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sábado, 12 de dezembro de 2015

"Lendas das Telas: River Phoenix" (Cherwell/2015)


Patrick Oisin Mulholland lança uma reflexão sobre a tragicamente curta carreira do ícone adolescente




Por Patrick Oisin Mulholland,

O "James Dean vegan". É assim que a cultura popular prefere lembrar River Phoenix, se é que o faz. 

Em outros tempos galã teen, músico e indicado ao Oscar (Melhor Ator Coadjuvante em Running on Empty, 1988), hoje em dia sua memória é um adendo, embora interessante - uma nota de rodapé para a biografia de seu irmão mais novo, Joaquin. Mas River foi mais do que isso, muito mais.  

Em vinte e três curtos anos que ele viveu uma vida enchendo cada "implacável minuto com sessenta segundos do valor da distância percorrida." [N.T.: citação de um poema de Rudyard Kipling] Apenas mais uma estrela infantil destruída dos anos 1980?  

Dificilmente, e essa é a verdadeira tragédia: que alguém tão cheio de vida, tão sintonizado com o pulso e o ritmo do mundo em torno dele poderia ser reduzido a um par de linhas em um obituário e um "você se lembra quem" em recortes de artigos na parte de trás de revistas.

Nascido e criado em uma família de hippies, River teve uma infância incomum, para dizer o mínimo. Filmes como A Costa do Mosquito (1986) encontraram um paralelo improvável em sua própria educação ao lado do culto controverso "Os Meninos de Deus", e cantando nas ruas de Caracas, na Venezuela.  

No entanto, foi o clássico sobre amadurecimento Stand by Me (1986), e o desempenho desarmante de River como Chris Chambers, que marcou o início de sua ascensão à fama. A partir de então, o ativista da PETA mudou-se de vento em popa, não satisfeito em receber seus cheques de pagamento, mas em fazer filmes - filmes que significavam alguma coisa.

Falando para Charlie Rose, Ethan Hawke diz como "My Own Private Idaho (1992) estabeleceu o padrão para os jovens" que estavam construindo uma carreira para si próprios. Este filme independente e atrevido, a história de um garoto de programa, gay e narcoléptico se aventurando em busca de sua mãe perdida, foi uma escolha corajosa de River.  Isso cantou de promessa, apesar de promessa interrompida

É verdade, o brilhantismo de River nunca foi totalmente realizado - nem na música nem nas telas do cinema. No entanto, é a sugestão - aquela idéia do que poderia ter sido - aqueles brinquedos da nossa capacidade indispensável para admirar, que nos leva a formular a questão: "E se?" 


Fonte:  Cherwell, em novembro de 2015

sábado, 5 de dezembro de 2015

River Phoenix: A Última Entrevista (SET/1993) [Final]




Por Jean-Paul Chaillet,

PARTE FINAL

P:  Você citou a questão atômica e vários atores emprestam suas vozes para passar qualquer tipo de mensagem.  No seu caso, existe uma certa aura de anonimato à sua volta e, excetuando-se as capas de revistas adolescentes, a gente não  lê nem ouve muita coisa sobre você...

RP:  Eu sempre tive a impressão que poderia fazer alguma diferença, que eu poderia influenciar se usasse esse orifício que tenho na cabeça para me comunicar com as pessoas através da mídia. Eu via a mídia como arma, mas na verdade eu sou a arma. 

E acho que eu era ingênuo em pensar que o que você diz pode ser tomado de uma maneira didática.  Na verdade, por que eu estou apreendendo todo o tempo. Então eu tentava dar entrevistas, não é? Mas eu vejo as coisas de outra maneira.  Por que se existe alguém cujo trabalho eu respeito é Gary Oldman, e não foi por que li em alguma revista. O que me faz pensar que ele seja independente disso.  Harrison Ford também é independente de assuntos políticos e se mantém fora das publicações.  E, para falar a verdade, quem quer ouvir a opinião de artistas sobre assuntos que podem ser lidos nos jornais? 

Quando tenho que falar de um assunto muito importante, sinto que doutrinar o público, principalmente se esse é jovem e pouco informado, não é uma coisa errada.  No passado, falei muita besteira, muitas coisas que no dia seguinte mudei de ideia, muitas vezes eu era um personagem nas entrevistas. Falei muita coisa em tom sério que não passava de brincadeira.  Fazia isso como um laboratório, uma espécie de queda de braço com a imprensa. Mas agora não estou mais interessado nesse tipo de atitude. Gostaria de ser mais minimalista e dizer apenas o que tenho certeza. E além disso, sou uma pessoa muito simples. 


P:  Você não mora em Hollywood, e para uma pessoa que precisa trabalhar lá é necessário saber lidar com quem vive nela – os agentes, produtores, saber negociar. Existe algo que você precisa negociar?

RP:  Sim. Você tem que negociar o tempo inteiro. Existem pressões e uma série de expectativas sobre sua carreira. E as pessoas na indústria de cinema espalham boatos. Eu não pergunto a opinião das pessoas e realmente não me importo.  Não estou aqui para benefício da minha carreira ou da minha conta bancária. Eu só gostaria de ser inteligente e não gastar muito dinheiro. Mas não tenho nenhum plano de carreira, vou lendo os filmes e se alguma coisa me atrair, então ótimo. Por isso, a única estratégia por trás de The Thing Called Love é que a historia tinha que ser  um espécie de paradoxo depois de Garotos de Programa.  Eu quis que fosse assim porque seria bom ser ouvido no Meio Oeste e no Sul, onde meu personagem anterior não era bem visto.




P:  Em Garotos de Programa você faz um personagem que não era abertamente gay, mas... por outro  lado...

RP:  O problema não era tanto pelo que o sujeito era, pelo menos para o mercado negro. Não é ilegal ser gay; prostituto é. Esse é um campo onde uma série de pessoas tende a confundir o personagem com você. Sob o meu ponto de vista, tanto faz. Mesmo se eu fosse igual.  Mas existem certas distorções quando se representa um papel que pode limitar a existência de outros personagens que também têm que ser ouvidos. Sabe, eu não me preocupo com auto-imagem.
 
P:  Nas próximas semanas serão iniciadas as filmagens de Entrevista com o Vampiro. Temos aí o exemplo de um filme que nem começou e já tomou conta do noticiário, por causa da escolha do elenco. Isso o está perturbando?

RP:  Não, por que eu nem o vejo como um filme no qual eu vá tomar parte.  Eu não vou fazer um filme. Como você sabe, eu vou receber o meu diploma de jornalismo.  Vou acompanhar algumas entrevistas, vou ver esse burburinho todo, vou tentar chegar ao fundo disso tudo. É assim que eu estou tratando as coisas. Quando chegar no final é que eu vou saber. Não tem nada a ver com o planejamento de uma carreira. E eu tenho um grande respeito por qualquer um com quem eu venha a trabalhar. E desejo toda felicidade a eles.

P:  Você disse que não assiste a muitos filmes. Não é importante para você, como ator, tomar conhecimento do que é produzido a sua volta?

RP:  É bom saber o que tem sido feito, dos bons, pelo menos pela mídia. Não são todos, mas a maioria, os óbvios, não passam de poluição mental. E eu realmente não quero contaminar o meu trabalho, a minha maneira de pensar, com coisas que não irão acrescentar nada a minha interpretação. Nessa era da comunicação, você tem que ser seletivo.

P: Você está desenvolvendo algum projeto próprio?

RP:  Sim, está no papel. Algo que me é muito querido, mas que não comecei direito. Espero acabar de escrever e fazer esse filme nos próximos anos. Alem disso existem outros pequenos projetos.   

P:  Você perdeu a ingenuidade? Quando apareceu não passava de um garotinho.
 RP:  Não era ingenuidade. Era mais ignorância, não sabia das coisas. E falava o contrário do que estava pensando. Pensava que eu estava falando a verdade e... Mas eu vou apreendendo com o tempo. Tentativa e erro. Ultimamente tenho evitado falar a verdade quando pode sugerir algo negativo, manipulável. Estou tentando parecer otimista e educado.        


Fonte: Revista SET, em novembro de 1993