou sua morte nem ouvi a frenética chamada ao 911 de seu irmão Joaquin se repetindo em estações de rádio e noticiários. Eu estava no meu primeiro semestre na faculdade. Lembro-me de um memorial no jornal
alternativo do Campus. Lembro-me de algumas garotas da minha idade se abraçando nos degraus do centro estudantil. Eu tinha 18 anos de idade.

Não me lembro de ficar chocada, embora eu suspeite que eu fiquei. Eu não me lembro de chorar, embora eu suspeite que eu tenha chorado. Em vez disso, o que eu me lembro é o que eu sentia cada vez que ouvia o nome de Phoenix ou via o seu rosto por anos depois.

 

Eu pensava que ele era um idiota.

Eu não podia acreditar que alguém tão brilhante podia fazer algo tão estúpido. Que alguém tão talentoso, tão valioso, podia fazer algo tão imprudente. Eu não podia acreditar que alguém tão frequentemente elogiado por suas posições anti-establishment
positivas e saudáveis pudesse morrer de uma  morte tão clichê, tão feia, de tanto mau gosto.

Era Jimmy Reardon tudo de novo. A tristeza foi ofuscada pela raiva, e mais uma vez, eu senti como se estivesse vendo evidências de que Phoenix era um vigarista, um hipócrita. Eu tinha passado todos esses anos resistindo aos seus encantos, e agora eu sentia que ele mentira pra mim. Sentia-me traída.

Sentia-me enganada.

Eu não estava sozinha. Durante meses, revistas e jornais publicaram artigos e matérias de capa sobre Phoenix; ele ainda estava fazendo manchetes em abril do ano seguinte até que a morte prematura de Kurt Cobain tomou o centro do palco. Alguns jornalistas canonizaram Phoenix como um mártir de Hollywood, uma estrela brilhante manchada pela corrupção da indústria; outros eram muito menos amáveis. O tom ofegante de relatos anteriores foi substituído por um ressentimento frio. Um jornalista evitou a palavra mais branda "corpo", optando por referir-se a Phoenix alternadamente como "cadáver" e "a carcaça." Muitas vozes, profissionais e não, concluíram que se Phoenix tinha feito isso a si mesmo, ele tinha tido o que ele merecia. Eu provavelmente disse o mesmo, também.

Eu fui uma idiota.
 

(Continua...)

Fonte: Pop Matters, em setembro de 2009

domingo, 9 de novembro de 2014

"Minha Relação de Amor X Ódio com River Phoenix": Pop Matters/2009 [Parte 1]

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Por Kellie M. Walsh, em 21 de setembro de 2009



River Phoenix era um ator.

As pessoas não falam muito sobre ele mais. Seu nome aparece principalmente quando alguém morre jovem e bonito. Nos dias de hoje, ele é famoso principalmente por morrer.

River Phoenix, no entanto, foi um ator, também. Em 1993, ele morreu, mas apenas sete anos antes, com a idade de 16 anos, ele chamou a atenção do mundo.

Era o verão de 1986. A Estátua da Liberdade tinha reaberto após dois anos e milhões gastos em reformas. Ronald Reagan estava em seu segundo mandato como presidente. The Monkees estavam de volta; The Police tinha acabado; "How Will I Know", "Sledgehammer" e "You Give Love a Bad Name" eram populares no rádio. O caso Irã-Contra estava em pleno andamento, embora nenhum de nós soubesse disso ainda.

Eu tinha 11 anos na época.

Um passatempo favorito daquela época era folhear revistas coloridas para adolescentes, revistas com nomes descritivos como Tiger 
Beat, Bop e (o meu favorito) Wow. Era a época dos filmes de John Hughes e da Brat Pack, e centímetros de coluna eram monopolizadas por caras como Rob Lowe, Judd Nelson, Demi Moore e Andrew McCarthy.

Mas, por mais legais que esses atores fossem - com o cabelo macio, ombreiras, e estilos de viciados - eram difíceis para garotos da minha idade se identificar. Os Brat Packers nasceram nos anos 50 e 60; os personagens que interpretavam eram garotos no final da adolescência. Eu entendia seus males eternos de confusão, a feiúra e a impopularidade, mas eu nunca tinha ido para o colegial ou me preocupado com um vestido de baile ou vivido como um yuppie pós-Georgetown. Talvez eu tenha ganhado de uma Molly Ringwald de
18 anos no domínio do copo, mas ela tinha me vencido em experiência de vida. 

Então, em agosto de 1986, um filme de Rob Reiner foi lançado. Intitulado Stand By Me, o filme acompanhava quatro meninos de 12 anos de idade nos anos 50, enquanto eles viajavam a pé para encontrar o corpo de um menino desaparecido. O filme era nostálgico. Sentimental. Melodramático. Saciante.

Eu me apaixonei instantaneamente.


 
Logo os jovens rostos das estrelas do filme começaram a aparecer na TV e nas capas de revistas. Com idade variando de 12 a quase 16 anos, os atores d
o elenco de Stand by Me eram mais acessíveis, os rostos e as experiências, tanto na tela quanto fora dela, mais familiares do que os seus antecessores de cabelos macios. O mais velho das quatro estrelas até tinha um nariz arrebitado, pontudo, que às vezes me lembrava do meu próprio: um adolescente de 16 anos chamado River Phoenix. 

Desde o momento em que ele apareceu na tela no filme - com um cigarro equilibrado entre os dedos e o corte de cabelo de um homenzinho - a mídia o tachou como o James Dean dos anos 80. Ele era bonito e comercial,  com um rosto suave, não ameaçador, cabelos loiros, e penetrantes olhos azuis claros, e ele já tinha mais de atuação do que as estrelas 15 anos mais velhas do Brat Pack. Ele era uma bola de gude azul brilhante em um saco de pedras, e todo mundo o amou.

Ele me dava nos nervos.

Ele era muito bonito. Muito popular. Seu cabelo, demasiado perfeito. Muitas pessoas o amavam, e elas o amava muito.

E eu nunca tive isso como meu nariz, pontudo, arrebitado.


Vários jornalistas foram tão seduzidos por suas maneiras polidas e delicadas que seus artigos pareciam anotações de diário. O primogênito de uma ninhada nascida de missionários itinerantes, Phoenix foi apresentado como aquele garoto hippie sensível, com aquele nome hippie poético daquela família-tribo ligada à terra. Ele nasceu sob uma salva de palmas no Oregon; ele distribuía bênçãos e flores para os passantes quando criança na América do Sul. Ele era um ambientalista antes que reciclar fosse comum, um vegan antes do vegetarianismo ser de praxe. Ao falar sobre si mesmo, ele cobria o rosto e evitava seus olhos, mas quando se falava sobre suas crenças, sua voz perdia o tremor, seu corpo, o desleixo. Muito antes que alguém ouvisse falar de Leonardo DiCaprio, Angelina Jolie ou Moby, Phoenix estava fazendo manchetes como o novo talento refrescante que era pró-terra, pró-animal, pró-humano, pró-floresta, pró-coisas boas, anti-coisas ruins, e pró-paz, amor e compreensão.
 
Eu não engoli isso. Ninguém podia ser tão perfeito. Ninguém podia ser tão virtuoso. Ninguém podia ser tão saudável, especialmente não aos 16 anos. Não importava que eu concordasse com muito do que ele dizia. Você simplesmente não podia abrir uma revista sem ser confrontado por aquele cavaleiro de cabelos claros empunhando tofu e um encanto de menino. Até mesmo seu olho preguiçoso foi, de alguma forma, vendido como sexy. A mídia tinha ele a um passo de derrubar cerejeiras com um banjo em seu joelho, e quanto mais páginas elas dedicavam a Phoenix, menor a chance para os desajeitados meninos fazerem o meu coração adolescente palpitar. Eu o odiava por isso.



Mas, como o Washington Post apontou, Phoenix era o "centro de gravidade" do filme de Reiner que eu guardei tão bem. Sem ele, Stand by Me teria entrado em colapso pelo seu próprio peso. Phoenix tinha uma qualidade que atraia a sua atenção, e, embora ele não pudesse interpretar felicidade ou rir de forma convincente, ele tinha um naturalismo cru bem versado para retratar a dor. Na cena da fogueira em que seu personagem do menino durão finalmente se quebra, você quase o vê entrar em colapso sob a pressão de sua reputação. Quantas vezes como criança eu expressei esse desespero para manter o anonimato por trás de portas fechadas?

Quantas vezes como adulto?
 

 
John Willis listou Phoenix em "Screen World" como um dos doze promissores novos atores de 1986, e com razão: ele era bom. Eu sabia que ele era bom. Eu sabia que ele era inteligente. Eu sabia que ele era interessante e atraente e positivo. Eu sabia que eu concordava com ele. Eu só não gostava dele.

No verão de 1988, eu tinha mudado das
doces e coloridas revistas de adolescentes para as negras e temperamentais revistas de metal , mas quando eu vi os comerciais para Uma Noite na Vida de Jimmy Reardon, senti-me vingada; lá, em toda a sua glória adolescente mercenária, estava a prova de que esse garoto, anti-Hollywood, de espírito indie, contracultural, não era nada mais do que um típico menino de ouro de Hollywood, apenas mais um garoto branco privilegiado. Não importava que eu mesma fosse uma criança branca privilegiada. River Phoenix era uma farsa; Jimmy Reardon provava isso. 

Eu não sabia na época que Jimmy Reardon tinha constrangido Phoenix. Eu não sabia que a sua renda no filme deu à família Phoenix a sua primeira dose real da segurança financeira, provavelmente, de toda a vida de River Phoenix. Eu não sabia que ele era o principal, se não o único, ganha-pão da sua família de sete, ou que ele tinha crescido literalmente cantando pelo seu jantar, lutando pela mudança com uma guitarra e um sorriso nas ruas de Caracas com a idade de cinco anos, para que sua família pudesse comer.

Eu não sabia que, dentro de muitos desses artigos que eu há muito tempo tinha me recusado a ler, Phoenix expressou descontentamento com a forma como ele era retratado na mídia. Tudo que eu sabia era o que eu havia pegado das manchetes e citações soltas. De acordo com a imagem que eu tinha na minha cabeça, Phoenix era um hipócrita.

(Continua...)


Fonte: Pop Matters, em setembro de 2009
 

sábado, 1 de novembro de 2014

"Relembrando River Phoenix": Out in Perth/2014

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Por Graeme Watson, em 31 de outubro de 2014

Lembro-me claramente quando nos conhecemos. Foi em um supermercado, talvez fosse Sainsburrys, foi em algum lugar na Inglaterra. Eu estava lá de férias e você estava no supermercado, saindo na capa da Sky Magazine.

Eu comprei a revista e li sobre seus novos filmes Uma Noite na Vida de Jimmy Reardon, Little Nikita e O Peso de Um Passado. Eu vi todos eles, logo que chegaram em minha loja de vídeo local no interior da Austrália.

Eu também comecei a desenhar
repetidamente o seu retrato. Repetidas vezes eu recriei a capa da Sky Magazine em diferentes materiais; às vezes, pastéis, às vezes, um desenho a lápis. Uma versão minimalista abstrata azul está colada na parede do meu quarto para sempre.

Vamos ser honestos, nem todos os seus filmes foram excelentes - mas eu dei a eles todo meu entusiasmo. Eu queria que houvesse mais de você em Te Amarei Até te Matar, e eu lutava para me conectar com Dogfight, mas tudo bem, porque só olhar o seu rosto por 90 minutos foi uma experiência maravilhosa. Foi ótimo vê-lo transformar-se tanto em Indiana Jones! 

Durante anos, eu desejei ter o seu cabelo. Queria uma franja que caísse em meus olhos. Quando eu deixei meu cabelo longo o bastante para parecer com você, você deixou o seu crescer ainda mais, eu nunca consegui alcançá-lo.

Você falava sobre o meio ambiente, e sendo um vegetariano, você me apresentou o conceito de ser "alternativo", quer seja em filmes, música ou no pensar.

Depois vieram My Own Private Idaho, um filme que nenhum dos meus amigos ver porque era muito polêmico. Eu mostrei o meu ID no New Oxford Cinema e
vi isso por mim mesmo. Eu assisti esse filme repetidas vezes - e cada vez que eu encontrei algo novo. À medida em que fui ficando mais velho, ele foi tomado de novos significados, conforme eu ganhei mais experiência de vida, mais sentido ele tem feito.  

E de repente os meus sonhos se tornaram realidade porque neste filme você era gay também. Eu comprei uma jaqueta da mesma cor da do seu personagem. Eram quase idênticas.

Você pode ter me feito gostar um pouquinho mais de música country com The Thing Called Love e eu vi Sneakers no drive-in. Então, de repente, você se foi.

Era a última coisa que eu esperava ouvir no noticiário das 18 horas. O ator River Phoenix morreu aos  23 anos de uma
aparente overdose de drogas.

Foram dois choques de uma só vez. Você estava morto, mas de drogas? Este não é quem você era, ou pelo menos ... não era quem sabíamos que você era.

Sua morte me mostrou que, quando somos jovens, não somos invencíveis. Ela me mostrou que podemos mudar nossas vidas para melhor ou pior a qualquer momento. Eu provavelmente comecei a me tornar mais cínico sobre as coisas, percebendo que nem tudo é exatamente o que parece.

Hoje 21 anos desde que você partiu, as pessoas têm escrito músicas sobre você, eles escrevem peças sobre você, e em breve, o seu último filme - o que você estava fazendo quando morreu - será lançado.

Sua imagem azul continua pregada na minha parede, também na minha mesa, perto dos meus cartões de visita e ao lado da impressora de etiquetas.
 
Fonte: www.outinperth.com