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domingo, 10 de fevereiro de 2013

"River Phoenix não é exatamente o garoto da casa ao lado" [Parte 2]: NYT/1991

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Por Karen Schoemer,
 
"River é o arquétipo do jovem protagonista masculino", diz Gus Van Sant, o diretor de My Own Private Idaho. Ele tinha uma faixa etária em que ele estava, e em que ele está realmente crescendo fora disso. Mas, na época, em Hollywood, todos que tinham um projeto em que havia um garoto de 18 anos, loiro e de olhos azuis, sempre diziam: 'Nós estamos pensando em River Phoenix neste papel.'"

Em outro sentido, My Own Private Idaho é simplesmente uma versão extrema de temas que surgiram repetidamente nos filmes do Sr. Phoenix. O Peso de Um Passado, A Costa do Mosquito, Espiões Sem Rosto e até Conta Comigo abordaram o significado das relações familiares e, em particular, a tentativa de criar uma situação familiar normal em circunstâncias anormais. Estes problemas são a principal motivação para Mike Waters, que finalmente embarca em uma retorcida jornada circular em busca de sua mãe.

Sentado em um restaurante japonês no SoHo de Manhattan recentemente, o Sr. Phoenix, a princípio, rejeita essas conexões. "Eu não penso nunca em um projeto em referência ao que eu fiz no passado", diz ele. "Ele está isolado para mim. Eu não posso pensar nisso dessa forma, pois torna-se mais uma estratégia de formato. Qualquer roteiro tem o seu próprio pequeno tempo de enquadre."

Ele pára brevemente, momentaneamente desviado por uma conversa entre um homem e uma mulher na mesa ao lado dele. "Eles estão falando sobre a família", acrescenta ele, olhando para o homem. "Ele está falando sobre como a mulher deveria deixar a família e não ser apoiada por sua família, e conseguir um emprego e não ser como sua irmã mais velha que está sempre voltando para a casa como um refúgio. É simplesmente uma coisa universal."

O Sr. Phoenix cresceu em uma família bastante atípica. Ele nasceu em Madras, Oregon, em 1970. Um local chave em My Own Private Idaho, um trecho longo, liso, da estrada onde o Sr. Phoenix começa e termina o filme, está aproximadamente há 15 quilômetros de sua terra natal. Seus pais eram colhedores de frutas itinerantes que levaram a família para a América do Sul quando River tinha dois anos, enquanto trabalhavam como missionários. Pelo final de 1970, a família retornou para os Estados Unidos, acabando por se instalar em Los Angeles. Foi lá que o jovem Sr. Phoenix teve seu primeiro contato com filmes.

"Antes de vir para a América, eu pensava que filmes eram os comerciais da Kellogg e desenhos animados ", diz ele." Então eu vi um faroeste, e eu pensei que as empresas pagavam dinheiro às famílias das pessoas para matá-las.  Eu acreditei exatamente nisso."

Na época em que tinha 9 ou 10 anos, sua fascinação com os mistérios do processo de fazer filmes o inspirou a querer fazê-los por si mesmo. "Com Woody Allen foi a primeira vez que eu realmente não conseguia entender como algo poderia ser tão real", diz ele. "Eu fiquei, tipo, como pode alguma coisa ser assim real e ainda assim inventada? Essa pergunta é o que faz você querer descobrir."

O Sr. Phoenix fez sua estréia no cinema na aventura Explorers, de 1985,  mas foram  Stand by Me e A Costa do Mosquito, no ano seguinte, que trouxeram maior atenção. Com exceção de Uma Noite na Vida de Jimmy Reardon, em 1988, ele conseguiu muito bem ficar longe do padrão de papéis de adolescentes.

Ao longo de sua carreira, o Sr. Phoenix manteve-se próximo de sua família. Três anos atrás, eles se estabeleceram em Gainesville, na Flórida, no que o Sr. Phoenix diz que é "a primeira propriedade que a minha família e eu já compramos na vida." Um irmão, Leaf, que também é ator, o acompanhou recentemente no Festival de Cinema de Toronto. Uma irmã, Rainbow, se apresenta com o Sr. Phoenix em uma banda chamada Aleka's Attic, que tocou em clubes de Nova York e aparece no álbum de compilação "Tame Yourself", feita em benefício da organização de defesa dos direitos dos animais, PETA (People for the Ethical Treatment for Animals).

"Eu tenho muito interesse em saber por que todo mundo acha que há algo estranho e especial sobre a minha família", diz o Sr. Phoenix, "quando, para mim, era a norma. Eu sabia que algo estava terrivelmente errado no estilo americano em geral. Na América você não vê ligação sincera, você vê uma espécie de família politicamente correta. Mas você não pode aprender com a leitura de livros de auto-ajuda, você não pode aprender com a leitura da revista Parenting. Isso é ensinado por seus pais - a menos que você venha, como meus pais, ou o meu pai em especial, de uma família completamente abusiva."

"Mas alguém como Mike, meu personagem em Idaho, ele provavelmente seria um dos melhores pais", acrescenta o Sr. Phoenix. "Assim que ele amadurecer, ele vai ter uma família que não é um tipo de negócio."


Fonte: The New York Times, em setembro de 1991

15 comentários:

  1. Concordo com o River. Eu também acho que o Mike Waters seria um bom pai. Porque, no filme MOPI, essencialmente, ele tá em busca da mãe, do ninho, da raiz, da família.
    Esse personagem me comove profundamente. Eu já fiz mil conjuncturas sobre aquele final, o que se deu dali em diante. Essa seria uma boa perspectiva.
    Nessa entrevista é interessante notar o quanto que o River era um cara reflexivo, observador, inteligente, sensível. Não é à toa que ele um titan na arte de se transmutar.


    ...Porque ouvir conversa alheia, não é corujisse é insumo para a compreensão/tradução da natureza humana... risos.

    O cara arrasava demais. Afiado.

    Palmas para o River.

    Bjs, Rose G.

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    1. Rose, outra coisa interessante de perceber é que esta entrevista foi dada depois das filmagens de MOPI e River se mostra perfeitamente lúcido, coerente, inteligente e dedicado às mesmas causas humanas e sociais nas quais sempre acreditou. Daí, cabe uma reflexão aos que acreditam que ele se transformou em um junkie desorientado, desligado do mundo, depois deste filme. Aqui vemos que, pelo contrário, ele continuou acreditando e defendendo a mesma ética de vida, usando da mesma lucidez e generosidade de alma.

      Palmas para ele SEMPRE! :)

      Beijos.

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    2. Bem,vejo que muitas pessoas gosta desse filme e personagen fala que essa é sua melhor atuação,mais se vocês olharem bem para todos os filmes dele e personagens você consegue ver que ele é tão bom quando,(exemplo,o filme apostando no amor para mim também é uma das melhores atuações,como se ele fosse o "próprio" personagem na minha visão daquele filme,então da para perceber que ele causa essa sensação em todos os personagens dele)não é só esse filme em que ele é melhor no personagem acontece que nesse filme é outro personagem sensível e o estilo está alá James Dean,as pessoas sempre fez comparação dele com james dean então muita gente acha que ele é o próprio personagem,o diretor desse filme gus sempre fica "falando isso que ele é o próprio personagem",na minha opinião este diretor é obcecado pelo river pelo seu nome sua imagem chega ser até meio "nogento" irritante rs,porque outros diretores também sempre falou como o river entra no personagem de cabeça o (diretor peter mesmo falou que ele interpretava o james o tempo todo rs,o ultimo filme dele também o diretor falava isso que ele era sempre o personagem,nos primeiros filmes dele também como jemmy,e no apostando no amor também o colega de elenco falou que ele estava parecendo um fizileiro naval de verdade ate tentou arrumar "briga" numa festa rs, assim como neste personagem ele tentou escrever roteiros para outros personagens também como o james,o boy,ele disse que criava a biografia de cada personagem,que escrevia um roteiro e fala para o personagem,e que muita coisa que ele escrevia não ia para o filme e que ele nem sempre mostrava isso para os diretores,ou seja ele sempre fez as biografias dos personagens e também criava alguns roteiros se possível e os diretores nem sempre ficava sabendo,ele não gostava de contar mais é de onde ele tira todo o processo de construção,é como ele elaborava sua arte tinha seus "truques" rsrs,não gostava de revelar para os diretores como ele faz isso rs,tando que maioria dos diretores acha que ele é o próprio personagem,porque rs ele "enganava" os diretores e produtores nas filmagens kkk afinal ele disse "é o personagem quem esta falando através de mim,e não eu por ele...

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  2. Acredito que todos os personagens do River contribuíram para a construção de sua personalidade e vice-versa. Sua sensibilidade fora do comum conseguiu tornar cada personagem único, e que consegue nos tocar tão profundamente. River conseguiu com muito sucesso deixar sua mensagem pessoal em cada trabalho, apenas com o olhar.

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  3. Agora um comentário aleatório: estava aqui relendo os posts sobre as histórias da Lizzie e da Aline Sodré, e tive uma viagem maravilhooosa aqui na minha cama, com o notebook no colo, lendo os textos...Não me canso de agradecer pelo blog, Femme!

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    1. Que legal, Lucas! Eu também adoro ler os depoimentos, ver o quanto River é inspirador e não foi esquecido. Isso me deixa muito emocionada.

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  4. Fãs do River, me adicionem no Facebook, vamos ter contato, compartilhar histórias e experiências! Quem sabe ate fazer um grupo sobre o River la no fb! é só clicarem no meu nome (neste comentário, ou no que fiz logo em baixo do da Rose).

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  5. Acho que River deveria ter um reconhecimento maior. Ele não era só o menino bonito dos anos 80 e inicio dos 90 ( pra isso tinhamos Rob Lowe), nem era o cara que venceu pelo talento ,ja q não era galã (esse era o Tom Hanks),tente lembrar um único astro desta ou daquela época que engajado com questões sociais e ambientais? Talvez Jolie (q me desculpem ,pra mim é mais marketing que engajamento), River não ele realmente abraçava a causa pq se sentia dentro dela ,tanto q sempre foi muito discreto.Muito mais que um menino bonito e talentoso ´o mundo perdeu um ser humano preocupado de verdade com questões sociais.

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    1. Maria Helena, realmente River se dedicava de corpo, alma e carteira às causas em que acreditava. Antes não era modinha ser defensor do meio ambiente, e ele foi alvo de muitazombaria por causa de suas idéias ambiemtalistas e humanitárias. Mas nunca abriu mão de usar de sua celebridade para defender o que acreditava.

      Eu apostaria até que ele mesmo, se pudesse escolher, preferiria ser lembrado mais como um ativista social do que como o artista fantástico que ele sempre foi.

      Seja bem vinda ao blog. ;)

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  6. Uma das coisas que mais admiro no River é esta capacidade de ser generoso com o outro, este olhar desprendido que vê além das aparências, que é capaz de enxergar cada essência, mesmo que se trate de um mero personagem. É esta empatia que enriquece tanto sua atuação, pois ele realmente era capaz de sentir o que movia aqueles que ele encarnava. E, mais surpreendente de tudo, ele ainda podia sentir esperança por eles! Ele não via em um Mike Waters apenas um menino perdido, mas sim, alguém que tinha em si o potencial de criar um filho e, e mais ainda, fazê-lo maravilhosamente bem. Penso que ter tido um pai que sofreu uma infância abusiva e ainda assim foi capaz de criar filhos lindos, carinhosos e saudáveis mostrou a ele que nenhum sonho é impossível de ser conquistado.

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  7. Adorei esta entrevista, pois ela vai além das mesmas perguntas, e permite que River se expresse de forma muito profunda e bela, deixando que a gente veja claramente seus ideiais de vida. River era mesmo especial...

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  8. River prestando atenção na conversa alheia!!hahaha... A cada post aqui do blog percebo o quanto ele era normal, "igual" a gente... River era um menino muito adorável...

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    1. A diferença é que ele presta atenção na conversa para demonstrar ao interlocutor seu ponto de vista sobre a universalidade do tema "família". River era uma esponja, sempre se alimentando de tudo o que ppudesse ajudá-lo a personificar mais personagens "reais". Menino incrível...

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    2. Gente, há um trecho em especial que me chamou atenção, o que ele diz estranhar pq as pessoas sempre acham que a família dele é atípica e de que forma ele é afetado. Talvez com a maturidade não, mas em entrevistas anteriores eu tive a impressão de certo desconforto da parte dele em ter q explicar sempre coisas relativas à sua família excêntrica, digamos assim. E os repórteres são eram fáceis mesmo. Devia ser irritante isso.

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  9. E só pra não perder o costume, FOTO LINDAAA!

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