De Volta à Idaho: o diretor Gus Van Sant revisita My Own Private Idaho para a estréia tão esperada do DVD do filme nos EUA
Por David Ehrenstein,
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My Own Private Idaho, o conto de amor não correspondido de Gus Van Sant, que contou com River Phoenix e Keanu Reeves em sua carreira fazendo performances como prostitutos, foi relançado em DVD pela Criterion Collection. Como de costume com esta notável empresa, esta edição-deluxe de Idaho está repleta de extras, incluindo um documentário making-of, várias cenas excluídas, e dois comentários em áudio - uma conversa entre Van Sant e seu companheiro autoral do "novo cinema gay" Todd Haynes, o outro um intercâmbio incluindo J.T. LeRoy (que escreveu o primeiro rascunho de Elephant de Van Sant) e Jonathan Caouette da sensação Tarnation, para quem Idaho foi uma experiência definitiva para um freqüentador de cinema.
Quando eu conheci o Gus Van Sant, em meados de 1980, My Own Private Idaho era o seu projeto de sonho em construção, quase utópico, por seu descarado (e nesse ponto sem precedentes) retrato de amor do mesmo sexo. Então, um dia, em 1989 ...
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Quando eu conheci o Gus Van Sant, em meados de 1980, My Own Private Idaho era o seu projeto de sonho em construção, quase utópico, por seu descarado (e nesse ponto sem precedentes) retrato de amor do mesmo sexo. Então, um dia, em 1989 ...
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EHRENSTEIN: Eu trabalhava na Variety na época, e você entrou e me disse que iria fazer Idaho e que você conseguiria Phoenix e Reeves. Eu mal podia acreditar, mas você parecia certo disso. Naquela época era muito incomum para os atores de renome desempenharem papéis gays.
VAN SANT: Bem, eu apenas tinha certeza. Keanu foi mais fácil de encontrar, e ele queria fazer isso logo de cara. River foi mais cauteloso. Ele continuou circulando em volta disso. Eu não sabia que ele finalmente tinha concordou até que eu soube que ele estava recusando outros filmes para fazer o meu.
EHRENSTEIN: Era tão incomum fazer uma espécie de documentário tipo drama sobre prostitutos que, de repente se transforma em Henry IV de Shakespeare. Agora Idaho é uma espécie de lenda, por causa do River e porque ninguém nunca fez nada assim desde então - especialmente a cena da fogueira na qual Mike [Phoenix] declara seu amor por Scott [Reeves].
VAN SANT: Eu estava usando histórias de outras pessoas para os meus filmes. Mala Noche era a história de [roteirista] Walt Curtis; Drugstore Cowboy era a história do [romancista] James Fogle. Idaho era tudo saindo de mim, exceto pelo Shakespeare - é por isso que algumas pessoas ficaram horrorizadas. Lembro-me que [o falecido ator] Paul Bartel não gostou do material de Henry IV.
EHRENSTEIN: Paul poderia ter estado em Idaho.
VAN SANT: Sim, ele poderia ter sido Bob Pigeon [interpretado por William Richert], o personagem Falstaff. Ele teria sido ótimo. Mas ele estava tentando me dar uma opinião honesta. Ele realmente achava que era isso fantástico, até que chegou a Shakespeare, que era um 180º completo para ele. Por outro lado, [o diretor] John Boorman me disse que a primeira parte foi menos interessante do que quando atingiu a parte de Shakespeare.
EHRENSTEIN: Fora Perdidos na Noite, não houve um filme sobre homens se prostituindo como este. Você conhece Cidade da Noite [romance de John Rechy de 1963], certo?
VAN SANT: Idaho teve versões anteriores que eram sobre Hollywood Boulevard, em vez de Portland [Oregon], onde ele ocorre. Então eu li Cidade da Noite, e eu pensei que seria melhor abandonar isso porque eu não sabia do que eu estava falando. Rechy tinha vivido isso. Ele gostava de Idaho. Eu mesmo pensei em fazer Cidade da Noite. Há um roteiro, mas é bastante difícil.
River na estréia de My Own Private Idaho no Japão
EHRENSTEIN: Eu sempre achei fascinante que Idaho tenha estreado no Japão.
River na estréia de My Own Private Idaho no Japão
EHRENSTEIN: Eu sempre achei fascinante que Idaho tenha estreado no Japão.
VAN SANT: De alguma forma, ele foi lançado lá antes de todos os outros lugares, porque eu acho que os japoneses iriam pelo River. A platéia era toda de meninas de 14 anos de idade. Fiquei desapontado, até me foi dito que aqueles eram os árbitros da sua cultura. E que esse era um bom sinal.
EHRENSTEIN: Eu amo que você está se reunindo com Todd para falar sobre isso no DVD. Uma vez que que ambos vivem em Portland, há um projeto que vocês dois estejam planejando?
VAN SANT: Bem, nós dois somos muito metódicos e não simplesmente atiramos coisas fora. Eu estou começando meu novo filme, Os Últimos Dias, pronto para o lançamento, e Todd está trabalhando em seu roteiro de Bob Dylan. Mas nós deveríamos nos reunir em alguma coisa algum dia. Ele poderia fazer uma metade, e eu poderia fazer a outra. Isso seria realmente ótimo.
Fonte: The Advocate, em abril de 2005