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segunda-feira, 28 de outubro de 2013

"Dark Blood" é exibido na 37ª Mostra de Cinema de São Paulo



Antes de iniciar a projeção de "Dark Blood", o diretor George Sluizer avisa: trata-se de um filme inacabado, rodado em 1993, que só chegou aos cinemas graças a um esforço de produção. 

Explicação: o ator River Phoenix (o jovem Indiana Jones de "A Última Cruzada") foi encontrado morto aos 23 anos, após uso de drogas, quando restavam três semanas de filmagem.

Esse, portanto, é o último filme de Phoenix, considerado na época um dos atores mais promissores de sua geração. Ele interpreta um garoto solitário que vive com seu cachorro no deserto do Arizona.

Quando o carro de um casal (Jonathan Pryce e Judy Davis) enguiça, ele é chamado para o resgate.

Phoenix comprova seu talento aqui, apesar do roteiro capenga. Para preencher algumas lacunas, o diretor congela a imagem e conta ao espectador como a cena se desenrolaria.

*Dark Blood será exibido pela última vez nesta terça feira, 29 de outubro, na FAAP, às 19h, dentro da programação da 37ª Mostra de Cinema de São Paulo.


Entrevista com o diretor George Sluizer

Folha - O que está faltando para "Dark Blood" ir para o circuito normal de cinema?

George Sluizer - Desde setembro do ano passado que passo todos os meus dias tentando resolver problemas legais com a empresa seguradora, que, digamos assim, finge ser dona de parte dos direitos do filme. Quando tentei contatar essa companhia para ver se ela ainda tinha algum direito, seus representantes falaram que nem sabiam sobre o que eu estava falando, que não tinham conhecimento de nenhum filme chamado "Dark Blood". Perguntei para o presidente do holding que controla a companhia se ele tinha ouvido falar do filme "Titanic". Ele me respondeu: "Não sei sobre o que você está falando". Eu entrei em um mundo no qual as pessoas não têm o menor interesse cultural. 

Mas qual o problema?

O problema certamente não é a divisão dos lucros caso o filme seja lançado, porque eles têm mais de US$ 80 bilhões de lucro por ano. US$ 500, US$ 1.000 ou até US$ 1 milhão não significa nada para essa empresa, porque lidam com bilhões. Um dos funcionário me perguntou quanto custou meu filme. Respondi que custou US$ 7 bilhões. E ela achou que estava certo. Eu precisei explicar que era uma piada, que não gastei nem US$ 1 milhão. 

River Phoenix seria tão grande quanto Brad Pitt se não tivesse morrido?

Ele seria muito grande, porque tinha algo que poucos atores possuem: uma presença extremamente carismática. As pessoas automaticamente gostavam dele. Já o irmão dele, Joaquin, que faz bastante sucesso, não é carismático. Ele é um bom ator, mas não é amado pelas garotas, não tem o charme juvenil e simpático de River. 

O senhor o considerava um grande ator?

Ele entendia seus personagens muito bem e atuava por instinto. Não dava para pedir para River fazer Shakespeare, porque ele era um pouco disléxico. Mas, no momento em que você pedia para fazer um personagem, ele sabia exatamente o que eu queria e traduzia isso de uma maneira emocional. 

Phoenix tinha um histórico de envolvimento com drogas. Sua morte foi tão surpreendente assim para o senhor?

Foi um grande choque para mim. Horas antes de sua morte, nós organizamos uma reunião com Terry Gilliam, um diretor que ele amava por causa de "Brasil - O Filme". River estava empolgado para encontrá-lo. Você não espera alguém assim morrer horas depois. Durante as filmagens, nunca vi nenhum sinal de drogas. Obviamente, eu conhecia seu passado e só o vi chapado uma vez, quando veio em meu quarto de hotel, com um violão para cantar uma música que teria feito para mim. Mas, na preparação, passei quatro dias o tempo todo com River e não vi nada. 

O senhor possivelmente saberia se ele estivesse usando drogas, já que trabalhou com alguns atores hollywoodianos conhecidos pelos pelas farras com álcool e cocaína.

Todo ator jovem em Hollywood usa drogas. Eu te dou US$ 100 se me apresentar um que não faça isso. Eu não conheço: usam álcool ou drogas pesadas. É parte da atmosfera de pertencer a um grupo de atores. Se você não utilizar drogas, está fora da família. Eu ficava espantado quando Kiefer [Sutherland, com quem trabalhou em "O Silêncio do Lago"] me chamava para as festas com os amigos e era muita cocaína e maconha. 

Mas o senhor não usava nada?

Não era meu mundo. Eu fumei maconha quando era jovem e, de vez em quando, fumo para poder dormir, porque é como um bom sonífero. Mas River nunca interpretou chapado. 

Como o senhor enxerga alguns atores como Lindsay Lohan, que parece seguir o mesmo caminho de River Phoenix, mas talvez com menos talento?

Felizmente, eu não preciso ver nada disso mais (risos). Eu ouço de vez em quando na TV que alguém morreu ou tem problema com drogas. Mas nada me surpreende. É parte do mundo de uma pessoa que faz sucesso muito cedo e entra neste furacão de hype que precisa exagerar tudo. 

Houve boatos sobre Joaquin Phoenix ter sido chamado para fazer a narração em off das cenas nunca filmadas do irmão. Aconteceu essa aproximação?

Nunca. Joaquin não gosta da ideia do filme ser lançado ou exibido. 

Que tipo de lembrança o senhor ainda guarda daquela noite em que recebeu a notícia da morte de River Phoenix?

As mais terríveis. Leva um pouco de tempo até você se tocar do que realmente aconteceu. No começo é como um acidente de carro e precisa resolver várias questões práticas. Não tem tempo de entender 100% o que aconteceu e que ele está morto e o filme que você trabalhou por três anos está morto. Quando tudo estava finalizado e todos foram para casa, eu fui um dos últimos a deixar Hollywood. De repente, eu fui atingido: percebi que não queria mais fazer filmes e que atores morressem em meus longas. Eu sempre terminei meus projetos, mesmo os mais difíceis. No entanto, pela primeira vez, me mostraram algo que eu não poderia vencer: a morte. Parei de me sentir a pessoa mais forte da Terra. Foi muito duro.


Fonte: Folha de São Paulo, em outubro de 2013

16 comentários:

  1. Não sei se sou assim tão à favor desse filme, claro que eu amaria poder ver mais um filme do River, mas acho que o melhor era deixar tudo como estava, ele sofreu tanto fazendo esse filme que eu acho que relembrar só vai trazer mais dor para a família dele e para quem o ama. Ninguém mais se importa com arte de verdade mesmo.

    Mas acho que não vou resistir e um dia vou acabar assistindo de uma forma ou de outra.
    Beijos.

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    1. Oi, Nanda

      Eu também fiquei muito dividida, mas acabei apoiando o lançamento e até ajudando com uma doação. Mas entendo perfeitamente a reação negativa da família dele, especialmente agora quando os abutres novamente tentam ganhar dinheiro requentando mentiras criadas em torno da morte dele. Esse livro nojento lançado agora, que supostamente traz "informações" sobre a morte dele, mas que na verdade apenas repete as mesmas mentiras da época. E o pior, como faz tanto tempo, pode vender como "fato" o que não passou de especulação! Dói muito ver, outra vez, a as mentiras sobre a vida de River rendendo a esta mídia marrom, desrespeitosa e podre.

      Estou tentando separar o filme dessa consequência inevitável...

      Beijos.

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  2. achei o Sluizer tão duro com o Joaquin :O
    Não sou contra o filmes a ser lançado. Respeito a opinião do Joaquin e do resto da família e se eles não querem que o filme não seja lançado devem é porque ter fortes razões para isso, no entanto eu desconheço essas razões. Você sabe se eles comentaram algo a respeito?
    Mesmo que as filmagens tenham sido difíceis (tanto pela questão da atriz e também pelo Sluizer), ele parece ter feito um ótimo trabalho no filme como ator. O personagem parece ser interessante como o resto do filme. Não vejo a hora de assistir!

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    1. Oi, Anônimo

      Como eu respondi a Nanda antes, acho que a família temia essa exploração da mídia em cima dele, e pior ainda, sustentada em mentiras que são contadas como fatos. E de novo isso está acontecendo: agora mesmo lançaram um livro como mentiras requentadas sobre ele e o dia em que ele morreu. E a mídia está se aproveitando para vender, de novo, revistas em cima disso. Eles sofreram terrivelmente com isso na época, e creio que temiam reviver aquele horror. E não estavam enganados.

      Já a dureza do Sluizer com o Joaquin, é fácil de entender: os advogados de Joaquin ameaçaram processá-lo se ele usasse seu nome para promover o filme. Sluizer ficou profundamente magoado com isso. Aliás, isso se refletiu até na forma como ele passou a se referir a River e ao filme após isso. Antes da briga, ele dizia que lançaria o filme como uma homenagem ao talento de River, mas hoje dá pra perceber que ele fala sempre de forma genérica, só fala sobre River quando perguntado diretamente. Antes, ele se estendia em elogios ao grande artista e ao lindo ser humano que ele era, hoje Sluizer mantém uma certa distância, até frieza, eu acho.

      É uma pena, porque acho que ambos, o diretor e o irmão, ainda têm muito amor por ele.

      Beijos.

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  3. Putz muito bacana, é nessas horas que eu fico triste por não morar em São Paulo...consumir cultura lá parece tao facil, rs.
    Femme, voce sabe se o filme vai ser exibido legendado? Pq eu to com ele aqui no computador, mas meu inglês não é lá essas coisas...Abraço!

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    1. Acredito que foi exibido legendado, Lucas. Vou checar com a Aline S., ele foi uma das sortudas que pôde ver River no cinema...

      Beijos.

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  4. Oi Femme, voce sabe aonde eu encontro na Internet o filme Dark Blood? Tenho muita vontade de ver o filme apesar de estar inacabado com apenas narrações, confesso que no começo eu não queria porque concordo com a família dele de não querer exibir já que trouxe tanto sofrimento, mas pensei melhor e quero ver mais um excelente trabalho do River! Beijos, Clarice

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    1. Oi, Clarice

      A jude deixou este link de Dark Blood em outra postagem: http://vdownload.eu/watch/12857039-dark-blood-1993-2012.html

      Mas não é legendado. Se você dominar bem o inglês, tá valendo.

      Beijos.

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  5. 20 anos sem River...

    Escrevi um texto sobre ele, se alguém quiser ver...

    http://sempre-o-mai.blogspot.com.br/2013/10/20-anos-sem-river-phoenix.html

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    1. Oi, Kelly

      Eu vou ler, sim, com certeza! Adoro textos sobre River, e matérias e fotos e comentários...rs...

      Beijos.

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  6. " Nessa hora, Sidarta percebeu claramente, com maior nitidez do que nunca, que toda vida é indestrutível e cada instante, eterno." Hermann Hesse, Sidarta.

    Obrigada por cada palavra, cada gesto, cada emoção refletida em teu rosto, obrigada por fazer deste mundo um lugar melhor. Tu nunca será esquecido, Rio.

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    1. Lindo demais isso, Nanda. Fiquei emocionada com suas palavras para ele, isso é tudo o que sinto também. Grata por conhcê-lo e saber que diferença ele fez/faz no (meu) mundo.

      Beijos.

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  7. Acho que esse trecho da música "Há de ser", do Jorge Vercillo, cantada em parceria, inclusise, pelo nosso amado Milton Nascimento, não por acaso amigo do River, o descreve bem: "Cientistas e arqueólogos registrarão indícios de que uma estranha energia paira por nossos vestígios. O sentimento resistirá aos tempos como um fóssil, e o mundo então saberá que ali viveu o amor mais dócil".

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  8. Dúvida que não quer calar: River era disléxico, Femme? Sabes algo a respeito ou alguém no blog?

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  9. Vi Dark Blood em inglês mesmo no Youtube, sem legendas. Aperto no coração de ouvir a narração do Sluizer em lugar das cenas que teriam que ser gravadas por Rivr..Chorei um monte..mas..ele tava mto bem no filme, pra variar, gente..muito bem..tão novinho..Caramba, q falta ele faz..mas Deus sabe o que tinha que acontecer..fazer o q..

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  10. Qto à dislexia, Femme, acabei vendo no livro que estou lendo sobre ele que sim, ele era disléxico, ou um pouco.

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