PARTE 3
Por Kellie M. Walsh, em 21 de setembro de 2009
Eu não conhecia River Phoenix. Eu não sabia nada sobre sua vida ou as circunstâncias dela, exceto o pouco que eu tinha lido em revistas. No entanto, eu me senti confortável, justa mesmo, para julgá-lo não por quem ele era, mas por quem eu achava que ele era, por quem eu esperava que ele fosse baseada apenas em informações pobremente recolhidas quando ele era um adolescente. Phoenix tinha crescido, mas a minha percepção dele não tinha crescido com ele. Nem tinha um monte de manchetes.
Se eu soubesse o que sei agora, talvez eu não tivesse sido tão dura. Eu não tinha visto como ele tinha passado a mentir em entrevistas em formas fantásticas ou como sua sensibilidade e cortesia típicas tinham sido largamente substituídas pelo desprezo e desdém. Eu não sabia que seu uso de drogas era um segredo conhecido em Hollywood. Eu ainda não tinha convivido com o vício de um amigo próximo. Se eu soubesse melhor, talvez eu tivesse sido mais gentil. Talvez eu não tivesse ficado tão chocada.
River Phoenix pisou na bola. Ele realmente, realmente vacilou. Ele tinha 23 anos de idade, e ele tomou uma decisão ruim, e essa má decisão lhe custou a vida. Eu não acho que ele levou isso em consideração, antes; acho que ele só agiu. Como a maioria dos jovens de 23 anos e a maioria dos viciados, ele não pensou, ele simplesmente fez.
Eu retiro a sua responsabilidade? Não. Querendo ou não, ele considerou os resultados possíveis, ele carregou a arma, colocou em sua cabeça, e puxou o gatilho. Mas também acho que se deu ênfase demais em resposta. Belushi preparou o seu caminho para uma morte prematura; Cobain, literalmente, colocou uma arma na sua cabeça; mas Phoenix desrespeitou a expectativa popular, e ao fazê-lo, foi em grande parte esquecido. Apesar de todo o elogio da crítica aos seus talentos, apesar de todas as dedicatórias e homenagens que se seguiram por meses depois, hoje Phoenix é reduzido a um aleijado, uma piada de mau gosto em um episódio de Family Guy. Sua morte ofuscou sua vida.
Eu li muito sobre Phoenix nas últimas semanas. Eu sei mais sobre ele agora do que eu jamais soube enquanto ele estava vivo, mas eu ainda não sei realmente quem era River Phoenix. Depois de ler e ouvir pessoas próximas a ele falarem, eu não tenho certeza se muitos deles realmente sabem. Mas, como a co-estrela e ex-namorada Martha Plimpton apontou, Phoenix não era uma metáfora ou um Messias: "Ele era apenas um menino, um menino de muito bom coração, que estava muito fodido e não tinha idéia de como implementar suas boas intenções."
Logo no início, Phoenix se tornou o garoto propaganda do idealismo e da vida saudável, e ele simplesmente não conseguia afastar essa reputação. O mundo queria que ele fosse um ícone; em vez disso, teve um anti-herói, uma série de contradições que Ian Parker adequadamente descreveu em The Independent como "o usuário de drogas de vida saudável ... a estrela infantil com sex appeal, o filho milionário de pais não-materialistas, o ator que na verdade queria ser um músico, o vegan que comia barras de chocolate, o estudante que largou os estudos e podia sapatear, e o sábio que não sabia quase nada."
Em outras palavras, Phoenix era humano. Quando eu tinha 18 anos, e por um longo tempo depois, eu não levei isso em consideração. Como um amigo meu sugeriu, quando Phoenix morreu, eu reagi como se ele fosse um adulto. Agora, olhando para trás, percebo que ele era apenas mais um garoto estúpido.
Eu sinto falta daquele garoto estúpido.
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Quando eu olho para trás, para aquele filme sentimental, meloso, que veio a definir a minha adolescência ou para a ode lírica a um confuso andarilho narcoléptico, eu sinto falta dele. Eu sinto falta do que ele era. Eu sinto falta do que ele fez. Eu sinto falta do que eu imagino que ele poderia ter se tornado. My Own Private Idaho foi uma conquista monumental, mas Phoenix ainda estava em gestação. Ele ainda não tinha dado um grande desempenho. Ele ainda não tinha estrelado um grande filme.
Eu não era uma fã ativa de River Phoenix. Às vezes, eu nem sequer gostava dele. Eu o odiava por ser perfeito, depois eu o odiei quando ele mostrou não sê-lo. Ele simplesmente não conseguia me agradar.
Mas, sem que ele soubesse, Phoenix e eu crescemos juntos. Nós tivemos brigas; tivemos tréguas. Participamos de dezenas de festas do pijama. Mais tarde, ficamos bêbados; nos drogamos. Tivemos alguns bons momentos. Nós nunca nos conhecemos, mas eu reagi a sua morte tão pessoalmente e tão visceralmente como se o tivéssemos. River Phoenix teve um papel mais significativo em algumas das minhas mais preciosas memórias de infância do que algumas das pessoas que eu realmente conhecia, e quando ele morreu, aquele garoto bonito com o cabelo perfeito e o nariz arrebitado que costumava me irritar, levou um pedaço de minha infância com ele.
Fonte: Pop Matters, em setembro de 2009