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domingo, 13 de fevereiro de 2011

"The US Interview: River Phoenix" [Parte 2] - US Magazine/1991

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US: Por que você, ao contrário da maioria das outras estrelas infantis, foi capaz de lidar com a transição de criança para os papéis de adulto?

PHOENIX: Porque eu mantenho minha distância do exterior, em relação a quem eu sou. Eu não escuto coisas que poderiam me derrubar ou coisas que poderiam me impulsionar. Eu mantive o meu eu e minha felicidade completamente separados do meu trabalho. Eu não dependo do meu trabalho para me fazer sentir bem comigo mesmo. Quando as pessoas investem o seu eu e sua auto-imagem em seus trabalhos, e um dia alguém não olha para isto da mesma maneira que eles, ou então você cresce e suas sobrancelhas ficam grossas e você não consegue as papéis, você cai tão forte e você fica tão mal.

US: Mas você tem felicidade com seu trabalho?

PHOENIX: Oh, eu tenho uma grande satisfação. Mas, basicamente, eu estou falando de pessoas que são mais orientadas pela imagem, pessoas que ficam emocionadas ao verem o seu rosto na capa de uma revista. Eu entro em remissão, me fecho, e freak. Eu não gosto de estar lá fora.

US: E ainda assim você realmente chegou lá em My Own Private Idaho. Os personagens principais são prostitutos de rua tentando sobreviver fazendo sexo por dinheiro com homens. No entanto, nunca no filme a palavra "gay" é mencionada. Este filme é sobre alguns segmentos da população gay, ou houve uma intenção consciente de fazer uma distinção aqui?

PHOENIX: Ele é tanto sobre os gays quanto Five Easy Pieces é sobre escavadoras de poços de petróleo. É só um emprego, eis como eu entendi. A cena de abertura em Five Easy Pieces é Nicholson trabalhando numa plataforma de petróleo. Eu acho que é como a vida nas ruas é retratada neste processo. Eu acho que é realmente irrelevante. Eles poderiam ter sido um bando de encanadores.

US: Uma grande diferença entre Five Easy Pieces e My Own Private Idaho, no entanto, é que, no último, muito mais tempo é gasto focando no trabalho.

PHOENIX: Na verdade ele se concentra na busca do menino pela sobrevivência e por encontrar um lar. Seus olhos podem se centrar sobre isso porque é mais sensacionalista do que um trabalho de encanador ou um trabalho mecânico. O tema universal de Idaho é o que está realmente em causa.

US: Qual é o "tema universal"?

PHOENIX: A busca pela sua casa e pelo pertencimento. Voltar às raízes.

US: Houve alguma preocupação emocional, pessoal ou de carreira, que você tenha enfrentado, ao interpretar alguém que se vende por sexo, em vez de alguém que, por exemplo, conserta encanamentos quebrados?

PHOENIX: Fui confrontado com as mesmas coisas que enfrento em qualquer projeto: ser desprendido e entrar completamente no personagem, na medida da pesquisa e compreender o que estiver à mão. Acabei por representá-lo o mais real possível.

US: Enquanto preparava sua parte, que você achou de seu personagem como gay?

PHOENIX: Eu tenho um verdadeiro problema com a separação. Eu não vejo as coisas como "esta pessoa é isso "ou "esta pessoa é aquilo".

US: Mas as pessoas são isso e são aquilo.

PHOENIX: Sim, eu sei, mas eu simplesmente tenho um problema com a terminologia e como ela é interpretada, principalmente nas entrevistas.

US: Assim você se torna absolutamente claro.

PHOENIX: Há um monte de [prostitutos de rua] que estão "honestamente" ali, para ganhar dinheiro, fazendo o que eles têm de fazer. E depois há pessoas que fazem parte da cena de rua gay, que gostam disso, e essa é a sua vida. Mike, a minha personagem, é do primeiro grupo. Ele faz isso apenas por dinheiro. Ele não é parte de toda a cena, o que não muda nada, realmente. É tudo a mesma cena, mas é assim que funciona a sua psicologia. Isso é como eles justificam o que fazem.

US: Como você se preparou para o papel de um garoto de programa?

PHOENIX: Eu fiz um monte de observação em áreas onde isto ocorria. Eu ficava à distância, observando bem de perto.

US: Falou com alguém?

PHOENIX: Sim, a maioria das vezes com moradores de rua reformados, que tinham feito isso quando eles tinham uns 14 anos, e agora eles tinham a minha idade.

US: Que tipo de perguntas você fez?

PHOENIX: Quando eu entrevisto alguém, eu não quero falar sobre eles mesmos. Acho que isso não me dá nada. Falar sobre a "personalidade" de alguém faz ele levantar a guarda, então nós conversamos sobre coisas que gostamos, que tínhamos em comum. Não há necessidade de chegar até o rosto de alguém e dizer: "O que você fez neste dia?"

US: Você aprendeu alguma coisa ao interpretar Mike?

PHOENIX: [Pausa] Eu aprendi um inferno de destino. Eu aprendi a importância de um lar. O que ele não tem, eu me sinto muito sortudo de ter. Isso me fez repensar o que tenho a meu favor.

US: Você já mudou tantas vezes em sua vida, há algo que você nunca pôde ter, porque você sempre tinha que deixar isso para trás?

PHOENIX: Claro que sim. Faculdade. Eu não fui como as outras crianças. Eu acho que é um pedaço muito grande.

US: Você sente falta disso?

PHOENIX: Não, porque eu fiz uma coisa: eu fiz filmes. Outras pessoas são amargas sobre suas opções, mas eu me sinto muito sortudo. Fiquei muito feliz por me movimentar tanto. Houve momentos, caminhando por subúrbios, em que eu vi as casas onde eu sabia que alguém cresceu, foi para a faculdade e voltou e visitou seus pais. E isso é uma espécie de idéia pura. E às vezes eu pensava que era isso que eu queria, mas agora eu sei que não é. Especialmente depois de fazer Idaho. Na verdade, isso parece meio perverso para mim.

US: Por quê?

PHOENIX: Até certa posição você é uma despesa crescente. Seus pais muitas vezes sustentam você até que eles dizem: "É melhor você ir para a faculdade e fazer isso". Existem exceções a essa regra, mas é perversa para mim, e é por isso que eu estou feliz por não ter este crescimento.

US: Você não tem que viver a vida de seus pais?

PHOENIX: Não.

US: E quanto a ser carregado para a América do Sul quando estava com dois anos? E sobre os muitos valores que compartilhamos hoje?

PHOENIX: Carregado? Eles não viviam para si mesmos. Estavam apenas nos dando o que realmente acreditavam, que era Deus. Eles estavam construindo a obra missionária. Mas pelo tempo em que eu tinha 8 anos, eu poderia fazer o que eu quisesse. Foi-me dada total liberdade. E eu a usei. Se eu não pudesse ter feito o que fiz e não tivesse o apoio da minha família, então eu não estaria aqui hoje nesta sala.

US: Já houve uma fase de rebeldia para você em casa?

PHOENIX: Não. Eu acho que meus pais estavam à frente do seu tempo em não nos deixar saber se havia alguma coisa que eles não queriam que fizessemos, de modo que nós não nos rebelamos. Foi psicologia reversa. Não houve tabus.

Continua...


Fonte: US Magazine, em setembro de 1991

3 comentários:

  1. O tipo de vida que o River levou é o tipo de vida que uma pessoa em um milhão leva, talvez por isso ele seja tão único.

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  2. Ele tem sempre uma resposta na ponta da língua. Adorei quando ele disse "Eu tenho um verdadeiro problema com a separação. Eu não vejo as coisas como "esta pessoa é isso" ou " esta pessoa é aquilo"."
    Um cara livre de preconceitos.

    Obrigada =)

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