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Por Roger Ebert,
Como você explica isso para seus filhos, quando você tira o cachorro da família e o põe na rua e diz que certamente ele irá encontrar uma casa - e então você dirige para fora da cidade, para sempre? É o que acontece em uma das primeiras cenas de O Peso de Um Passado, e a coisa mais assustadora sobre isso é que as crianças encaram isso muito bem. Eles já abandonaram cães da família antes. E eles deixaram a cidade um monte de vezes.
O filme é sobre os Popes, um casal que está oculto desde 1960, e sobre seus filhos, especialmente Danny, que está no último ano da escola e nunca conheceu qualquer outro tipo de estilo de vida. Os Popes estavam envolvidos com política radical, e eles explodiram um prédio, e havia um zelador lá dentro que eles não sabiam que estaria lá. Eles estão em fuga desde então, mudando de cidade, mudando de nome, aprendendo a encontrar um emprego que não atraia a atenção, aprendendo a manter as crianças em casa no dia em que devem tirar a foto da escola.
Mas há uma coisa engraçada sobre o passado. Quanto mais você fugir dele, mais ele estará em seus pensamentos. E agora o tempo está recuperando o atraso com esta família. O que, por exemplo, Danny (River Phoenix) vai fazer? Ele é um pianista talentoso, e através de um de seus professores, ele recebe uma bolsa de estudos para a Juilliard School. Mas ele não pode aceitá-la, a menos que ele apresente seus boletins do ensino médio, que estão espalhadas ao longo de sua trilha em muitas cidades sob muitos nomes diferentes.
A vida, a curto prazo, continua. Danny tem uma namorada (Martha Plimpton), cujo pai é o professor de música. Eles compartilham segredos, mas Danny não pode partilhar o seu mais profundo segredo. Esta é a primeira vez que ele tem uma namorada, a primeira vez que ele permitiu que alguém chegasse tão perto, e ele tem que aprender um truque, o truque de aprender a confiar sem ser confiável. Plimpton sabe que algo está errado, mas ela não sabe o que é.
A família tem sobrevivido a cada crise que veio de fora, cada ligação próxima do FBI, cada pergunta de um vizinho intrometido. Mas isso é uma ameaça que não tem resposta, porque vem de dentro: não é mais possível para essas pessoas evitar o questionamento dos próprios alicerces sobre os quais eles construíram suas vidas.
E esse questionamento leva ao ponto emocional mais alto do filme, quando o personagem de Lahti liga pra seu pai (Steven Hill) e providencia um encontro para o almoço. Há muito tempo, ela partiu seu coração. Ela desapareceu de sua vida há anos. Agora, ela quer que seus pais levem Danny, de modo que ele possa ir para a escola de música. Ela vai perder seu filho, assim como seu pai a perdeu. É irônico, e é muito triste, e até o final da cena, nós somos conduzidos através de um espremedor.
O filme foi dirigido por Sidney Lumet, que fez um filme chamado Daniel, há cinco anos, inspirado nos filhos de Julius e Ethel Rosenberg, que foram executados por espionar para os russos. Esse filme nunca foi muito claro sobre o que pensava sobre os Rosenberg - não sobre se eram culpados ou inocentes, mas se eram bons ou maus. Eles foram vistos por tantos filtros políticos e históricos que nunca sabíamos o que estávamos olhando. O Peso de Um Passado não comete esse erro. Estas são pessoas que fizeram uma escolha e vivem com as consequências dela, e durante o curso do filme eles vão ter que reavaliar suas decisões.
A família não é muito política, em absoluto. A política, ironicamente, têm sido deixada para trás - esse tipo de envolvimento iria explodir a cobertura da família Pope. O filme é um drama doloroso, enormemente movido em torno de uma escolha que deve ser feita entre ficar juntos ou se separar e talvez cumprir um potencial há muito adiado. Os pais nunca realizaram qualquer potencial que eles tinham, por causa de sua vida subterrânea. Agora é justo que eles peçam ao seu filho para abandonar o seu próprio futuro? E como eles fazem isso? Empurrando-o para fora do carro, e indo embora, e confiando que ele vai encontrar uma casa, assim como o cão fez?
Lumet é um dos melhores diretores na ativa atualmente, e sua habilidade aqui é o jeito que ele conduz uma trama melodramática e a torna real, tornando-a específica. Todos os personagens coadjuvantes são convincentes, especialmente Plimpton e seu pai (Ed Crowley). Há um arrepiante papel de coadjuvante vivido por L.M. Kit Carson como o amigo radical dos velhos tempos. E há grandes atuações nos papéis centrais. Phoenix essencialmente carrega a história, isto é sobre ele. Lahti e Hill tem aquela cena devastadora juntos. E Lahti e Hirsch, abraçados na cama, com medo de perceber que eles podem ter chegado a uma encruzilhada, são tocantes, podemos ver como eles dependiam uns dos outros. Este é um dos melhores filmes do ano.
Fonte: Chicago Sun Times, em setembro de 1988