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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

"Meu Amigo River Phoenix", por Milton Nascimento


Um relato exclusivo do cantor sobre o seu saudoso amigo superstar



Ícone de uma geração, o ator manteve uma profícua relação com o cantor Milton Nascimento. Às vésperas dos 20 anos do seminal filme My Own Private Idaho, Milton remonta a amizade com o ídolo que o mundo perdeu.


Por Milton Nascimento


“Meu primeiro contato com River Phoenix foi por volta de 1988. Eu estava em Nova York, tinha acabado de terminar uma turnê de quatro meses, com shows por mais de 40 cidades, na Ásia, Europa e América. Antes de voltar ao Brasil, passei uns dias num hotel próximo ao Central Park.
Numa tarde qualquer, estava lá vendo TV no hotel quando começou um filme: The Mosquito Coast. O nome de River Phoenix nos créditos logo chamou minha atenção, mas até então eu nunca tinha ouvido falar dele. Quando acabou o filme, fiquei prestando atenção nos créditos e, para minha surpresa, o ator que eu mais tinha gostado era justamente River Phoenix. Neste mesmo dia, também passou outro filme dele na TV: Stand By Me. Fiquei tão impressionado que decidi escrever uma carta para ele. Foi quando surgiu uma música pronta na minha cabeça. Coloquei o nome: “River Phoenix (Carta a um jovem ator)”.
Algum tempo depois, na gravação do disco Miltons, fiquei com vontade de gravar a música. Mas precisava de uma autorização. Liguei para o Quincy Jones, que me passou o contato da mãe do ator. Liguei:"Como assim? Colocar o nome do menino na música de alguém que eu nem conheço?"
Até que a filha dela, mais nova que River, perguntou:
"Quem quer colocar o nome do River numa música?"
"O nome dele é Nascimento, disse que é do Brasil" – respondeu a mãe. "Mas eu já disse que não."
A garota, que se chama Rain, interveio. Contou que ela e o irmão gostavam muito “daquele cantor brasileiro”, e pediu a mãe que mudasse de ideia. Resultado: gravei a música com o nome dele. Olha só como são as coisas… Certa vez, River me disse que estava no mesmo hotel onde eu assistira The Mosquito Coast. Lá, ouviu uma música minha no rádio. Gostou tanto que, mal acabou a música, já estava numa loja de discos procurando coisas minhas.
Quase um ano depois, em 1989, eu estava muito envolvido com a ONG Aliança dos Povos da Floresta, e fui fazer uma viagem de pesquisa pela Amazônia. Este trabalho deu origem ao disco TXAI. Como eu já estava mais próximo de River, o chamei para participar do disco. Ele gravou um discurso em defesa do meio ambiente na faixa “Curi curi” (Tsaqu Waiãpi).

 Sua família era completamente envolvida com as questões ambientais; tanto que, quando eu o convidei para participar comigo da ECO 92, no Rio, ele trouxe a família inteira. Na época, ele tinha acabado de participar do filme Indiana Jones e a Última Cruzada, que estava lotando cinemas do mundo.
Depois do encontro no Rio, levei River para minha cidade, Três Pontas, no sul de Minas Gerais. Lá, ele se misturou a todos, e passava o dia cercado por um monte de gente. Ninguém acreditava quando via um astro como ele andando despreocupado pelas ruas de uma cidadezinha mineira.
Nós ainda nos encontramos várias vezes nos Estados Unidos. Ficamos muito amigos, mesmo. Prefiro pensar nele com boas lembranças. River é uma pessoa que faz muita falta nesse mundo de hoje em dia. Era um cara que estava ali sempre, para tudo que você precisasse.


Fonte: RG, em novembro de 2011

domingo, 20 de novembro de 2011

"Garoto Encontra Garoto" [Parte 3]: Interview Magazine/1991

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Por Paige Powell e Gini Sikes,


GS: Como vocês dois administravam o set?

PHOENIX: Todas as manhãs, Matt [Ebert, assistente de produção] nos acordava cantando músicas de shows. Ele nos arrastava pelas nossas orelhas até a van.

REEVES: Não, cara. Eu estava sempre lá, rápido e pronto.

PHOENIX: Mas ele tinha que me arrastar pela orelha até a van. Eu sou muito teimoso em relação a levantar de manhã.

REEVES: Sim, cara. Mas eu sabia que Matt iria me agarrar pela orelha também, então eu tinha acabado de sair.

PHOENIX: Sim, Keanu iria esperar lá embaixo com o seu roteiro na mão, pronto para entrar na van, e eu estaria lá em cima atrapalhado com minhas roupas, embora eu normalmente durma com minhas roupas.

PP: Gus era muito espontâneo sobre que cenas vocês gravariam a cada dia, não era?

PHOENIX: Eu não tinha nenhuma pista. Eu não sei quando ele decidiu filmar o que ou onde ou quando ou porquê, cara.

PP: Bem, quando vocês acordavam de manhã, vocês não sabiam que cena iriam filmar?

REEVES: Em geral, sim. Tenho certeza de que outras pessoas estavam dizendo para Gus, "Você precisa saber o que você vai fazer amanhã." Eu não sei se isso era necessariamente o seu impulso pessoal, mas acho que a máquina estava perguntando a ele que íamos fazer para que nós pudéssemos estar prontos.

PP: O filme começa em Portland, move-se para Idaho, e depois, para a Itália. Enquanto filmava as seqüências, alguma coisa se desenvolveu que vocês não poderiam ter previsto no início?

PHOENIX: A cena da fogueira foi definitivamente uma combinação de Keanu e eu trabalhando juntos fora do set, brincando com o improviso, falando sobre nossos personagens. Mergulhando profundamente dentro deles, descobrimos muito sobre a nossa relação dentro do filme, e quando estávamos prontos para filmar a última cena nos Estados Unidos, tivemos suficiente discernimento para percorrer um inferno muito mais profundo do que o roteiro jamais nos disse que seria.

GS: Esta é a cena em que Mike diz a Scott que o ama.

PHOENIX: Havia muito de um amor profundo [no filme]. Você não sabe até ver as filmagens se é isso ou não. Mas porque nós filmamos em seqüência, fomos assistindo o filme se desenrolar diante de nós, e quando essa cena chegou, nós poderíamos só, tipo, improvisá-la.

PP: Essa cena é muito parecida a que você fez em Stand by Me ...

PHOENIX: A cena da confissão. Também é semelhante a uma cena em O Peso de Um Passado. Gus viu ambos os filmes, talvez por isso seja uma amostra deles.

PP: Quando eu visitei o set em Itália, percebi que ambos eram sempre muito gentis. Vocês tinham ficado sem dormir e estavam realmente cansados, mas eram sempre atenciosos para com os funcionários do hotel, os motoristas de limusines. Todos.

PHOENIX: Oh, yeah. Nós somos grandes caras. Realmente somos pessoas maravilhosas. Eu acho que Keanu e eu somos os caras mais legais do planeta - com exceção de George Bush e Ronald Reagan.

REEVES: Eles são os caras mais doces! Eles são bons para seu clã. Devemos agradecer. Agora que nós temos a oportunidade. "Obrigado, rapazes!"

PHOENIX: [risos] Sinto muito. Você nos fez um elogio.

PP: Tudo bem. Mas é verdade - vocês pareciam demonstrar uma consideração genuína para qualquer um com quem vocês trabalhavam no set.

PHOENIX: Mas falando sério, nós sabemos o que é estar no fundo. O Senhor Jesus Cristo nos deu a chance de estar no topo. Então, não vamos abusar disso. Nós vamos ser muito gratos por isso, uma agradável sorte que temos em nossas posições. Somos jovens homens muito sortudos. Nós fazemos o que queremos, temos de ser criativos e fazer dinheiro.

REEVES: Correto, irmão. Correto.

GS: Então o que mais vocês estão fazendo agora?

PHOENIX: Eu quero comprar uma câmera de 16mm. Eu não estou comprometido com a idéia de ser um diretor, mas eu gostaria de tentar alguns curtas-metragens. Eu realmente gosto de documentários. E eu quero dirigir através das montanhas onde eu morava, quando eu estava fazendo esta série de TV [Seven Brides for Seven Brothers] quando eu tinha doze anos. Eu vou com minha namorada.

REEVES: Cada momento é precioso. Estou tentando viajar. Eu quero ir para Paris. Provavelmente será apenas um sonho irrealizado. Eu gostaria de ler alguns livros. Tomar algumas aulas de canto.

GS: Para fazer mais Shakespeare, talvez?

REEVES: Hum, quem sabe? Eu realmente gostaria de fazer Shakespeare com River. Eu acho que nós receberíamos uma vaia. Poderíamos fazer Sonho de Uma Noite de Verão ou Romeu e Julieta.

PHOENIX: Eu serei Julieta.


Fonte: Interview Magazine, em novembro de 1991


sábado, 19 de novembro de 2011

"Garoto Encontra Garoto" [Parte 2]: Interview Magazine/1991

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Por Paige Powell e Gini Sikes,


GS: Uma de suas co-estrelas é um ator de Warhol - Udo Kier, de Drácula e Frankenstein, o que me leva a uma pergunta lasciva ...

REEVES: É o seu trabalho!

GS: Quanto vocês estavam confortáveis ​​filmando sua cena de sexo a três com Udo?

PHOENIX: Bem, eu realmente não ajudei em nada. Enquanto fazíamos a nossa cena, eu disse: "Basta pensar, Keanu. Quinhentos milhões de suas fãs estarão assistindo isso um dia." Como um idiota estúpido. Eu o fiz se sentir completamente auto-consciente. Mas Keanu ficou acima disso. Gus me repreendeu sem parar à noite depois.

REEVES: Ele fez isso mesmo?

PHOENIX: Sim. Ele me repreendeu muito. Eu quase chorei. Isso foi terrível para mim. Eu só estava tentando quebrar o gelo. Sabe, eu pensei que era engraçado - eu estava tentando salvar Keanu de ter sua imagem congelada por garotas de doze anos de idade em casa!

REEVES: Obrigado, irmão.

PHOENIX: Mais tarde, Keanu foi filmado nu com a bela Chiara [Caselli, que interpreta a namorada italiana de Scott, Carmella]. Essa cena foi realmente uma chatice. Ele estava se divertindo muito com essa garota, mas estava muito frio e eles estavam morrendo. Então eu acho que eles estavam mais preocupados com a temperatura do que a nudez. Isso levou cinco horas.

GS: A cena que vocês fizeram com Udo deve ter sido mais fácil simplesmente porque vocês dois já eram bons amigos. Como vocês se conheceram?

PHOENIX: Na verdade, eu conheci Keanu através de minha ex-namorada Martha [Plimpton] quando eles estavam fazendo Parenthood - O Tiro Que Não Saiu Pela Culatra, eles estavam se beijando regularmente. Meu irmão, Wakim [erro do jornalista], também conhecido como Leaf, também estava nele. Então, Leaf e Marta foram os seus amigos antes de eu mesmo ser um amigo dele. Então, eu me encontrei com ele em Te Amarei Até Te Matar. E eu gostei do cara. Eu queria trabalhar com ele. Ele é como meu irmão mais velho. Mas menor.

PP: Keanu, Scott é um garoto rico que chafurda na sarjeta para se rebelar contra seu pai, que é o prefeito de Portland. Gus baseou Scott no Príncipe Hal da peça Henry IV de Shakespeare ...

REEVES: Sim, mas no mundo de Shakespeare, o Príncipe acabou por ser um bom rei. Para evitar conflitos internos, ele faz estas guerras. Todos os duques e senhores eram muito felizes porque os homens estavam indo morrer por uma causa nobre e as pessoas estavam sendo alimentadas. Mas, em Idaho, Scott não está ligado ao povo. Ele tem sua própria agenda. Ele apenas acompanha todos e segue seu próprio caminho. Assim, ele não tem, tipo, o aspecto nobre. No final, seu pai era muito compassivo e preocupado. Talvez seja isso que faz com que seja um conto contemporâneo.

GS: Você estava preocupado com tudo o que Mike fala em linguagem de rua ao longo do filme, enquanto Scott entra e sai dos versos de Shakespeare? Você acha que a mudança da linguagem pode parecer chocante, Keanu?

REEVES: O material de Shakespeare era um dos aspectos do roteiro. Gus disse que era algo para fazer e para pensar sobre isso. Então, esse foi o meu jogo. Eu não estava preocupado. Pareceu desafiador e interessante para mim.

PHOENIX: Eu estava com medo de não trabalhar.

REEVES: Por mim?

PHOENIX: Não, por todo o filme. Eu senti que nós precisávamos ser muito claros sobre como montamos as cenas de transição entre o material simulado de Shakespeare e o material de rua dramatizado. Era preciso haver degraus para aquelas cenas - de modo que não seria como saltar de preto e branco para Technicolor. Era importante organizar nossos pensamentos e apoiar Gus estilisticamente.

REEVES: Eu não estava ciente de todos os estilos diferentes ocorrendo no filme, inicialmente, no entanto. Você estava olhando através da câmera muito mais do que eu.

PHOENIX: Isso era muito do meu dever no personagem de Mike, me preocupar com a perspectiva do diretor. Eu estava ciente de como minha narcolepsia afetaria a narrativa, como a narcolepsia encaixada de forma aleatória afetaria o espectador. Fico feliz que isso não terminou sendo um conto através da minha visão da narcolepsia. Mas foi algo pelo que eu tinha que assumir total responsabilidade, e isso me fez fazer todas estas perguntas. Até mesmo quando eu não estava participando da cena, eu tinha que estar ciente dela em certa medida para que eu pudesse me fazer combinar com tudo.

PP: A coisa que eu gosto muito sobre Gus e seu trabalho é a sua compaixão. Mala Noche simplesmente rasgou coração. Em My Own Private Idaho, ele está lidando com a busca da casa e da família. Esse tema foi importante para vocês na decisão de fazer este filme?

REEVES: Oh, não para mim.

PHOENIX: Eu tenho sentimentos muito fortes sobre a busca da casa e da mãe. Eu achei que era muito, muito tocante. Você simplesmente sabia que para que alguém pudesse chegar a essa premissa, teria que ter algo por trás dele em termos de conhecimento e experiência. O que Gus tem.

PP: Como foi trabalhar com Gus enquanto pessoa - vivendo em sua casa, na locação, e assim por diante?

PHOENIX: Gus tem aquelas qualidades que todos nós precisamos voltar a ter. Olhos abertos, ouvidos abertos, o fluxo de consciência de uma criança. Sabe, as crianças fazem coisas - como colocar seus dedos dentro de tubulações estranhas em casa ou fazer tudo suave porque eles estragaram tudo e a mamãe está brava com eles. Esse é Gus. Sendo apenas um garoto. Ele era muito colaborativo, completamente escancarado. Era como uma ação em família - colegas cooperando no estilo.


Continua...


Fonte: Interview Magazine, em novembro de 1991

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

"Garoto Encontra Garoto" [Parte 1]: Interview Magazine/1991

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Por Paige Powell e Gini Sikes,


Em My Own Private Idaho, River Phoenix e Keanu Reeves interpretam um par de prostitutos adolescentes, cada um deles mais vítima do que abutre. Phoenix é um narcoléptico, Mike, que adormece perigosamente em momentos inoportunos enquanto ele procura incessantemente por sua mãe há muito perdida; Reeves é um fugitivo de sangue azul, Scott, que faz manobras como um ato de rebelião contra seu pai. "Idaho é a história de um menino rico que cai da colina e um menino das ruas", diz o roteirista e diretor, Gus Van Sant. "Eu vi um pouco da colina na personalidade de Keanu e um pouco da rua em River. Eles interpretaram as extensões deles mesmos."

Faz sentido que Phoenix e Reeves, que se uniram brevemente em Te Amarei Até Te Matar de Lawrence Kasdan, devam reaparecer juntos na penumbra da América de Van Sant. Embora ambos tenham estrelado sucessos mainstream - Phoenix em Stand by Me e Indiana Jones e a Última Cruzada e Reeves nas Bill e Ted - Uma Aventura Fantástica e Caçadores de Emoção, por exemplo - eles se especializaram em interpretar rebeldes. A rebeldia significou sucesso. Reeves como um Holden Caulfield maconheiro em River's Edge trouxe uma enxurrada de elogios que nunca se encerraram; o desempenho de Phoenix como o filho de radicais em O Peso de Um Passado lhe rendeu uma indicação ao Oscar aos dezessete anos.

Reeves é o primeiro a chegar para o jantar na Suíte 55 no Charteau Marmont na Sunset Boulevard. Ele parece um pouco atordoado por uma corrida - com os paparazzi em uma sessão de Hollywood. "Eu só parei minha moto para perguntar ao guarda, tipo, que filme estava passando", diz ele. "E de repente todos os caras em volta de mim estavam gritando, 'Keanu, olhe para cima!' 'Será que é ele?' 'De jeito nenhum, cara. Eu o fotografei lá.' Aquilo foi estranho."

Ele sorri, e depois se oferece para ralar algum queijo parmesão para a massa, primeiro perguntando que lado do ralador deve usar. Logo Phoenix aparece. Imediatamente, ele fica ao lado de Reeves na cozinha, descascando alho. Em poucos minutos, os dois fogem para a varanda. Phoenix acende um [cigarro] Camel. Ele ergue uma sobrancelha: "Não faz sentido,?" Então ele expira. "Eu sei. Eu deveria parar de fumar. "

De repente, ele e Reeves estão desligados, animadamente explorando a possibilidade de fazer Shakespeare juntos. Eles ficam cara a cara - Phoenix loiro, recém-clareado como parte de sua tentativa de interpretar o jovem Andy Warhol em um futuro filme biográfico de Van Sant, Reeves de cabelos escuros e bronzeado - como as imagens positiva e negativa um do outro. Eles sustentam suas brincadeiras durante toda a refeição, quando um interrompe o outro, mas apenas para completar seu pensamento.


GINI SIKES: Keanu, você disse que aceitou um papel em Idaho primeiro esperando que River fizesse o filme também.

KEANU REEVES: Não. Nós sempre estivemos juntos.

RIVER PHOENIX: Ele estava mentindo. Nós estávamos fazendo Te Amarei Até Te Matar, e nós dois tínhamos o roteiro de Idaho. Estávamos rodando em um carro pela Santa Monica Boulevard, provavelmente a caminho de um clube, e estávamos falando muito rápido sobre toda a idéia. Estávamos animados. Poderia ter sido como um sonho ruim - um sonho que nunca se segue, porque não tínhamos nos comprometido, mas acabamos nos forçando para dentro dele. Nós dissemos "O.K., eu vou fazê-lo se você fizer isso. Eu não vou fazê-lo se você não fizer." Apertamos as mãos. Foi isso.

PAIGE POWELL: River, quais foram os desafios que foram enfrentados ao retratar um personagem que sofre de narcolepsia? Quando vi pela primeira vez seus ataques narcolépticos no filme, no décimo de segundo isso poderia ter sido percebido como quadrinhos. Em seguida, eles pareciam dolorosos. É claro que eles saem do nada. Como você sabia como fazer isso?

PHOENIX: Principalmente das descrições de Gus sobre o que Jake fazia. Jake era um narcoléptico de Portland, que trabalhou comigo [sobre este aspecto do filme]. Eu passei muito tempo conversando com ele sobre o porquê da narcolepsia acontecer. Eu entendi completamente do ponto de vista médico e científico, eu pensei que eles não sabiam exatamente o que é isso. Mas quando eu estava com Jake, ele nunca teve um ataque de narcolepsia na minha frente. Depois que eu tinha feito alguns dos ajustes, Gus disse que eles eram exatamente do jeito que Jake tinha.

REEVES: Você acha que esse filme pode causar narcolepsia? Quer dizer, os pais devem tomar cuidado com seus filhos?

PHOENIX:
Eu definitivamente enfatizo que os telespectadores devem estar todos muito conscientes da natureza de captura da narcolepsia.


REEVES: No caso, os espectadores devem usar óculos especiais?

PHOENIX:
É como o eclipse. Se você olhar por muito tempo, você pode ter isso.

PP: Já que estamos falando sobre o tema da pesquisa, vocês dois saíram com os garotos de rua em Portland?

PHOENIX:
Totalmente.

REEVES: Sim, um pouco.

GS: Mas será que houve momentos em que vocês sentiram que pedir aos prostitutos de rua alguma informação era, de algum modo, explorá-los?

PHOENIX:
Eu acho que eles estavam lisonjeados de que sua história fosse contada.

REEVES: Não, cara. Eu não sinto que esta história é um conto contemporâneo da rua. Não é atual nos lugares ou na linguagem. A única forma desta história ser contemporânea está em um sentido mais amplo, em suas emoções e, talvez, no que se passa dentro de algumas pessoas.

PP: Não são as emoções atemporais?

REEVES: Exatamente. Mas eu estou falando sobre como elas se manifestam na linguagem, ou, sabe, em qualquer coisa que as pessoas estão fazendo. Só estou dizendo que este filme não representa a cena de rua de Portland.

PHOENIX:
Isso é muito verdadeiro. Se um garoto de Portland assistisse este filme, ele não pensaria que era a vida nas ruas de Portland. Mas nossa responsabilidade é ir tão fundo quanto podemos e explorar todas os sentidos que podem até mesmo ser sugeridos em um script. Só assim temos todas as bases cobertas. Nossa pesquisa extracurricular não era necessariamente necessária.

GS: Descreva como você andou pesquisando a vida dos prostitutos de rua.

PHOENIX: Eu entrei em contato com amigos de Gus que já estavam na rua, Scott e Gary. Gary morreu em um acidente de carro recentemente, pelo que ouvi, Deus abençoe sua alma. Ser anônimo também nos ajudou, eu acho.

GS: Eles não tinham idéia que vocês dois eram atores pesquisando para um papel?

PHOENIX:
Não, não. Era tudo no personagem. Nós estávamos apenas passando o tempo. Se eles pensaram alguma coisa, eles pensaram: 'Este é um outro gato que está tentando tomar o meu lugar na rua.' Houve um pouco de curiosidade, mas nunca qualquer hostilidade de ciúme. Porque é uma irmandade na rua, cara. Todos observando uns sobre os ombros dos outros. Porque ninguém quer ver ninguém ser esfaqueado.

GS: Então, nada foi criado?

PHOENIX: Alguns meninos de rua vieram para a casa de Gus, e nos conhecemos pessoas diferentes em lugares diferentes. Foi encenado nesse sentido. Mas a coisa real da rua foi só nós dois, trabalhando em nosso próprio tempo. Como guerrilheiros. [risos] Foi muito sensacional para nós. Eu pensei que nosso problema principal era descobrir se seríamos caras reais. A opção de Gus era usar caras de rua reais ou nós, então Keanu e eu sentimos um grande peso. Nós queríamos acreditar nesse script e resolver os problemas.

GS: Vocês dois são muito populares entre os adolescentes. Em particular, os adolescentes parecem se relacionar com você, Keanu, por causa de seu personagem em Bill e Ted. Houve algum tipo de preocupação em sua equipe, vinda de, digamos, seu agente ou gerente, que interpretar um garoto de programa prejudicaria sua "imagem"?

REEVES: Prejudicar minha imagem? Quem sou eu - um político? [ri suavemente] Não. Eu sou um ator. Isso não era um problema. Mas a filmagem foi uma experiência muito intensa. Eu tinha acabado de fazer Caçadores de Emoção e ainda estava no meu personagem. Eu me senti um pouco ansioso sobre Idaho. Fiquei impressionado com o que eu tinha que fazer - era como, 'Oh, não! Eu posso fazer isso?' Eu estava com medo. Mas Gus e River me fizeram caber dentro disso. Disse, "Vamos fazer um puta filme." Eu não sei sobre você, River, cara - mas fui apresentado a muitas coisas através do cara que eu estava interpretando. Pessoas reais. Minha imaginação. A interpretação de Gus. Shakespeare. Isso era rico! E era simplesmente sem fim, cara. Você poderia ir tão longe quanto você pudesse ir, sabe?

GS: Eu lembro de ter lido uma entrevista com Robert Downey Jr., depois de Less Than Zero, no qual ele disse que estava com medo que as pessoas o perseguissem por causa do seu personagem. Alguém já reagiu fortemente aos seus papéis?

PHOENIX:
Fodam-se eles. Isso é tudo que posso dizer. Um grande F e um U-C-K, e depois ELES. E-L-E-S.

REEVES: Receba esta dica, cara.

GS: Então você não recebeu nenhuma negativa...

PHOENIX:
Não. Eu recebo merdas negativas o tempo todo. Eu não me importo.

PP: Você acha que alguém teria aceitado esse script 10 anos atrás?

PHOENIX:
Estrelas pornôs, talvez. Como talvez um do grupo de Warhol.

PP: Joe Dallesandro?

PHOENIX:
Possivelmente um desses gatos.

Continua...


Fonte: Interview Magazine, em novembro de 1991

domingo, 6 de novembro de 2011

"River Phoenix: Rodando Num Set Cheio dos Ideais do Anos 60/80": Los Angeles Times/1988

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Por John Voland


Alimentado pelos ideais bem abertos da década de 1960 e temperado pela eficiência enlouquecida dos anos 80, River Phoenix, 18 anos, filho da Lua/homem, mostra influências de ambas as décadas em seu novo filme, O Peso de Um Passado, e em sua carne.

, em primeiro lugar, os olhos muito intensos do Phoenix adulto quando ele fala sobre a atuação e os negócios. Mas leve-o para as "questões da Terra", como o meio ambiente ou a política em geral, e a agenda da Era de Aquário aparece instantaneamente. E subjacente a isso tudo está a lembrança de que, apesar da fama e do dinheiro, 18 anos é uma idade especialmente vulnerável​​, insegura.

"Olá aí," Phoenix disse, inclinando-se em um pé e de pé perto de uma janela no Hotel Bel Age. "Hum, talvez pudéssemos fazer isso (ser fotografado) em uma estrada num desfiladeiro em algum lugar, onde tenha um monte de terra e não muitos carros em volta?" Mas ele rapidamente muda de idéia, se contentando com um lugar na varanda do quarto.

A coisa imediatamente na mente de Phoenix foi um vago mal-estar por ter sido do tipo moldado por anos como um jovem galã (como em Uma Noite na Vida de Jimmy Reardon) ou o seu típico adolescente americano (em Espiões Sem Rosto).

"Aquilo com que eu estive preocupado, tentando lutar contra," ele disse lentamente, "é ser pego em um tipo de peça, rotulado como um tipo particular de ator. Eu penso que os papéis que eu interpretei recentemente, aquele em O Peso de Um Passado (Running on Empty) lançado na sexta-feira, mostra a direção que eu desejo na minha cabeça: na ponta da saída da adolescência."

O Peso de Um Passado lança Phoenix como o filho de ativistas dos anos 60 (interpretados por Christine Lahti e Judd Hirsch), que bombardearam uma usina militar e está decidindo se sairá da clandestinidade. Embora John e Arlyn Phoenix nunca tenham lançado cocktails Molotov, eles são veteranos em passagens por comunidades religiosas, psicodelia e trabalho missionário na América do Sul durante os anos 60.

"Há uma ligação lá... Eu acho que talvez seja por isso que o script de O Peso... (escrito por Naomi Foner) me atraiu desde o início", disse Phoenix. "As preocupações destes pais são algo que eu conseguia visualizar meus próprios pais enfrentando, tendo que lidar com elas."

Phoenix fez uma pausa. "Meus pais também são a principal razão pela qual eu ainda estou conseguindo ter uma vida de um garoto", disse ele. "Quer dizer, eu poderia simplesmente ficar paralisado por toda essa atenção e que eu acho que é uma espécie de invasão na minha vida. As tentações para se rebelar, e para não produzir mais, estão sempre lá... Mas a família faz elas parecerem um espécie de ridículo. Quero dizer, não é que nós fomos criados com isso."

Em vez disso, uma unidade incomum na família Phoenix. E os nomes das crianças - River, Rainbow, Leaf, Liberty e Summer - além de toda a família, dão um testemunho fervoroso do vegetarianismo para a família experimental, de fundo não-tradicional.

Na varanda ao lado, Leaf Phoenix, de 13 anos (que, como a maioria das crianças Phoenix, é também um ator) riu da seriedade de seu irmão. River lançou-lhe um protótipo de carranca destruidora. "Veja, aquilo que realmente nós gostaríamos de fazer é ter divertimento o tempo todo, só brincar", ele continuou. "Mas, quando seus pais são também seus gerentes de negócios, a formação para se destacar assume um ângulo totalmente diferente." Ele balançou a cabeça. "Essa é a coisa, entende? Eu realmente quero ficar bom como ator. Eu quero crescer na profissão. E esse objetivo não deixa espaço para brincar muito."

Após um período de incerteza e nervosismo durante as filmagens de Jimmy Reardon e apenas depois disso, Phoenix pode estar muito mais perto de alcançar o seu desejo. Os críticos e habitantes da indústria estão igualmente elogiando sua atuação em O Peso de Um Passado, no qual ele interpreta um jovem músico ascendente que quer ficar com sua família fugitiva, mas também quer desenvolver o seu talento na Juilliard School of Music.

"Bem, eu só estou tentando aprender", disse Phoenix das boas avaliações. "Eu certamente não sou uma criatura egocêntrica que come tudo em seu caminho. Eu acho que eu sou teimoso sobre o que eu quero, no entanto. Aquilo que poderia ser isso. (Um grande suspiro.) Eu tento não entrar nesse jogo todo de poder. É muito perigoso para um garoto. Você acaba sendo isso, então é tudo o que você responde. Eu não preciso desse tipo de problema."

A etiqueta de jovem ator problemático, ganha ou não, certamente não está de acordo com a persona 'creme de pêssego' de Phoenix nas telas e seu ar pessoal de impulsividade lânguida. Ele parece ser um adolescente relativamente descontraído que fala na mesma medida de sistemas de crença panteísta e do desconforto de ser adorado por dezenas de milhares de meninas que ele nunca conheceu.

"Você quer dizer que há centenas de meninas por aí que realmente quer ter um encontro comigo?" Phoenix perguntou, contorcendo-se em seu assento. "Uau. Quer dizer, eu nunca realmente pensei nisso nesses termos. É como se houvesse uma arquibancada de futebol cheia de meninas que pensam que eu sou o melhor, sem saber nada sobre mim, pessoalmente..."

Ele se sentou e pensou nisso por um minuto. "Eu acho que é como ser uma estrela do futebol ou algo assim, mas ainda me deixa muito... nervoso, sabe? É como se todo mundo recebesse tudo isso através de uma imagem da qual não sabem nada a respeito. E se você é aquela imagem... Quer dizer, elas não sabem que eu sou um ator?"

(Para registrar, Phoenix e Martha Plimpton - com quem ele co-estrelou em 1986, ambos, A Costa do Mosquito e o atual O Peso de Um Passado - "ainda são os melhores amigos, e nós saímos muito... mas é nada demais", afirmou.)

Phoenix está claramente mais confortável falando sobre preocupações mais universais: a lenta devastação do meio ambiente, a morte de alfabetização e o papel da turbulenta década de 1960 em tudo isso. Ele está horrorizado com a maneira como o mundo está sendo gerenciado.

"Na verdade, eu acho que um monte das mentiras atuais no mundo nasceu nos tempos dos meus pais", disse ele seriamente, referindo-se à década de 1960. "Eu não quero dizer que, sabe, eles (as pessoas) eram mentirosos ou qualquer coisa assim. Mas eles estavam pensando uma coisa e, dez ou quinze anos mais tarde, fazendo algo completamente diferente, uma mudança de 180 graus, sabe? É assustador. Eu respeito os meus pais por terem permanecido mais próximos dos objetivos que eles formaram nos anos 60."

Phoenix fez uma pausa e suspirou. "Eu conheço muitas pessoas que tentam manter os ideais da época, mas então eles geralmente acabam se sentindo como hipócritas", continuou ele. "Eu só sinto que as coisas mudam e as pessoas mudam, e você só tem que se adaptar ao que está acontecendo na sua frente. E quais são os motivos das pessoas para defender a mudança, afinal? É rebelião rigorosamente, ou é apenas chamar a atenção? Você tem que observar as pessoas que prometem grandes mudanças."

Quando perguntado se o show business é um ambiente difícil para crescer, ele encolheu os ombros com sangue-frio do Phoenix adolescente-maduro. "Eu realmente não sei, eu realmente não tenho crescido nele da mesma forma como, oh, eu acho que Jackie Cooper ou aqueles caras mais velhos fizeram. Quer dizer, meus pais incentivaram todos nós a realizar e outras coisas. Mas a casa estava como há um universo de distância do set, ou do trailer do produtor, ou de qualquer lugar. E a casa vai ser sempre um refúgio contra o negócio, como na canção de Bob Dylan..."

E Phoenix, que raramente vai a algum lugar sem um violão e escreve músicas sempre que pode, começou a cantarolar a música de Dylan, "Shelter From the Storm"(Abrigo contra a Tempestade).

"Isso é um outro presente do passado, cara: a grande música", disse ele. "Se conseguirmos separar o que é ótimo sobre o passado e aplicá-lo ao presente, e deixar o futuro para a fé, eu acho... eu acho que você está muito bem cuidado."


Fonte: Los Angeles Times, em setembro de 1988

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

River Phoenix no Brasil/1992 [Parte 2]

"Bebeto e o ator norte-americano River Phoenix em uma confraternização na fazenda de Vaguinho. Três Pontas, MG – 1986"



Quando River Phoenix veio participar da ECO (Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento), em 1992, e aproveitou para passar férias aqui no Brasil, ele passou boa parte do seu tempo em Minas Gerais, cercado pelos amigos e pela família de Milton Nascimento.

Aqui, num raro registro, River aparece em Três Pontas/MG, num momento de confraternização na fazenda de amigos de Milton Nascimento. Há um erro evidente na data, pois o ano é 1992, não 1986.

Uma curiosidade: o Bebeto que aparece na foto ao lado de River é o amigo cuja história de amor inspirou a belíssima música "Paula e Bebeto", de Milton Nascimento e Caetano Veloso. Um trecho dela:

"Eles partiram por outros assuntos, muitos
 Mas no meu canto estarão sempre juntos, muito
 Qualquer maneira de amor vale o canto
 Qualquer maneira me vale cantar..."

Fonte: Museu Clube da Esquina