?

sábado, 11 de dezembro de 2010

"Rio Profundo" [Parte 1]: The Face Magazine/1989

.

Por Andrew Macdonald


"Quando eu era muito jovem, ficamos abandonados na Venezuela sem nenhum dinheiro. Morávamos em um barraco em uma praia que não tinha banheiro e estava infestado de ratos - realmente horrível. Mas eu nunca tinha medo. Quando você é criado na estrada você não tem medo dessas coisas, você não as questiona. Tivemos fé, muita fé. Meus pais haviam sido missionários, mas se desiludiram com a seita religiosa em que eles estavam. Minha irmã Rainbown e eu cantávamos nas esquinas, nos hotéis e aeroportos, em qualquer lugar onde se poderia ganhar algum dinheiro para a comida. Quando não havia dinheiro suficiente, nós orávamos e comíamos coco que encontrávamos na praia."

Em uma suíte do luxuoso hotel em Los Angeles, aos 19 anos, River Phoenix recorda o início da estranha odisséia que o levou de um estilo de vida alternativo ao colo de luxo ofertado por Hollywood. Sentado em uma cadeira de espaldar reto, em seu flat, os cabelos de ouro caindo suavemente sobre seus olhos, não tão em desacordo com a elegância em torno dele como fora dele, ele fala em tons suaves, muito suaves.

"Se eu tenho alguma fama, eu espero que eu possa usá-la para fazer a diferença. A verdadeira recompensa social é que eu posso dar minha opinião e compartilhar meus pensamentos sobre o meio ambiente e a própria civilização. Há tanta merda acontecendo com as pessoas que estão tirando proveito de suas posições e criando um monte de negatividade."

Ele diz isso muito sinceramente, e com humildade suficiente para te convencer rapidamente, afinal de contas, as celebridades mais famosas falaram da boca pra fora sobre o planeta antes e têm feito muito pouco sobre isso. Mas não há dúvida sobre a sinceridade de River Phoenix e é esta qualidade que o tornou o pretendente favorito ao estrelato em Hollywood.

A trilha hippie leva a muitos lugares, mas raramente a Hollywood. Como River Phoenix chegou a se tornar, aos 19 anos, uma das mais quentes promessas do cinema é uma odisséia que nenhum roteirista da época poderia inventar.

"River não tem um osso falso em seu corpo", diz o diretor Sidney Lumet sobre o desempenho de Phoenix em O Peso de Um Passado, que em breve será lançado por aqui. "Ele não pode dizer uma frase falsa. Ele parou no meio de uma cena enquanto estávamos filmando e disse: 'Isto parece falso para mim.' Eu ouvi novamente. Ele estava certo. Cortei a cena. Enquanto River seguir seus instintos, escolher as coisas em que ele acredita, nada poderá pará-lo. Vi-o pela primeira vez em Conta Comigo e ele tinha essa extraordinária pureza sobre ele."

"Depois ele fez A Costa do Mosquito e você sentiu o crescimento do seu poder ser subestimado."

"Havia um par de filmes que ele poderia não ter feito: Espiões Sem Rosto e Jimmy Reardon - roteiros terríveis, mas ele não tinha, na época, a opção que ele tem agora. Ele ainda tem um longo caminho a percorrer. Ele tem que fazer a transição de ator infantil para adulto, mas ele tem tanta inteligência e um coração tão bom que eu não tenho qualquer dúvida que ele vai fazer isso."

A enorme variedade de desempenhos na lista de filmes feitos por Phoenix deve fazer outros atores chorarem. Em seu primeiro filme, em 1985 - Viagem ao Mundo dos Sonhos de Joe Dante - ele interpretou um pequeno gênio cientista. Em 1986, em Conta Comigo, de Rob Reiner, sucesso surpresa de rito de passagem, ele interpretou um dos quatro garotos que descobrem um corpo em uma viagem de uma noite de acampamento. Ele assume a liderança e se torna uma influência estabilizadora. Era uma parte substancial e Phoenix voou por instinto, levando o diretor Peter Weir a lançá-lo como o filho de Harrison Ford em A Costa do Mosquito. Seu papel apresentou um bravo desempenho de tranquila intensidade, como o garoto forçado a lidar com um pai fora de sincronia com a realidade. Ele era agora alguém para se prestar atenção. Em termos de Hollywood, ele era hot. (Hot o suficiente para lhe ser oferecido o papel do jovem Indy na terceira aventura de Indiana Jones. "Eu queria fazer algo leve, puro entretenimento", diz Phoenix. "Eu amo os filmes de Indiana Jones e fazer parte de um foi muito divertido para mim.")

Seus dois próximos filmes, Espiões Sem Rosto e Uma Noite na Vida de Jimmy Reardon, não refletem nem o seu estatuto de crescimento, nem seus melhores instintos. Em Espiões ele interpreta um menino americano comum que descobre que seus pais são espiões russos. Em Jimmy Reardon ele é moldado como um típico adolescente ardendo sobre drogas e sexo. "Tive alguns problemas morais fazendo esse filme", diz Phoenix.

"Não é que esses personagens não existam, mas não tenho certeza de quão valioso seja esse tipo de filme. Digamos que eu levei esses trabalhos com uma insegurança, um sentimento de que eu poderia nunca mais trabalhar novamente."

Mas a insegurança e o desenraizamento são uma parte da sua herança. River Phoenix nasceu em uma cabana em Madras, Oregon, em 23 de agosto de 1970. Seus pais, John e Arlyn Phoenix, estava colhendo maçãs, tentando, como tantos jovens dos anos sessenta, cair fora do convencionalismo para encontrar uma forma alternativa de vida. Era o auge do movimento de protesto contra a Guerra do Vietnã, de desinformação deliberada do governo, do questionamento da autoridade.

Houve alguns momentos difíceis, admite Arlyn Phoenix, uma mulher pequena, com cabelos curtos e um rosto sereno. Mas ela nunca se sentiu tentada a voltar a fazer parte do pacote. "Eu poderia ter [voltado] em algum momento. Mesmo com os cinco filhos (depois de River veio Rainbown, Leaf, Liberty e Summer) eu poderia ter dito: "Eu vou ligar para minha mãe. Minha família não é rica, mas sempre poderia ter vindo com  1000 dólares para as passagens aéreas. Nunca cheguei a isso. Nunca me pareceu uma alternativa mais interessante do que o plano que estávamos vivendo. Eu não consigo imaginar isso de outro jeito. Lembrei-me da vida que eu vivia em Nova York, como secretária, compras na Saks da Fifth Avenue. Eu sabia que minhas respostas não estavam lá. Nunca houve qualquer dúvida sobre voltar ou do que fazer a seguir. Todos evoluem."


Continua...


Fonte: The Face, em julho de 1989

6 comentários:

  1. Muito obrigada por esse blog,é tão difícil achar alguma informação sobre ele,se tiver a maioria é inglês.River é muito especial.

    ResponderExcluir
  2. Seja bem vinda, LudMarien.

    River é tão especial que não pode nem deve ser esquecido. Fico feliz que você saiba disso também...

    ResponderExcluir
  3. Todos temos talento, isso é bíblico. Seja qual for o seu talento, utilize-o para promover o bem e é isso que faz de você um ser especial.
    River sabia disso, todas essas questões humanitárias que ele era envolvido, provava isso. Ele tinha popularidade, sabia que iam escutá-lo, era uma voz jovem, querida e bem vista, então, o pouco tempo de vida que teve, ajudou as pessoas, os animais, meio ambiente, por isso era tão especial.

    Obrigada =)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. River deu tudo de si, sem medo e sem pena. Ele se deu às suas causas, à sua família adorada, aos seus amigos queridos, à sua platéia.imensa. Ele se deu à Arte. E fez isso sempre tentando fazer a diferença. Um menino admirável.

      Beijos.

      Excluir