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terça-feira, 2 de outubro de 2012

[Crítica] "Sneakers é uma obra prima": Slate/2012





Por que este filme inspira um tipo de estranha devoção em seus fãs

De Julia Turner,

Para John Swansburg

Pensei que tínhamos concordado seu codinome anagramático era Shun Brawn Jogs!

Aqui está a minha confissão para você, John, decifrada somente para seus olhos: eu acho que eu nunca amei um filme tanto quanto eu amo Sneakers. Claro, há filmes que são mais inteligentes, mais engraçados, mais cheios de suspense - centenas deles. Há filmes que são melhores de todos os tipos de formas. Mas Sneakers é simplesmente adorável, e eu diria que merece um lugar ao lado de De Volta Para o Futuro e Cantando na Chuva no panteão dos entretenimentos puramente divertidos.

Esta opinião não é amplamente compartilhada, existem poucos críticos que colocariam o filme em tais sublimes companhias. Mas Sneakers estranhamente gera devotos fervorosos. Mencionar o filme é como um aperto de mão secreto. Ofereça para a pessoa errada, e você vai ter um olhar vazio. Mas, de vez em quando, você vai encontrar um companheiro de viagem: alguém que sabe de cor o monólogo de Cosmo no telhado. Alguém que pode imitar perfeitamente a entrega de Stephen Tobolowsky da frase "Minha voz é o meu passaporte." Alguém que passou sua adolescência dissecando a trilha do filme.

Na maioria das vezes, esses superfãs são membros da nossa geração, o grupo que recai entre X e Y, um pouco jovem demais para ter vivido Caindo na Real, um pouco velho demais para ter adorado Britney Spears. Você e eu estávamos no início de nossas adolescências, quando o filme foi lançado. Eu o perdi no cinema, então eu o vi pela primeira vez quando eu o aluguei na Video-To-Go, alguns anos mais tarde. Fiquei com a fita por uma semana, assistindo todas as noites, fazendo com que os amigos viessem para ver a jóia que eu tinha descoberto.

Por que nós gostamos tanto? A presença de River Phoenix, o galã, que morreu um ano depois do filme ser lançado - era muito legal, eu ainda me lembro de um amigo rebobinar a fita para a cena em que seu personagem Carl, presenteado com a oportunidade de pedir a NSA qualquer coisa que ele quisesse (dinheiro, carros esportivos, etc), simplesmente pede o número de telefone "da jovem com a [metralhadora] Uzi" que está mantendo-o como refém naquele momento. Suspiro!





Mas para mim o fascínio tinha mais a ver com três coisas: os enigmas do filme, sua visão negra do mundo, e seu tom irônico. 

Como qualquer equipe de ataque envolvida em uma travessura, a turma de Martin Bishop enfrenta obstáculos em abundância em seu caminho para obter, depois perder, e em seguida recuperar a caixa preta. Mas eles superam esses obstáculos de maneira que muitas vezes sentimos como particularmente criativas. Claro, o filme utiliza elementos de Rififi e Ocean’s 11 e outros filmes de roubo. Mas acrescenta continuamente suas próprias reviravoltas, muitas vezes, na pessoa de Whistler, o homem cego extraordinariamente observador cujo ouvido aguçado tantas vezes vem a calhar. Quando a turma está tentando localizar onde a caixa está escondida no escritório de um professor, eles reproduzem imagens da digitação do professor em seu computador repetidas vezes, na esperança de discernir a sua senha. É Whistler, escutando a reunião, que ouve o que a namorada tcheca do professor está dizendo ("Deixei mensagem aqui no serviço, mas você não ligou ...") e deduz que, se o professor tem um serviço de mensagem, então o atendedor de chamadas em sua mesa deve ser um engado, logo, a caixa que eles estão procurando. (Acabou que uma das tecnologias neste filme que foi premonitório foi a ascensão do correio de voz.) Eu também adoro a piada onde, a fim de vencer um detector de movimento, Robert Redford deve mover-se com a deliberação de uma tartaruga dopada, retardando a "ação" no filme para um rastejamento. 

Mas o filme equilibra esses truques com um retrato vívido da incerteza dos anos após a Guerra Fria. Antes de um personagem, um espião russo que virou "adido cultural", encontrar seu criador, ele adverte Martin, "Você não sabe em quem confiar." A fala serve como um ponto focal para o filme, que conta com os russos como aliados dos americanos, coloca a NSA contra o FBI, e fixa a banda de esquisitos de Cosmo em "Playtronics", a empresa de brinquedos que é a sua operação contra todos os outros. A noção de ter de separar quem são realmente seus inimigos, a noção de que uma grande empresa pode ser mais perigosa do que qualquer Estado, que eles sentiam - era nova e recém-inquietante em 1992. O filme não tem nada de particularmente brilhante a dizer sobre a nova ordem mundial, mas a sofisticação (e, naquele momento, a novidade), de sua perspectiva emprestou a Sneakers alguma profundidade. 

O que é mais notável para mim, porém, é como o filme equilibra suas piadas inteligentes com sua evocação ameaçadora do situação precária do mundo. Durante tudo, nossos heróis são sarcásticos e imperturbáveis. Eles não estão se esforçando e suando como Ethan Hunt em Missão Impossível para impedir uma explosão nuclear. Eles não estão arrogantemente sentindo o peso do mundo sobre seus ombros. Eles são apenas um bando de raspadores que estão com medo do poderoso dispositivo que descobriram, e o que isso pode significar para o futuro do planeta. Eles não podem acreditar que eles estão nesse impasse, e eles passam o filme tentando se desembaraçar disso e esperando não magoar os outros demais no processo.
Para isso podemos agradecer aos roteiristas, que fazem uma abordagem discreta, muitas vezes deixando as coisas não ditas quando uma sobrancelha levantada de Redford vai fazer isso. (Um dos meus momentos favoritos do filme é quando o Carl de Phoenix - se preparando para uma missão de uma maneira um pouco-ninja-demais - escurece o rosto com fuligem. Crease e Bishop aparecem vestidos como pessoas normais Sua apreciação sem palavras de seu traje ainda me faz rir.) A direção também ajuda - você está certo, John, aquele filme tem um ritmo impecável. 

Mas eu acho que o motivo pelo qual o filme fala às pessoas da nossa idade pode ter algo a ver com a visão do filme sobre heroísmo. Ele oferece, lateralmente, um bando inteligente de heróis - desconfiados de todos os governos e todas as grandes empresas (mas não mais chocados com a sua conduta ilegal), relutantes em agir diante de tanta incerteza, mas determinados a manter as ferramentas de destruição longe das mãos erradas. 

John, eu estou curiosa para saber de quais personagens você mais gosta. Eu não posso explicar a profissão de Liz (não são os músicos em geral que deveriam ter uma aptidão para a matemática?), mas eu admiro ela impassível, ela tem muitas das melhores falas do filme. Eu também quero saber o que você pensa das origens de Martin e Cosmo como superhackers da contracultura dos anos 60. Como essas políticas afetam a sua leitura do filme?

E apenas um mistério mais para você decodificar: Quantas sílabas existem na pronúncia de Ben Kingsley da palavra "disaster” (desastre)? (Conto quatro, e isso iria torná-la foneticamente assim: "disayastuh". Talvez ele estivesse tentando nos dizer alguma coisa?)
 

Sua,

Eu, Junta Ruler 

Fonte: Slate, em setembro de 2012

7 comentários:

  1. Quero muito assistir!! O River tá muito fofo nesse filme- pelos clipes que assistir- tá tão natural...

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  2. Anônimo, vale a pena mesmo. Este filme é ótimo, e é bem premonitório mesmo de como o mundo seria hoje, com o domínio de quem detém a informação. Mas o melhor é que é um filme divertido, inteligente. E River faz uma dancinha muito engraçada! ;)

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    1. pena que eu nunca encontrei no youtube esse filme vcs sabem onde encontrar pra assistir ou fazer download?

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    2. Já procurei no youtube todo, mas não achei...É uma pena, porque morro de vontade de assistir...

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    3. Meninas, tem alguns sites em que você pode baixar este filme com legenda. Vocês já tentaram no site www.yesfilmes.org?

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    4. Já vi o gif dessa cena da dancinha do River e não lembrava de que filme era, mas de tanto ver fotos da época do filme, identifiquei.Já vi esse filme há muutos anos, mas irei revê-lo, com certeza.

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