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Por Dan Yakir
Poeirento e desgrenhado, River Phoenix conta como, em Indiana Jones, ele arriscou-se numa vida de aventura.
River Phoenix já percorreu um longo caminho desde sua estréia como garoto prodígio nerd em
Viagem ao Mundo dos Sonhos. Com desempenhos aclamados em
Conta Comigo, A Costa do Mosquito e O Peso de Um Passado, o ator de 19 anos de idade parece claramente destinado a uma carreira impressionante. Mas, para além dos elogios da crítica, Phoenix pode muito bem ocupar um lugar na cultura do cinema com seu retrato do jovem Indiana Jones em
Indiana Jones e a Última Cruzada, de Steven Spielberg. É uma participação, se breve, uma performance que exige do ator enfrentar cobras, sair ileso da jaula de um leão e sobreviver a um ataque de rinoceronte, todos na tradição de seu eu adulto, como retratado por Harrison Ford. Se Spielberg mudar de idéia sobre fazer mais um capítulo da saga, futuramente, este filme pode ser o canto do cisne de Indy, e Phoenix poderia emergir como o principal candidato para o papel. Entretanto, o ator está assumindo novos riscos com a bizarra comédia de humor negro de Lawrence Kasdan,
Te Amarei Até Te Matar, com Kevin Kline, Tracy Ullman, William Hurt e Keanu Reeves.
STARLOG: Como você descreveria o seu papel em
A Última Cruzada?
PHOENIX: É toda uma ação ininterrupta... correndo e pulando, girando e torcendo, caindo, pulando, encontrando e fugindo dos bandidos - todo o tipo de coisa. Ele está dentro e sobre um trem de circo, fazendo coisas. É uma pequena parte - somente 10 minutos no início do filme, mas eu gostei muito.
STARLOG: Qual foi o desafio especial em fazer este filme?
PHOENIX: Eu fiz um monte de acrobacias porque me sentia muito no personagem e que ele tinha a fazer era físico. Seria mentir ter alguém para fazer as acrobacias.
STARLOG: Como você entra em um papel? Você interpreta a si mesmo e empresta suas características próprias ao personagem e depois segue com o script? Ou você realmente tenta se transformar em alguém e sentir os seus sentimentos?
PHOENIX: Você não pode simplesmente acordar na manhã seguinte e ser o personagem, por isso é um processo lento. Eu começo por me descartar de quem eu sou, por pensar mais neutro. Você tem que neutralizar a si mesmo antes de se tornar outro personagem. Eu me torno não-dogmático, recusando-me a pensar a partir da perspectiva de River e, então lentamente, eu adiciono características e começo a pensar da forma como o personagem pensaria. Eu fantasio ser o personagem e eu faço jogos mentais comigo até que a transição ocorra.
STARLOG: Como você trabalhou para interpretar o jovem Indy?
PHOENIX: Eu simplesmente tratei de observá-lo [Harrison Ford] e não imitá-lo, mas sim interpretá-lo mais jovem. Imitação é um erro terrível que muitas pessoas cometem quando elas interpretam alguém mais jovem, ou com uma diferença de idade. Imitar não é interpretar de verdade, porque você não pode simplesmente editar algo em torno disso.
STARLOG: Como foi trabalhar com Spielberg pela primeira vez, e com Harrison Ford pela segunda?
PHOENIX: Foi ótimo ver novamente Harrison e Steven é um prazer, um grande cara para se trabalhar.
STARLOG: Harrison Ford foi tão amigável quanto ele foi em
A Costa do Mosquito?
PHOENIX: Oh, sim. Ele foi ótimo. Ele estava lá para me ajudar. Ele esteve interpretando Indiana Jones por tanto tempo.
STARLOG: Que tipo de relacionamento que você teve com ele em
A Costa do Mosquito?
PHOENIX: Harrison é muito pé no chão. Eu li que ele é frio, mas ele é realmente muito caloroso, só que na posição dele você tem tantas pessoas falsas tentando cavar em volta que você tem que ter uma armadura por cima. Ele é um homem muito, muito bom, sábio e prático. Seus ideais são muito práticos, lógicos. Aprendi muito com ele. A maior coisa sobre Harrison é que ele faz parecer tão fácil atuar, ele é tão casual e tão resistente. Eu tive um ótimo momento (trabalhando com ele). Nós lidamos um com o outro em um nível muito honesto. Eu entendi de onde ele estava vindo, e eu acho que ele entendeu de onde eu estava vindo. Eu não acho que eu o perturbei. Eu não fiz perguntas a ele o tempo todo, em
Indiana Jones.
STARLOG: Você sente que você pode tomar o lugar de Ford em algum momento?
PHOENIX: Eu não acho que alguém (além dele) poderia fazer jus ao personagem de Indiana Jones. A produção sem Harrison nunca seria tão boa. Eu acho que deve permanecer do jeito que ele fez isso.
STARLOG: Você ganhou uma indicação ao Oscar por
O Peso de Um Passado.
PHOENIX: Eu penso que de alguma forma que eu estou sendo desafiado, que existem grandes mentes lá em cima que gostariam de ver o que eles podem fazer com uma indicação ao Oscar. Eu acho que muita gente iria mudar na forma como eles vêem as coisas depois de uma nomeação. No meu caso, é realmente irrelevante em termos do que eu faço. Ainda assim, foi uma experiência incrível que vou colocar nas minhas memórias, como todo o resto.
STARLOG: Parece que você continua desafiando a si mesmo. Após
Espiões Sem Rosto e O Peso de Um Passado você disse que queria parar de interpretar vítimas por um tempo, e depois que você fez
A Última Cruzada e Te Amarei Até Te Matar.
PHOENIX:
Te Amarei Até Te Matar é sobre o dono de uma pizzaria que corre por aí atrás de mulheres, até que sua esposa - com a ajuda de seus cozinheiros - tenta matá-lo. Eles tentam cinco vezes e ele sobrevive e eles ficam juntos novamente. É uma espécie de "como tentar matar o seu marido e salvar seu casamento", mas é baseado em uma história real. Eu interpreto Devo, um cozinheiro que é muito místico, dentro da filosofia oriental. Eu sou o intermediário, que ajuda a organizar os atos extremos que acontecem no filme.
STARLOG: Qual é o propósito de toda esta trama? Ganância? Travessura?
PHOENIX: Apenas desvio de curso, simples inclinação, espírito visionário, pessoas que acham difícil fazer uma distinção entre realidade e fantasia. É emocional e até mesmo moral, ainda que seja tão sombrio. Eles são todos vítimas da ignorância, de um extremo - uma mentalidade completamente diferente.
STARLOG: É muito diferente do que você fez antes. Qual é o desafio especial aqui?
PHOENIX: Como falamos, Devo está saltando fora dos muros onde quer que eu vá e é muito difícil me deixar de fora e abrir meus olhos.
STARLOG: Será este mais um personagem a assumir o controle sobre você?
PHOENIX: Não, não é tão sensacional. É mais no sentido de fazer exatamente o que o personagem deve fazer: ter uma zona cinzenta entre a realidade e a fantasia. Você realmente não sabe onde você está e você age por instinto ou impulso e acha que talvez o que os personagens do filme fazem seja mais extremo do que aquilo que eles estão punindo. Veja, Devo é excessivamente tomado pelos detalhes da vida, até o ponto onde ele não consegue ver o quadro geral.
STARLOG: Por outro lado, você parece muito consciente do mundo ao seu redor.
PHOENIX: Eu sou completamente apaixonado pela raça humana e por este planeta em que vivemos e vejo a vida como jovem e bela, não porque "eu tenho o mundo em minhas mãos", mas porque é simplesmente a minha realidade. Eu também fico muito frustrado com o ritmo de vida e a forma como o mundo anda. Eu quero que as pessoas se comuniquem melhor uns com os outros. Com toda essa tecnologia atual, isso é o melhor que podemos fazer? É deprimente. Mas há também um lado otimista em mim que acredita que vivemos em uma época incrível e que se todos nós nos unirmos sobre as questões importantes e lutarmos por nossos direitos, como Bob Marley disse, poderemos realmente realizar muito.
STARLOG: O que seria isso para você?
PHOENIX: Uma coisa que eu gostaria de fazer quando eu tiver dinheiro para isso é comprar milhares de hectares da floresta tropical brasileira e fazer um parque nacional, de modo que ninguém possa destruí-la para colocar um McDonald's lá. Eu acho que as pessoas encontram segurança em um Big Mac, mas isso é nosso oxigênio! E o abate em massa de animais é uma abordagem "cocô de galinha". Eu não posso compreender o agricultor que cria a vaca e, em seguida, rasga sua garganta para comê-la.
STARLOG: Você oferece um modelo positivo para os jovens, não só pela força dos ideais que defende, mas, em um nível diferente, pelos personagens que você interpreta. Isto será provavelmente será maior do que antes por causa do jovem
Indiana Jones.
PHOENIX: Sim, mas me irrita que nesta sociedade em que estamos sejamos ensinados, desde a mais tenra idade, assistindo televisão, a engolir idéias preconcebidas sobre o que é o homem ideal ou a mulher ideal. É preconceito, realmente. Muitas pessoas conseguem superá-lo, mas muitos permanecem oprimidos, se não estiverem satisfeitos com sua aparência, se eles não se parecem com Robert Redford. É uma pena, porque não deveria ser assim. Quando eu era jovem, eu estava preocupado sobre como os outros me viam e se eu era bom o bastante. Percebo agora que você não pode moldar uma imagem ou tentar ser algo que você não é. No que diz respeito a ser um ator, o seu trabalho fala por si mesmo.
Fonte: Starlog, em outubro de 1989