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Por John Voland
Alimentado pelos ideais bem abertos da década de 1960 e temperado pela eficiência enlouquecida dos anos 80, River Phoenix, 18 anos, filho da Lua/homem, mostra influências de ambas as décadas em seu novo filme, O Peso de Um Passado, e em sua carne.
Há, em primeiro lugar, os olhos muito intensos do Phoenix adulto quando ele fala sobre a atuação e os negócios. Mas leve-o para as "questões da Terra", como o meio ambiente ou a política em geral, e a agenda da Era de Aquário aparece instantaneamente. E subjacente a isso tudo está a lembrança de que, apesar da fama e do dinheiro, 18 anos é uma idade especialmente vulnerável, insegura.
"Olá aí," Phoenix disse, inclinando-se em um pé e de pé perto de uma janela no Hotel Bel Age. "Hum, talvez pudéssemos fazer isso (ser fotografado) em uma estrada num desfiladeiro em algum lugar, onde tenha um monte de terra e não muitos carros em volta?" Mas ele rapidamente muda de idéia, se contentando com um lugar na varanda do quarto.
A coisa imediatamente na mente de Phoenix foi um vago mal-estar por ter sido do tipo moldado por anos como um jovem galã (como em Uma Noite na Vida de Jimmy Reardon) ou o seu típico adolescente americano (em Espiões Sem Rosto).
"Aquilo com que eu estive preocupado, tentando lutar contra," ele disse lentamente, "é ser pego em um tipo de peça, rotulado como um tipo particular de ator. Eu penso que os papéis que eu interpretei recentemente, aquele em O Peso de Um Passado (Running on Empty) lançado na sexta-feira, mostra a direção que eu desejo na minha cabeça: na ponta da saída da adolescência."
O Peso de Um Passado lança Phoenix como o filho de ativistas dos anos 60 (interpretados por Christine Lahti e Judd Hirsch), que bombardearam uma usina militar e está decidindo se sairá da clandestinidade. Embora John e Arlyn Phoenix nunca tenham lançado cocktails Molotov, eles são veteranos em passagens por comunidades religiosas, psicodelia e trabalho missionário na América do Sul durante os anos 60.
"Há uma ligação lá... Eu acho que talvez seja por isso que o script de O Peso... (escrito por Naomi Foner) me atraiu desde o início", disse Phoenix. "As preocupações destes pais são algo que eu conseguia visualizar meus próprios pais enfrentando, tendo que lidar com elas."
Phoenix fez uma pausa. "Meus pais também são a principal razão pela qual eu ainda estou conseguindo ter uma vida de um garoto", disse ele. "Quer dizer, eu poderia simplesmente ficar paralisado por toda essa atenção e que eu acho que é uma espécie de invasão na minha vida. As tentações para se rebelar, e para não produzir mais, estão sempre lá... Mas a família faz elas parecerem um espécie de ridículo. Quero dizer, não é que nós fomos criados com isso."
Em vez disso, há uma unidade incomum na família Phoenix. E os nomes das crianças - River, Rainbow, Leaf, Liberty e Summer - além de toda a família, dão um testemunho fervoroso do vegetarianismo para a família experimental, de fundo não-tradicional.
Na varanda ao lado, Leaf Phoenix, de 13 anos (que, como a maioria das crianças Phoenix, é também um ator) riu da seriedade de seu irmão. River lançou-lhe um protótipo de carranca destruidora. "Veja, aquilo que realmente nós gostaríamos de fazer é ter divertimento o tempo todo, só brincar", ele continuou. "Mas, quando seus pais são também seus gerentes de negócios, a formação para se destacar assume um ângulo totalmente diferente." Ele balançou a cabeça. "Essa é a coisa, entende? Eu realmente quero ficar bom como ator. Eu quero crescer na profissão. E esse objetivo não deixa espaço para brincar muito."
Após um período de incerteza e nervosismo durante as filmagens de Jimmy Reardon e apenas depois disso, Phoenix pode estar muito mais perto de alcançar o seu desejo. Os críticos e habitantes da indústria estão igualmente elogiando sua atuação em O Peso de Um Passado, no qual ele interpreta um jovem músico ascendente que quer ficar com sua família fugitiva, mas também quer desenvolver o seu talento na Juilliard School of Music.
"Bem, eu só estou tentando aprender", disse Phoenix das boas avaliações. "Eu certamente não sou uma criatura egocêntrica que come tudo em seu caminho. Eu acho que eu sou teimoso sobre o que eu quero, no entanto. Aquilo que poderia ser isso. (Um grande suspiro.) Eu tento não entrar nesse jogo todo de poder. É muito perigoso para um garoto. Você acaba sendo isso, então é tudo o que você responde. Eu não preciso desse tipo de problema."
A etiqueta de jovem ator problemático, ganha ou não, certamente não está de acordo com a persona 'creme de pêssego' de Phoenix nas telas e seu ar pessoal de impulsividade lânguida. Ele parece ser um adolescente relativamente descontraído que fala na mesma medida de sistemas de crença panteísta e do desconforto de ser adorado por dezenas de milhares de meninas que ele nunca conheceu.
"Você quer dizer que há centenas de meninas por aí que realmente quer ter um encontro comigo?" Phoenix perguntou, contorcendo-se em seu assento. "Uau. Quer dizer, eu nunca realmente pensei nisso nesses termos. É como se houvesse uma arquibancada de futebol cheia de meninas que pensam que eu sou o melhor, sem saber nada sobre mim, pessoalmente..."
Ele se sentou e pensou nisso por um minuto. "Eu acho que é como ser uma estrela do futebol ou algo assim, mas ainda me deixa muito... nervoso, sabe? É como se todo mundo recebesse tudo isso através de uma imagem da qual não sabem nada a respeito. E se você é aquela imagem... Quer dizer, elas não sabem que eu sou um ator?"
(Para registrar, Phoenix e Martha Plimpton - com quem ele co-estrelou em 1986, ambos, A Costa do Mosquito e o atual O Peso de Um Passado - "ainda são os melhores amigos, e nós saímos muito... mas é nada demais", afirmou.)
Phoenix está claramente mais confortável falando sobre preocupações mais universais: a lenta devastação do meio ambiente, a morte de alfabetização e o papel da turbulenta década de 1960 em tudo isso. Ele está horrorizado com a maneira como o mundo está sendo gerenciado.
"Na verdade, eu acho que um monte das mentiras atuais no mundo nasceu nos tempos dos meus pais", disse ele seriamente, referindo-se à década de 1960. "Eu não quero dizer que, sabe, eles (as pessoas) eram mentirosos ou qualquer coisa assim. Mas eles estavam pensando uma coisa e, dez ou quinze anos mais tarde, fazendo algo completamente diferente, uma mudança de 180 graus, sabe? É assustador. Eu respeito os meus pais por terem permanecido mais próximos dos objetivos que eles formaram nos anos 60."
Phoenix fez uma pausa e suspirou. "Eu conheço muitas pessoas que tentam manter os ideais da época, mas então eles geralmente acabam se sentindo como hipócritas", continuou ele. "Eu só sinto que as coisas mudam e as pessoas mudam, e você só tem que se adaptar ao que está acontecendo na sua frente. E quais são os motivos das pessoas para defender a mudança, afinal? É rebelião rigorosamente, ou é apenas chamar a atenção? Você tem que observar as pessoas que prometem grandes mudanças."
Quando perguntado se o show business é um ambiente difícil para crescer, ele encolheu os ombros com sangue-frio do Phoenix adolescente-maduro. "Eu realmente não sei, eu realmente não tenho crescido nele da mesma forma como, oh, eu acho que Jackie Cooper ou aqueles caras mais velhos fizeram. Quer dizer, meus pais incentivaram todos nós a realizar e outras coisas. Mas a casa estava como há um universo de distância do set, ou do trailer do produtor, ou de qualquer lugar. E a casa vai ser sempre um refúgio contra o negócio, como na canção de Bob Dylan..."
E Phoenix, que raramente vai a algum lugar sem um violão e escreve músicas sempre que pode, começou a cantarolar a música de Dylan, "Shelter From the Storm"(Abrigo contra a Tempestade).
"Isso é um outro presente do passado, cara: a grande música", disse ele. "Se conseguirmos separar o que é ótimo sobre o passado e aplicá-lo ao presente, e deixar o futuro para a fé, eu acho... eu acho que você está muito bem cuidado."
Fonte: Los Angeles Times, em setembro de 1988